17. Ordem de prisão parte 1

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A mente de Sara ainda está turva. Imagens e vozes se misturam de forma confusa e fora de foco. "Ela está muito tensa, pode ter sido o estresse"; Hugo a carregando nos braços, flashes verdes, Sol caída, a seringa... "Sabe aqueles momentos onde alguém parece que vai dizer algo, mas não diz?"; Lucas gritando por dentro da roupa laranja, o mecânico a puxando para fora do laboratório, caixas com o símbolo da Enfermaria...

Sara abre os olhos.

 - Capitã... - é Ruth, parada ao lado direito da maca. Laura está do lado esquerdo. Sara olha para as duas. Está se sentindo fraca fisicamente, mas ela sabe. 

Ela sabe.



No dormitório da tripulação da NewSpace, Tomas lê seu exemplar do "Guia completo sobre o modelo Mother", sentado em sua beliche. Ele vira mais uma página e então ouve um barulho. Olha para baixo, na direção da cama onde Léo está deitado e o vê se contorcer um pouco. Os olhos estão apertados, suor escorre pelo rosto. Quase inconscientemente, as mãos de Léo estão agarrando os lençóis. 

O rosto desfigurado de Lucas.

Léo acorda, puxando o ar, fazendo Tomas soltar o livro no susto. O mecânico ouvira, ouvira o grito de Lucas, como se ele estivesse ali. Como se o grito gutural tivesse passado pelo visor, pela roupa protetora, se aprofundando na sua cabeça.

 - Tá tudo bem? - pergunta Tomas.

A porta se abre e um uniforme militar aparece. Um militar armado.

 - Leonardo - chama Laura. - Por ordem da Capitã Sara, se levante e coloque as mãos para o alto. Você está preso.

 - O que? - faz Tomas.

 - O que? - ecoa Léo. - Pelo quê?!

 - Suspeita de assassinato.



Toda a equipe está reunida na Cafeteria. Tomas acabara de contar o que havia acontecido para Wilson e Onyx confirmava com a cabeça, os braços cruzados em frente ao corpo. Ruth estava parada perto da saída que dava para o corredor da Enfermaria, e é para lá que Hugo vai, atravessando todo o lugar em passos firmes e tensos.

 - O que ela fez? - pergunta.

Ruth aperta o braço dele, olhando ao redor.

 - Se acalma. O que ela disse faz sentido.

Hugo abre a boca para rebater, mas logo Sara entra no refeitório, com seu porte reto e forte, acompanhada de Laura. A capitã vai até a mesma posição em que Sol ficara quando haviam acordado, algo que parecia ter acontecido há muito, muito tempo. Sara olha para cada um deles, esperando que haja silêncio.

 - Eu imagino - começa. - Que todos saibam que ordenei que o mecânico fosse preso por suspeita de assassinato.

Silêncio. Hugo encara Ruth, e a soldado abaixa os olhos.

 - Hoje foi confirmado por Onyx que Lucas não foi vítima de um acidente com um agente biológico, ele foi assassinado. A roupa de proteção do Doutor estava com vários furos, feitos por uma agulha, por onde supomos que o fungo foi inserido.

 - Com qual prova diz isso?! - pergunta Wilson, do seu banco.

 - Não são minhas palavras. - rebate Sara. Ela olha para Onyx.

A médica contorce um pouco as mãos, mas fica de pé para falar.

 - Eu... Eu desobedeci a quarentena e entrei no Laboratório com a ajuda da Tenente Ruth. - Laura, Wilson e Tomas olham para Ruth. - Eu queria confirmar que Lucas não tinha... Chance... Ele morreu e a sua roupa estava sabotada. É impossível acreditar que aquela roupa entrou na nave com furos, logo... Eles foram feitos aqui.

Ela assente, finalizando sua fala. Se senta.

 - Isso não explica a acusação. - diz Hugo, sem se conter. Ruth rapidamente lhe dá uma cotovelada.

 - Todos nós estávamos questionando o suicídio aparentemente sem motivo de Sol. - continua Sara. - Depois chegou aos meus ouvidos de que talvez houvesse um motivo, do qual o Doutor Lucas teria conhecimento. Wilson deve confirmar minhas palavras.

Wilson torce o rosto. Ele claramente não quer ajudar Sara em nada se puder escolher. Mas assente com a cabeça.

 - Léo falou para o Tomas e eu sobre uma conversa entre a Capitã Sol e o Doutor Lucas. - ele olha para Sara. - Mas a conversa envolvia uma informação sobre o exército...

 - Obrigada, Wilson. - interrompe Sara. - Wilson e eu fomos atrás de Lucas lhe perguntar sobre a informação e acredito que ele não tenha revelado nada para nenhum de nós. E nós dois somos as únicas pessoas que tiveram acesso ao laboratório de Lucas, mas também houve o mecânico.

 - E eu.

Todos se voltam para quem havia falado. 

É Onyx.

AMONG US - A tramaWhere stories live. Discover now