29. Sem confiança

83 17 51
                                    

As mãos de Sara tateiam ao redor, enquanto ela avança, o escuro cobrindo todo o ambiente ao seu redor. Ela se afasta da Enfermaria, seguindo na direção da Cafeteria, e de lá para a Administração. Agradece mentalmente quando suas mãos procuram pelas portas de aço e as encontra abertas.

Ela entra na sala, logo encontrando a mesa com as mãos. Segue se apoiando nela até os armários, onde se joga no chão e começa a abrir as portas, procurando por uma lanterna. Tira os livros e cadernos que havia pego do dormitório de Sol e os joga no chão, vasculhando dentro do armário até encontrar o que precisava. Acende a lanterna.

Ela aponta a luz para a porta. Pensara ter ouvido alguma coisa.

- Hugo? - chama. - Laura?

Não há resposta. Ela se encosta no armário, suspirando, e seus olhos passam pelos livros no chão. Ela pega o exemplar do "Guia completo sobre o modelo Mother" e o folheia. Perigos do reator, mapa das ventilações, funcionamento dos escudos... Tudo ali, resumido. Ela franze as sobrancelhas e volta algumas páginas. Reator. Além do grande risco de contaminação em caso de vazamento, em situações extremas o reator poderia colapsar, o que levaria à uma explosão como a que destruíra a M07-2140. Sara lembra do grito do homem pelo comunicador: "Ela vai matar todo mundo", segundos antes da explosão acontecer.

Sara engole em seco. Alguém naquela nave estava disposto a sabotá-los, matar um à um. Alguém ali estaria disposto a perder a própria vida, se necessário, em nome de uma causa. Ela não imaginava que Léo estaria disposto a perder a própria vida, muito menos outro tripulante.

"Laura está morta", é a voz de Hugo no comunicador. "Alguém matou a Laura".

O sangue de Sara congela, seu coração para. Seus olhos vagam pelo vazio da sala. Não, não é possível... Não é possível que tenha perdido Laura, a eficiente e disposta Laura. Ela leva a mão à orelha para responder, abre a boca mas as palavras não saem. Laura estava morta e ela não conseguia lidar com isso, não naquele momento.

E então algo lhe passa pela cabeça. Hugo dissera que a Elétrica estava sabotada. Hugo encontrara Laura. Será que...

Não, não era possível. Hugo deveria ter acesso ao quarto de Sol e ao Laboratório para que fizesse algum sentido. E ele ter comunicado a falha e encontrado o corpo de Laura era completamente plausível: ele fora concertar o erro, e depois de descobrir a sabotagem tinha ido até os Escudos soltar Laura. Mas fora tarde demais... Laura não conseguira sair de onde estava...

Sair de onde estava.

Sara levanta os olhos.

"Wilson".


Wilson respira pesadamente conforme segue seu caminho pelos corredores escuros. Seus passos ficam cada vez mais rápidos enquanto se aproxima do seu destino: o dormitório da equipe da NewSpace. Ele vê as portas abertas. Segue em sua direção mas é interceptado por Tomas, que sai com a arma apontada para ele. Wilson levanta a arma também.

- Tomas. - diz Wilson.

- Pode ficar parado aí. - diz Tomas.

Wilson engole em seco. Olha para o quarto atrás de Tomas.

- Como eu vou saber se não foi você que matou a Laura? - pergunta Tomas. - Os escudos ficam a caminho da Navegação.

- Eu não tenho motivos para isso. - responde Wilson. - E você sabe disso. Meu inimigo é o Exército.

Tomas não desvia o olhar dele. Dá um passo à frente.

- Eu acredito em cada palavra que você falou, mas isso não me confirma que não seja você. A única pessoa que eu confio nesse momento é a Onyx.

- Onde ela está?

- Ela ainda não acordou. - responde o outro.

Há um minuto de silêncio entre eles. Wilson balança a cabeça: não é possível que Tomas acredite mesmo que seja ele.

- Eu vim até aqui porque é mais fácil que nós três possamos nos defender juntos. - diz. - Se eu fosse matá-lo, não estaria conversando com você.

Tomas o observa e por fim, assente.

- É verdade. - diz, baixinho.

Wilson suspira e abaixa a arma. E então o tiro acerta sua cabeça.

Dentro do dormitório, Onyx se contorce na cama ao ouvir o tiro. Suas mãos e pés estão amarrados às grades, e a boca está amordaçada. Seus olhos estão vermelhos e lacrimejantes. Ela joga a cabeça contra o colchão e olha para a porta, vendo Tomas puxar o corpo de Wilson para o quarto. Onyx tenta gritar algo, mas a voz não sai.

AMONG US - A tramaWhere stories live. Discover now