1.0 ❖ 07

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Era sábado.

A rotina típica de Ae consistia em voltar para casa toda sexta-feira à noite e começar seu final de semana correndo, enquanto aproveitava o clima fresco das quatro e meia da manhã. Depois, voltava a tempo de acompanhar sua mãe para receber os bons méritos dos monges que estavam de passagem e, por fim, tomava banho e ajudava com as tarefas do dia.

Apenas uma rotina comum de final de semana.

Antes, a família de Ae morava em um pequeno prédio, cujo primeiro andar era usado como restaurante. Então, quando seu irmão decidiu largar o emprego, usou todas as economias para hipotecar o lugar até que tivessem condições de comprar um novo imóvel, logo ao lado do antigo. Eles transformaram o local em uma loja de eletrônicos e de peças de reposição para automóveis, incorporando os negócios do segundo ao quarto andar do prédio. Por conta disso, toda vez que Ae voltava para casa, precisava trabalhar tanto no restaurante como na loja de eletrônicos.

— Tio Ae! — chamou uma voz adorável, anunciando o início dos momentos preferidos do rapaz ao retornar para casa, resumidos em passar tempo com sua pequena sobrinha Yim.

Ela estava prestes a completar dois anos de idade dentro das próximas semanas e, quando apareceu chamando por ele, já se encontrava agitada no colo da própria mãe, em pedidos evidentes para ser colocada no chão e poder, assim, abraçar seu tio preferido.

— Ei, ei, ei. — A cunhada de Ae, Nat, interrompeu a filha antes de ela alcançar o rapaz à frente. — Não esqueça da educação.

A criança, imediatamente, uniu as mãozinhas de dedos curtos em frente ao rosto e fez uma pequena mesura, enquanto dizia em voz alta:

Thu kha.¹²

Diante do cumprimento educado, a risada de Ae explodiu em um divertimento inevitável pela fofura e inocência infantil, que o fizeram não ter outra opção além de espremer as bochechas de Yim com beliscões.

— Não! — reclamou ela, cobrindo o próprio rosto com as mãos e encenando uma expressão irritada.

— Ah, vamos lá! — insistiu Ae, sorrindo. — Deixa o tio beliscar suas bochechas, hm?

— Não! Não qué!

— O tio Ae não vê você há tantos dias, poxa. — Ele cutucou as bochechas da garota, ainda cobertas pelas palmas pequeninas. — Não sentiu minha falta?

As respostas infantis vinham em forma de resmungo, enquanto Yim tentava esconder o próprio corpo por trás da mãe, com pedidos insistentes para que o tio parasse de incomodá-la.

— Ela sente muito a sua falta — admitiu Nat, abrindo um sorriso. — Ela fica quase a semana inteira chorando, perguntando sobre o tio Ae.

A risada da mulher preencheu o local, enquanto a pequena garotinha lançava olhares bravos para o tio, que ainda tentava beliscar suas bochechas fartas. Ae curvou a coluna, nivelando o rosto ao da sobrinha, e contorceu as sobrancelhas a fim de provocá-la mais.

— Se você não deixar o tio Ae tocar nas suas bochechas, então vou beliscar as de outra pessoa, hein? Conheço alguém que também tem as bochechas bem macias e gordinhas, iguais às suas. Não estou brincando.

Funcionou. A garota, naquele momento, arregalou os olhos para Ae e começou a murmurar com os lábios pequenos e rosados. Sua expressão, antes irritada, agora parecia preocupada ao descobrir que seu tio preferido poderia amar outra pessoa tanto quanto amava ela.

Abaixou a cabeça.

Beijo... beijo... — murmurou as palavras com o sotaque infantil característico, deixando o rapaz beijar ambas as bochechas lisinhas, apesar de a barba crescente fazer sua pele sensível coçar.

Love by Chance (pt-br)Where stories live. Discover now