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A E

Durante toda a minha vida, eu me conheço como alguém que dificilmente expressa os sentimentos na postura ou expressão facial. Eu costumo colocar a minha máscara de "rosto duro e ameaçador" e pronto, ninguém consegue dizer o que está se passando na minha cabeça.

Mas agora, nesse exato momento, acho que qualquer pessoa conseguiria dizer que estou muito, muito, muito nervoso. E o motivo disso é que, nesse exato momento, estou parado em frente à casa de Pete.

Preciso segurar a respiração toda vez que olho para a casa gigante de dois andares magnificamente exposta bem na frente dos meus olhos, com uma fachada... O quê? Europeia? Mediterrânea? Vitoriana? Não saberia dizer nem se tentasse, mas, certamente, é uma fachada impecável, parecida com as das mansões que costumamos ver em seriados e filmes americanos cujos personagens são, bom, milionários. Uma casa digna de aparecer, inclusive, em revistas de decorações e essas coisas todas.

E eu quase consigo ouvir a vizinhança toda tentando alertar a família de Pete, aos berros, sobre um vira-lata parado em frente à casa deles, sem se dar conta de que o vira-lata, na verdade, é um garoto.

E que o garoto sou eu.

Porque é exatamente assim que eu me sinto: como um vira-lata tentando abrir seu caminho para uma casa chique de uma família rica desconhecida.

Eu nunca me importei com o quão rico meus amigos são, nunca me senti mal ou estranho ao ir para as casas gigantes deles e apenas admirava os móveis e decorações luxuosos; só tomava cuidado para não tocar em nada ou acabaria entrando em desespero caso quebrasse alguma coisa. E eu me sinto confortável assim, porque, no fim das contas, eles são todos meus amigos. Não importa quão ricos ou pobres possam ser, se me veem como um amigo, então agirei como tal.

Porém, agora é totalmente diferente.

Essa é a primeira vez que me sinto realmente intimidado com a riqueza de Pete.

Sei lá. Talvez seja porque ele é meu namorado, então acabo sentindo como se subitamente tivesse um buraco negro emergindo dentro do meu coração, sugando toda a minha alma para dentro. Ou como se tivesse uma mão gigante estapeando meu rosto, tentando me fazer acordar para a realidade de que talvez eu nunca seja capaz de fazer Pete tão feliz quanto tem sido ao crescer dessa forma com sua família.

Mas ainda tento pensar que isso não faz sentido. Não faz.

Eu não tenho grana? Ok, algo para superar. Mas eu ainda posso cuidar dele, independente de tudo.

Certo?

Tento repetir as palavras mentalmente do modo mais calmo e tranquilo que consigo, diferente de Pete, que tem olhado para mim o tempo todo desde que chegou ao meu lado depois de sair do carro, preocupado com a ideia absurda de que eu posso não estar gostando. De todas as coisas que ele poderia estar preocupado...

É incrível como esse garoto lindo é fácil de ler. Então, faço o que sei que vai tranquilizá-lo.

— Sua casa é tão bonita — digo. — Combina direitinho com você.

Seus lábios se esticam em um sorriso adorável; a tristeza, contudo, se forma sutilmente nos olhos brilhantes.

— A casa era para ser um presente de casamento que minha avó comprou para os meus pais... Mas, quando eles se separaram, a vovó decidiu passar a casa para a minha mãe, a ex-nora dela.

Encaro seu rosto ao ouvi-lo contar sobre o acontecimento delicado. Todos os meus pensamentos incoerentes nos comparando, de repente, se dissipam, e tudo o que consigo fazer é olhar para ele fixamente. Parando para pensar agora, qualquer pessoa acharia que ele é alguém que tem tudo na vida... E é claro que deduziriam isso...

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