15. Ruth

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Ruth pega uma pequena faca, colocando no cinto de utilidades que parecia estranho ao uniforme. Pega a arma dentro da caixa e coloca a munição, com um olhar triste. Coloca a arma no coldre e começa a separar a arma e munição de Hugo.

 - Você não parece... Bem. - diz Laura, se aproximando. Ela já está com o cinto, o coldre, a munição, as facas. Laura, sempre eficiente.

 - Não estou confiante no modo como as coisas estão indo. - diz Ruth.

 - Com tudo isso, nem eu. - diz Laura.

Ruth morde o lábio.

 - Laura... Ela trancou o Lucas lá dentro... A gente não sabe o que aconteceu. Por que ela estava no chão com o mecânico? Por que a gente tem que se armar contra a tripulação?

 - Parece que você está contra ela. - diz Laura.

 - Eu não estou contra ela. - retruca Ruth. Ela olha para Laura, mas seu olhar está perdido, sua mente em outro lugar. - Não desse jeito.

Os corredores da nave estão silenciosos. Na Navegação, Wilson está andando de um lado para o outro; Tomas está sentado na poltrona de Wilson em frente aos painéis e Léo está no chão, falando.

 - ... E então eu me joguei para fora com a capitã e as portas se fecharam... - ele para, olhando as paredes. O rosto de Lucas derretendo, se desfazendo enquanto algo avançava por sua pele sobre os frames vermelhos... - Ele está morto e não é só a palavra dela. É a minha também.

Wilson para de andar e olha para ele, um olhar de ódio e quase nojo.

 - Sério? É só isso que tem a dizer?

Léo e Tomas o encaram.

 - E ele vai ficar lá apodrecendo até chegarmos em Marte? E os colonos? Estamos com medo de uma bactéria, um... Um musgo?

 - O musgo matou o nosso amigo, não sei se você ouviu. - diz Tomas. - Ela foi sensata por colocar em quarentena, ninguém entra então ninguém é colocado em risco.

 - Ninguém exceto os colonos. - retruca Wilson. - Que são a nossa missão. E além disso, como Lucas foi infectado por essa coisa? Um cientista que vem para o espaço não seria tão estúpido.

 - Foi um erro. - diz Tomas.

 - NÓS NÃO COMETEMOS ERROS! - Wilson olha para ele. - Foi por isso que nós passamos pela merda de um TREINAMENTO!

Os outros dois ficam em silêncio. Há uma batida na porta e Wilson vira a cabeça para olhar, encontrando Ruth parada. Ela não ousa entrar. Wilson a olha de cima abaixo e um riso irônico lhe sai dos lábios.

 - É claro... Agora eles estão armados também.

Tomas se levanta, atento. Ruth levanta as mãos:

 - Eu não vim brigar com vocês. Eu quero falar com o mecânico.

Wilson e Tomas olham para Léo. Ele engole em seco e balança a cabeça, já esperando que Sara o tenha chamado novamente. Sai da Navegação, e quando a porta fecha atrás dos dois, olha para Ruth. Ela o olha por um tempo, sem dizer nada. Ao fim, ela suspira.

 - Você vai negar o que eu vou pedir, então terei que lhe dar uma ordem. Eu quero o seu crachá.

 - ... É... Quê?

Ruth o puxa para o lado, encostando-o numa parede.

 - Escuta... A situação entre a capitã e vocês não está boa. - ela indica a arma com a cabeça. - E deixar Lucas lá e só dizer que ele morreu não vai ser o suficiente. Não depois de...

Ela não termina. Mas ele sabe do que ela está falando.

 Léo comprime os lábios e olha ao redor. Arriscar ser expulso, perder toda sua carreira, apenas para melhorar a situação entre as equipes? Ele olha para a porta da Navegação e lembra do modo como Wilson avançou em Sara, pela segunda vez pelo que ele sabia. Volta a olhar para Ruth.


As botas de Onyx vêm e vão pela Enfermaria enquanto ela anda, de um lado para o outro, contorcendo as mãos. Seu rosto está preocupado, marcado por lágrimas e os olhos vermelhos. Para, em meio à sala, e olha ao redor.

 - Onyx.

É Ruth à porta. Ela percebe o olhar de Onyx baixar diretamente para a arma em sua cintura.

 - O que você quer?

A voz de Onyx está engrolada, como alguém que acabara de chorar, e ela passa o braço pelo rosto para secar as lágrimas. Ruth entra e abre os braços. Onyx a olha, sem saber o que expressar, e então vai em sua direção e a abraça. Não há mais razão para segurar, ela logo começa a chorar novamente, nem se importando se está alto demais. Ruth aconchega Onyx no abraço, enquanto acaricia sua cabeça. Em sua outra mão, o crachá de Léo reluz.

[RECADO DO AUTOR: Wilson tem ficado violento, mas não sei se posso culpar ele. Só que... por quê toda essa desconfiança do Exército? Ruth tem mostrado que não segue exatamente todas as regras de Sara, ela vê as ordens por outro ângulo... Talvez ela seja o que Sara precisa para se aproximar da tripulação].

AMONG US - A tramaWhere stories live. Discover now