8. Na escuridão parte 2

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- É esse aqui. - diz Léo.

Os corredores estão completamente escurecidos. As portas da elétrica estão abertas pela metade e sem simetria, e lá dentro o mecânico e Hugo estão abaixados perto de um painel. Hugo segura a lanterna enquanto Léo abre o painel.

- Que coisa estranha... - diz Hugo, olhando em volta de repente. Léo pergunta o que é, sem olhar para ele. - Sei lá... É como se a nave fizesse barulho sem...

- As máquinas ligadas. - completa Léo. - Exatamente isso.

Ele pega a mão de Hugo, guiando a lanterna. Hugo olha para as mãos dos dois, juntas por alguns segundos.

- Como você está? - pergunta. - Quer dizer... Com a morte da capitã?

Léo demora um pouco para responder. Ele está focado.

- Nós não éramos muito próximos... Mas é ruim saber que ela... Enfim. Que estranho.

- O que?

Hugo se aproxima mais, as cabeças dos dois quase se tocando, para conseguir ver. Léo indica com a mão:

- Esse fio deveria estar conectado aqui. Geralmente eles soltam se houver algum super aquecimento que acaba derretendo a base que os liga ao painel... Mas aqui não tem nenhuma indicação de aquecimento, só parece que foi cortado. - ele suspira. - Sorte que eu tenho como resolver aqui.

Ele abre a maleta que havia pego. Apesar de não estar mais observando o painel, Hugo não se afasta.

- Continuando... - diz Léo. - Eu acho que sua tenente foi muito... Fria, com a situação toda. A gente não teve nem... Sei lá, uma despedida.

- Não, não teve... - diz Hugo, baixinho. - Mas eu acho que ela está assustada. Não é todo dia que alguém morre desse jeito, te deixando um cargo.

Léo assente. Mais uma vez, ele está focado no que faz. Os olhos um pouco apertados, o corpo tenso. Hugo dá um riso baixo, olhando para ele.

- O que?

- Você comprime um pouco os lábios, quando está focado em alguma coisa.

- É mesmo? - Léo levanta o rosto na altura do dele, e as luzes se acendem. O som das máquinas voltando a funcionar toma toda a nave. Estão tão perto que conseguem sentir a respiração um do outro. Olhos nos olhos. Léo aproxima o rosto...

"Hugo", chama Laura, no comunicador. "Café da manhã".

Hugo abaixa a cabeça.


Ruth e Sara estão sentadas numa das mesas da Cafeteria. Sara está extremamente desconfortável. Tamborila os dedos na mesa, enquanto o café em sua bandeja permanece intacto. Ruth observa tudo isso.

- Se me permite, Capitã... Deveria se alimentar.

- Não estou com fome.

- Sara...

Sara olha para Ruth. A soldado, agora tenente, a encara diretamente.

- Você precisa comer. Não foi sua culpa.

Sara a observa por alguns segundos e assente. Suspira e pega o copo. Nesse momento elas vêem Wilson se aproximando, a bandeja nas mãos. Ele olha para elas e segue adiante, para uma mesa distante, sentando ao lado de Léo. O mecânico, que estava sozinho, olha para ele estranhando.

Logo a mesa do militares está completa, e Onyx e Tomas também chegam à Cafeteria. Ambos se sentam com seus colegas de equipe, o que faz Léo franzer as sobrancelhas.

- Não sentou com seu amiguinho verdinho hoje? - pergunta Wilson, sem olhar diretamente para Léo. Era a primeira vez que ele falava com Léo.

- Somos colegas de trabalho que prezam pelo bem-estar do ambiente. - retruca Léo.

Onyx dá um meio sorriso.

- Não devia ter falado o que falou no comunicador. - diz Tomas, para Wilson. - Foi insensível.

- Insensível?! - Wilson diz, alto. Olha de relance para a mesa dos militares. - Insensível foi não termos uma despedida para Sol. E nos acusarem de assassinato com aquelas perguntas.

- Ela estava seguindo o regulamento. - diz Onyx. - Não é comum um membro cometer suicídio numa missão, por isso as perguntas. Em Marte, eles vão investigar o caso e vamos responder tudo novamente. É rotina.

Wilson bufa. Ele está incomodado.

- Você está incomodado porque Sol morreu. Mas está expondo isso de uma maneira ruim.

Tomas diz isso calmamente. Mas Wilson não recebe da mesma maneira.

- Não, não estou. Eu sei o que estou falando! O Exército tem suas próprias missões, querem tomar a NewSpace. Eles tomaram a NASA vocês...

- Está exagerando, Wilson. - interrompe Onyx. Ela se levanta e vai para outra mesa. - E atrapalhando meu café.

- Tudo bem. - diz o navegador. - Tudo bem. Mas tem algo a mais aqui. Eu tenho certeza.

Léo engole em seco. Olha em volta devagar.

- Eu... Ouvi Sol conversando com o Lucas, antes de morrer.

- O que? - diz Tomas. Wilson olha para Léo com interesse.

- Eu não entendi do que falavam mas falavam do exército... e uma informação...

Silêncio. Os três homens se olham. Wilson abre a boca mas Tomas o interrompe, se levantando.

- Eu não acredito nisso. Sol acabou de morrer e estamos falando em teorias de conspiração. Eu só...

Ele pega a bandeja e vai se sentar com Onyx. Léo, olhos baixos, responde baixinho.

- Você não ouviu o tom que ela falava.

[RECADO DO AUTOR: Acho que as coisas estão se complicando entre as duas equipes....]

AMONG US - A tramaWhere stories live. Discover now