5. O primeiro

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Hugo está deitado na sua beliche no alojamento da equipe militar. Ele olha para baixo, onde Ruth está sentada no chão. Ela mexe no seu painel pessoal, como se procurasse por algo.

- O que está procurando? - pergunta ele.

Ruth funga.

- Eu estou vendo se o cara da comunicação transferiu as mensagens que chegaram pra mim. Eu não ia abrir as mensagens lá, com ele olhando...

- Falta privacidade - diz Hugo.

- Exatamente.

Hugo aperta os olhos.

- Espera. Será que chegou mensagens pra mim?

Ruth ergue os olhos até ele.

- Você saberia se não ficasse o tempo todo de olho no mecânico. - diz ela, com um sorriso.

Hugo pula para o chão.

- Eu não estou com ele. Não nesse sentido. Nós só nos damos muito bem, desde antes de embarcar. E atuamos na mesma área, só isso.

Ruth o encara. Hugo pede para ela fazer silêncio com a mão, enquanto inclina a cabeça um pouco, como quem tenta ouvir algo muito baixo. Como não há nada, ele se volta para ela.

- Só não sai por aí falando essas coisas... Pode me queimar.

Ruth bufa.

- Falar pra quem? Você é o único que tem algum relacionamento amigável com a tripulação daqui... O resto só tolera a gente. A única pessoa que eu falaria algo é a Laura, mas ela está bem ocupada.

Um ruído alto perpassa a nave, enquanto ela balança um pouco. Eles já entraram na área dos asteróides.

- Ela vai estar bem ocupada... - diz Hugo.

Horas mais tarde, todo o compartimento está escurecido. Hugo ronca na sua cama, enquanto na cama debaixo Ruth solta pequenos suspiros.

Deitada na beliche ao lado, a Tenente Sara não consegue dormir. Se vira de um lado para o outro. Sua mente está em outro momento, mais cedo. Ela estava passando pelo Depósito quando esbarrou com o mecânico, no meio das caixas.

Léo estava movendo caixas com o símbolo da Enfermaria do lugar. Ele parou o que estava fazendo para olhar para ela, mas não disse nada. Ela perguntou se estava tudo bem, ao que ele respondeu que sim. Mas também disse que ela parecia... Intrigada.

- Você anda com as sobrancelhas apertadas... Como se estivesse pensando em alguma coisa, tentando decifrar. Sabe aqueles momentos onde alguém parece que vai dizer algo, mas não diz? E a gente passa o resto do dia pensando naquilo...? Então, é a sua cara agora.

Deitada, Sara pensa no que ele havia dito. Ele estava certo - mais do que ela gostava de admitir. Sol havia mudado de atitude tão de repente, como se algo a estivesse impedindo. Ou como se ela estivesse se impedindo de dizer algo. E depois, não haviam se encontrado mais.

Sara se levanta. A nave balança outra vez. Silenciosamente, para não acordar sua equipe, ela veste o uniforme camuflado e sai do alojamento. Respira fundo quando a porta se fecha.

Ela precisa saber se há algo errado. Decidida, ela segue pelos corredores, até a porta da única pessoa que tem um dormitório individual: a Capitã Sol. Sara bate nas portas de aço, com força, para ser ouvida.

- Capitã? Capitã Sol?

Não há resposta. Ela bate novamente.

- Sol?? Está acordada?

Uma das normas do regulamento era que mantessem as oito horas de sono, mesmo não tendo a mediação do sol e da lua no espaço. Por isso Sol deveria estar deitada também.

Sara olha ao redor, o corredor frio e vazio. Todas as portas da nave têm pequenos painéis laterais; os painéis dos dormitórios possuem números para uma senha numérica e um espaço para passarem o crachá. Os únicos que tem acesso à todas as portas pelos crachás são os profissionais da Enfermaria e da Manutenção. Mas Sara resolve tentar.

Ela tira o crachá e passa no pequeno painel. Talvez houvesse alguma regra no regulamento dizendo que o Capitão deveria dar acesso ao segundo em comando ao seu dormitório. Talvez. Ou então...

A porta se abre.

- Então você queria que eu viesse. - sussurra Sara.

O dormitório está escurecido, mas assim que ela pisa no ambiente, as luzes se acendem. O lugar não é grande: apenas uma pequena mesinha com livros, um banco próximo a cama e lá estava ela, Sol, deitada. Sara caminha até ela:

- Sol, eu...

Não. Tem algo errado. Sol está completamente imóvel, um dos braços pendendo para fora da cama. E no chão, uma seringa.

- Ah, meu Deus... - Sara corre até o corpo de Sol, abaixando-se na altura da cama e a segura pelos ombros. - Sol!! Sol, por favor, responde!!

Coloca dois dedos no pescoço da capitã. Não há pulso.

- Não, não, não...

Ela olha em volta, quase pisando na seringa no chão. Vê o botão vermelho numa das paredes. Vai até ele e o aperta.

Uma sirene começa a soar na nave, enquanto as luzes do dormitório de Sol piscam em vermelho.


[RECADO DO AUTOR: Ops! Algo de errado não está certo! O que estão achando? As luzes vermelhas já estão piscando pra vocês? Como será que a tripulação da M09-2140 vai reagir? Vamos ver nos próximos capítulos!!]

AMONG US - A tramaWhere stories live. Discover now