AMONG US - A trama

4. Carol

Sentada em frente à um dos computadores da administração, a Tenente Sara pigarreia. Tamborila os dedos na mesa e respira fundo.

- Tenente Sara, relatório. Estamos há vinte dias de Marte. A tripulação acordou bem. Sem baixas. Até o momento, a nave está em perfeito funcionamento. Um membro da equipe da NewSpace, o navegador Wilson Terrio, teve reações ao despertar. O restante da equipe, assim como a equipe militar, não apresenta qualquer reação.

A porta da Administração se abre, chamando sua atenção. Ela aperta um dos botões no visor, enquanto Sol entra na sala. A Capitã percebe o que ela estava fazendo, mas não comenta. Pousa o tablet sobre a mesa e se senta.

- Não se incomode comigo. Pode continuar o relatório.

- Já parece estúpido fazer isso assim que acorda... Com outra pessoa olhando, então...

Sol assente.

- Então... Nada de tão importante até agora?

- Bom, Wilson teve reações bem fortes. Ele pediu para se retirar e coloquei a Laura no lugar dele. Parece que acabamos pulando a parte de desinfetar a  Cafeteria antes de usar... - Sara sorri. - Mas isso não é tão drástico.

Sol está sorrindo também.

- Esse regulamento... As vezes não faz sentido algum... O que a Onyx deu para o Wilson?

- Ela o medicou e também deu uma dose de sonífero. Para auto-aplicação. Acho que vai ajudar ele a dormir, e esperamos que o corpo volte a funcionar normalmente.

- Ótimo...

Sol tira o crachá e passa num leitor na mesa. Um holograma surge sobre a mesa, perfeitamente mostrando a M09-2140 e os elementos celestes ao redor dela. Sol diminui a escala, até conseguir ver Marte.

Sara observa o holograma. Seus olhos baixam para o crachá de Sol, e percebe que há uma foto com ele, de uma garotinha.

- É a sua filha?

- Sim, é a Carol. - Sol pega o crachá, olhando para a foto da filha. - Pedi para colocarem, já que não ia atrapalhar a leitura.

- Ela é linda...

- Você também.

Sara encara Sol. A Capitã está observando a rota da nave no holograma. Dá de ombros.

- Desculpa... Não podia não dizer...

Sara sorri, sem jeito, mas então percebe uma mudança na Capitã. Sol deixa de sorrir, o olhar distante como se algo tivesse lhe passado pela cabeça, e fica mais ereta próxima a mesa. Quando fala, sua voz está formal.

- Me desculpe. Isso não foi profissional.

- Não foi um... - começa Sara.

"Capitã Sol, na escuta?"

A voz de Laura no comunicador de ambas interrompeu a Tenente.

- Sim? - respondeu Sol.

"Capitã, preciso da sua presença na Navegação."

Sol se levanta.

- Eu estou indo. - olha para a Tenente por alguns instantes e sai da sala.

As portas da Administração se fecham atrás de Sol. Ela respira fundo, parada por um tempo. Engole em seco. Em guarda. E profissional. Ela estica a coluna, ficando reta, e desce o corredor.

Ao chegar na Navegação, Sol sorri quando Laura se levanta e bate continência para ela.

- Isso não é necessário. - diz.

Laura engole em seco.

- Desculpe, Capitã. - Laura se senta e aperta alguns botões. Os televisores exibem, então, uma demonstração muito mais detalhada da rota da nave do que aquela na mesa da Administração. - Eu estava analisando nossa rota e tempo, quando os radares apontaram essa área de detritos pela qual vamos passar.

Sol se aproxima mais. Na imagem demonstrativa vários asteróides começam a se formar, no meio da rota da nave. Sol comprime os lábios.

- O que você sugere?

- Eu diminuiria a velocidade, para ter uma segurança maior. Mas os escudos vão garantir que não tenhamos problemas. Talvez um ou dois desvios, mas nada demais.

- Não vamos diminuir. Se os escudos aguentam, continuamos nessa velocidade. Você vai ter que ficar acordada...

Laura assente.

- Está tudo bem.

- Certo - diz Sol. Ela balança a cabeça, pensando e então começa a falar pelo comunicador: - Atenção, todos. Aqui é a Capitã. Nas próximas horas, passaremos por uma área extensa de detritos, então podemos ter impactos com os escudos.

Léo, fechando uma ventilação, fica atento à voz. Onyx, que está no quarto com um Wilson adormecido, também fica atenta.

- Repetindo, área de detritos à frente com impacto nos escudos. Não há risco de algum dano à nave.

Na administração, Sara tamborila os dedos na mesa.

A nave continua seu rumo no espaço, se aproximando da estranha nuvem de pedras.