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A E

Eu não sei se deveria estar rindo ou chorando nesse momento.

Na verdade, acho que ficar preocupado seria a melhor opção.

— Ei, você se machucou? — pergunto para Pete pela décima vez, porque ele parece extremamente nervoso.

Nós estamos em seu apartamento, mas, por algum motivo, ele continua derrubando suas chaves e esbarrando nos lugares o tempo todo. Não sei por que ele parece tão tenso.

— Ei, cuidado — digo, assim que o vejo tropeçar no tapete feito um estabanado. Quando recupera o equilíbrio, olha para mim e abre um sorriso amarelo para tentar mostrar que está bem, mas, logo depois disso, bate o quadril em uma cadeira no meio do caminho para o corredor que leva ao quarto.

Eu começo a entender o que leva ele a ficar desse jeito, porque também estou começando a me sentir inquieto quando entro em seu quarto. Como poderia não ficar? Da última vez que estive aqui, eu e Pete fizemos todo o tipo de coisa juntos, e acho que isso já deixa bem claro o que está acontecendo entre nós agora.

Posso parecer um louco ou um esquisitão, mas ver meu namorado assim, todo ansioso, faz com que eu consiga me acalmar um pouco. É que ele fica tão fofo que eu só tenho vontade de provocá-lo ainda mais.

— Eu, hm, estou bem. — Ele dá uma risada quase estrangulada, enquanto esfrega o joelho esquerdo, que acabou de bater no canto da cama. — Estou bem.

Pete está parecendo um garotinho preocupado com a chance de ser repreendido pelos pais por ficar esbarrando em tudo, o que faz certo sentido já que, de vez em quando, seus comportamentos me lembram muito os comportamentos que minha sobrinha tem. É um tipo de infantilidade quase fofa, de alguém que age de um jeito coberto de carência, como se precisasse ser cuidado pelos outros e receber carinho o tempo todo.

— Hm, eu vou pegar algo para você beber — oferece ele em seguida. — O que você vai querer? Eu tenho Coca, suco de laranja, chá verde... Hm, o que mais? A tia Jew trouxe algumas coisas na última vez que veio aqui...

Ele não parece perceber que estou o observando em silêncio já por algum tempo. Pete tem uma tendência de falar demais quando está nervoso, provavelmente tentando desviar o rumo dos próprios pensamentos para outros assuntos que o distraiam, e sua atitude de agora é apenas um bom exemplo do que já estou acostumado a ver em outros momentos.

Ele passa por mim e vai até a cozinha, então eu dou meia-volta em tempo de vê-lo abrir a geladeira com força, quase como se quisesse sentir o ar gélido do eletrodoméstico contra o calor do rosto para tentar reavivar a coragem adormecida em seu corpo desde a última vez que estivemos juntos e sozinhos nesse apartamento.

Para ser sincero, seus comportamentos me dão certa força para ir atrás daquilo que estive pensando em fazer desde que ele me deu a confirmação de que poderia passar a noite aqui hoje. E não estranho o sobressalto em seu corpo quando seguro sua cintura com as minhas mãos e o puxo para um abraço.

A surpresa do meu toque parece ter sido tanta que seu corpo paralisa, então pego a garrafa de água que está em suas mãos e coloco em cima da pia, apenas para evitar que algum desastre aconteça. No meio-tempo que me inclino para colocar a garrafa sobre o mármore e voltar a abraçar Pete, sinto o aroma gostoso de sua pele vindo para perto do meu rosto, a fragrância do perfume sendo suave o suficiente para se tornar atraente, mas não forte o bastante para acabar com a minha vontade de me aproximar e sentir o toque de noz moscada ao fundo do aroma amadeirado.

É quase intoxicante.

O perfume familiar junto do aroma natural de sua pele me dá esse estranho sentimento de conforto que nunca senti com nada nem ninguém em toda a minha vida. E acho que vem dessa sensação a coragem de perguntar baixinho contra sua nuca:

Love by Chance (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora