— Todos temos escolhas, e não seja injusta em me dizer que eu não a dei uma. — ele diz, estalando a língua logo depois de suspirar como se a conversa, estivesse entendiante.

— Sim... Escolher entre a minha vida e a vida dos meus amigos... Seu ponto de vista está um tanto quanto deturpado. — a voz da fêmea soa alta o bastante para que ele a ouça, a risada dele é algo que verbera entre as paredes do grande salão, dentro da própria Callyen, fazendo seu estômago revirar novamente.

No segundo seguinte os olhos negros estavam a sua frente, observando-a, a fêmea tampouco se abaixou diante da presença massiva do macho a sua frente. Ao contrário, forçou a posição ao mais reto possível, os braços ainda postos as laterais, os dedos quase tocando as espadas illyrianas presas as suas costas, escondidas abaixo do manto negro, embora ela duvidasse que ele não soubesse.

— Amigos...? — questionou-a. O rosto próximo, o olhar negro cobrindo todos os sinais de seu rosto, ela sabia. A mescla do ódio estava ali, quando seus olhos mudaram, e Callyen sentiu quando seus próprios embaçaram sua visão em névoa vermelha. —  É engraçado entretanto, que seja você a estar aqui... e não eles. — ele diz, ondulando ao seu redor como as maldita fumaça densa que teimava em espiral ar entre eles. Ele riu, o desdém soando como veneno gotejando em cada subtom de sua voz. — Você não tem amigos, Princesa. Você não tem nada, além... de mim. Porque eu sempre estive com você... — ele continuou dizendo, e a fêmea quase sorri para seu monólogo egocêntrico. Quase. Porque as próximas dele fizeram maior sentido. — Eu estou, literalmente, entalhado em seus ossos.

Provando seu ponto Ykner pressiona a ponta da unha afiada contra o osso saliente da ponta inicial de sua coluna. Todo corpo de Callyen arrepiou com a sensação de desespero, reconhecimento, e seu estômago e peito se agitaram com isso. Todas as palavras dele fizeram sentido, sempre quando ele insistia em dizer que estava dentro dela... Porquê, de fato, ele estava. Todas as vezes que ela sentia suas garras dentro de si, a escuridão crescente, a sensação de vigia mesmo depois de ter queimado com as runas de controle e rastreio... Ele ainda se manteve dentro da mente dela, porque ele realmente estava entalhado ali. A dor em brasa no centro do peito da fêmea apareceu novamente, ela viu pelo canto do olho quando o sorriso psicótico do macho se alargou quando perceberam que ela finalmente entendera, entretanto, apesar da dor e acima dela, a fêmea se recusou a demonstrar qualquer indício, mantendo a dor para dentro e postura ainda mais ereta.

Ykner deu a volta ao redor dela, voltando a ficar a sua frente, os olhos ainda mais escuros, o sorriso ainda mais macabro, e perigosamente perto do rosto dela.

— Ora ora, então você finalmente percebeu. — não foi uma pergunta, ela sabia dizer pelo brilho maligno em seu olhar escuro, louco. Ele ergueu uma mão novamente, os nós dos dedos descendo de sua têmpora em direção ao seu queixo, onde ele segurou abruptamente, com força demais. — Eu estive por trás de cada passo, foi engraçado verem vocês planejando toda aquela armada de guerra sabendo que vocês já estavam perdidos antes mesmo de começarem... Foi quase divertido ver você com aquele bastardo... — ele cuspiu a palavra, apertando um pouco mais os dedos no rosto de Cally, enquanto ela trincada os dentes para ambas as dores. — Sabendo que você me pertencia... Você realmente pensou que eu deixaria, por um momento, que você ficasse com ele? Você é muitas coisas, princesa, mas tola...

Callyen sentiu as lágrimas arderem em seus olhos, queimando enquanto ela teimava em não deixar que topassem, porque isso, as lágrimas, diriam a Ykner que ele estava certo. Que ela fora tola o bastante para acreditar que teria um final feliz ao lado do macho que ela amava, ao lado de pessoas que por mais diferentes que fossem, por maiores as divergências que tinham entre si, protegiam-se mutuamente independente das diferenças. Ela estava errada ao achar por algum momento, que ele deixaria.

Príncipe das SombrasWhere stories live. Discover now