- É esse aqui. - diz Léo.
Os corredores estão completamente escurecidos. As portas da elétrica estão abertas pela metade e sem simetria, e lá dentro o mecânico e Hugo estão abaixados perto de um painel. Hugo segura a lanterna enquanto Léo abre o painel.
- Que coisa estranha... - diz Hugo, olhando em volta de repente. Léo pergunta o que é, sem olhar para ele. - Sei lá... É como se a nave fizesse barulho sem...
- As máquinas ligadas. - completa Léo. - Exatamente isso.
Ele pega a mão de Hugo, guiando a lanterna. Hugo olha para as mãos dos dois, juntas por alguns segundos.
- Como você está? - pergunta. - Quer dizer... Com a morte da capitã?
Léo demora um pouco para responder. Ele está focado.
- Nós não éramos muito próximos... Mas é ruim saber que ela... Enfim. Que estranho.
- O que?
Hugo se aproxima mais, as cabeças dos dois quase se tocando, para conseguir ver. Léo indica com a mão:
- Esse fio deveria estar conectado aqui. Geralmente eles soltam se houver algum super aquecimento que acaba derretendo a base que os liga ao painel... Mas aqui não tem nenhuma indicação de aquecimento, só parece que foi cortado. - ele suspira. - Sorte que eu tenho como resolver aqui.
Ele abre a maleta que havia pego. Apesar de não estar mais observando o painel, Hugo não se afasta.
- Continuando... - diz Léo. - Eu acho que sua tenente foi muito... Fria, com a situação toda. A gente não teve nem... Sei lá, uma despedida.
- Não, não teve... - diz Hugo, baixinho. - Mas eu acho que ela está assustada. Não é todo dia que alguém morre desse jeito, te deixando um cargo.
Léo assente. Mais uma vez, ele está focado no que faz. Os olhos um pouco apertados, o corpo tenso. Hugo dá um riso baixo, olhando para ele.
- O que?
- Você comprime um pouco os lábios, quando está focado em alguma coisa.
- É mesmo? - Léo levanta o rosto na altura do dele, e as luzes se acendem. O som das máquinas voltando a funcionar toma toda a nave. Estão tão perto que conseguem sentir a respiração um do outro. Olhos nos olhos. Léo aproxima o rosto...
"Hugo", chama Laura, no comunicador. "Café da manhã".
Hugo abaixa a cabeça.
Ruth e Sara estão sentadas numa das mesas da Cafeteria. Sara está extremamente desconfortável. Tamborila os dedos na mesa, enquanto o café em sua bandeja permanece intacto. Ruth observa tudo isso.
- Se me permite, Capitã... Deveria se alimentar.
- Não estou com fome.
- Sara...
Sara olha para Ruth. A soldado, agora tenente, a encara diretamente.
- Você precisa comer. Não foi sua culpa.
Sara a observa por alguns segundos e assente. Suspira e pega o copo. Nesse momento elas vêem Wilson se aproximando, a bandeja nas mãos. Ele olha para elas e segue adiante, para uma mesa distante, sentando ao lado de Léo. O mecânico, que estava sozinho, olha para ele estranhando.
Logo a mesa do militares está completa, e Onyx e Tomas também chegam à Cafeteria. Ambos se sentam com seus colegas de equipe, o que faz Léo franzer as sobrancelhas.
- Não sentou com seu amiguinho verdinho hoje? - pergunta Wilson, sem olhar diretamente para Léo. Era a primeira vez que ele falava com Léo.
- Somos colegas de trabalho que prezam pelo bem-estar do ambiente. - retruca Léo.
Onyx dá um meio sorriso.
- Não devia ter falado o que falou no comunicador. - diz Tomas, para Wilson. - Foi insensível.
- Insensível?! - Wilson diz, alto. Olha de relance para a mesa dos militares. - Insensível foi não termos uma despedida para Sol. E nos acusarem de assassinato com aquelas perguntas.
- Ela estava seguindo o regulamento. - diz Onyx. - Não é comum um membro cometer suicídio numa missão, por isso as perguntas. Em Marte, eles vão investigar o caso e vamos responder tudo novamente. É rotina.
Wilson bufa. Ele está incomodado.
- Você está incomodado porque Sol morreu. Mas está expondo isso de uma maneira ruim.
Tomas diz isso calmamente. Mas Wilson não recebe da mesma maneira.
- Não, não estou. Eu sei o que estou falando! O Exército tem suas próprias missões, querem tomar a NewSpace. Eles tomaram a NASA vocês...
- Está exagerando, Wilson. - interrompe Onyx. Ela se levanta e vai para outra mesa. - E atrapalhando meu café.
- Tudo bem. - diz o navegador. - Tudo bem. Mas tem algo a mais aqui. Eu tenho certeza.
Léo engole em seco. Olha em volta devagar.
- Eu... Ouvi Sol conversando com o Lucas, antes de morrer.
- O que? - diz Tomas. Wilson olha para Léo com interesse.
- Eu não entendi do que falavam mas falavam do exército... e uma informação...
Silêncio. Os três homens se olham. Wilson abre a boca mas Tomas o interrompe, se levantando.
- Eu não acredito nisso. Sol acabou de morrer e estamos falando em teorias de conspiração. Eu só...
Ele pega a bandeja e vai se sentar com Onyx. Léo, olhos baixos, responde baixinho.
- Você não ouviu o tom que ela falava.
[RECADO DO AUTOR: Acho que as coisas estão se complicando entre as duas equipes....]
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AMONG US - A trama
Mystery / Thriller🥇#1° LUGAR Categoria Suspense: Concurso The Cats, 2021. Esta história é inspirada pelo jogo "Among Us". A M09-2140 está em seus últimos dias de viagem à Marte, com o carregamento de 1500 colonos adormecidos. Seus dez tripulantes não têm apenas pap...