1.0 ❖ 21

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Tin já havia ido embora há cerca de vinte minutos, mas os dois garotos continuaram sentados lado a lado, em silêncio, ainda à mesa afastada do restaurante. Pete estava se sentindo mal demais para conseguir olhar a Ae, que, por sua vez, estava extremamente irritado pelo confronto recente com o outro aluno do Colégio Internacional. Pete nunca tinha visto Ae tão bravo na vida.

Ele já havia presenciado a raiva do namorado quando estiveram de frente para Trump no passado, mas, naquele momento, o sentimento transmitido na face amorenada e tensa parecia completamente diferente. Ae não parecia sequer capaz de controlar as próprias emoções, a ponto de, mesmo após todos aqueles minutos em silêncio, ainda precisar manter o punho apertado em cima do colo.

— Ae, por favor, não dê ouvidos ao Tin, ok? Ele é sempre assim — disse Pete, tentando acalmá-lo da melhor maneira possível. — Só que ele nunca fez mal a ninguém. Não de verdade. Ele não estava falando sério.

Pete não estava feliz com o que seu amigo havia dito, é claro, mas, depois de tanto tempo sentando ao lado de Tin na sala de aula, já havia aprendido a lidar com o modo como o rapaz agia, reconhecendo que ele, de fato, era o tipo de pessoa que não conseguia filtrar as próprias palavras.

Apesar disso, porém, nunca havia visto ou ouvido falar de Tin ter causado algum mal a qualquer pessoa que seja, desde o dia em que se conheceram até o atual.

— Aquele merda não... — Ae estava prestes a falar algo para Pete, virando-se em sua direção, mas assim que viu seu príncipe segurando o próprio relógio recém-recuperado com força, parecendo pálido e um pouco assustado, decidiu respirar fundo e se esforçar para liberar a frustração no ar expirado. — Esquece — resmungou.

Inclinou o corpo para trás, permanecendo em silêncio pelo resto do tempo que passaram dentro do restaurante. Por fim, foi Ae quem voltou a quebrar com a quietude, anunciando:

— Vou voltar para o dormitório.

— Mas você ainda tem aula. — Pete já sabia de todos os horários do namorado, então não conseguiu deixar de ficar preocupado com a ideia de Ae estar ausente nas próximas aulas do dia, mesmo que ele próprio parecesse não se importar.

— Vou faltar — declarou, pegando na mão de Pete para saírem juntos do estabelecimento.

Do campus ao dormitório, Pete permaneceu em silêncio. Não conseguia dizer nada, mesmo que tentasse, mesmo que quisesse, com todas as suas forças, reforçar a Ae que ele mesmo nunca havia se importado com tudo aquilo que Tin havia dito mais cedo; entretanto, ao presenciar toda a irritação explícita de Ae, decidiu por ficar em silêncio. Caso contrário, poderia acabar deixando o namorado ainda pior ao trazer o assunto, novamente, à tona.

Assim, durante todo o trajeto até os dormitórios, caminhou um pouco atrás de Ae, enquanto observava suas costas e os ombros tensos com preocupação. Sequer conseguiu dar real importância à ideia de estar indo para o quarto de Ae naquele momento, conscientizando-se do fato apenas quando Ae olhou para o seu rosto, em frente à porta antiga de madeira riscada.

— Está um pouco bagunçado, mas, por favor, fique à vontade — disse ele, dando passagem para Pete adentrar.

O local estava exatamente igual à última vez em que estivera ali. Ainda havia um pôster gigante com vários jogadores de futebol aleatórios em um dos lados, enquanto, no outro, o pôster sem censuras pertencente a Pond, de sua atriz pornô preferida, tomava seu espaço na parede. Não apenas a decoração explícita, mas a metade usada pelo amigo de Ae ainda estava lotada de DVDs espalhados sobre a cama e sobre a mesinha de cabeceira, mesmo que, agora, ele tivesse uma namorada. A desordem do ambiente era imensa em todos os pontos do quarto, desde o chão até a mesa de estudos e cama desarrumada.

Love by Chance (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora