CAPÍTULO 66

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CALLYEN

O sorriso felino do macho era quase tão perigoso quanto ao olhar avermelhado que ele me lançou a medida que se afastava do tronco do carvalho que estava apoiado, em meio as sombras. Ele me olhou mais uma vez, a barba por fazer cobrindo seu queixo, tão vermelha quanto seus cabelos, ele pendeu a cabeça de lado me analisando de cima abaixo.

- Poderia facilmente lhe questionar o mesmo... - eu começo, mas então a sensação crescente de desespero toma conta de mim, se agitando em meu estômago e fazendo a marca contra meu peito arder. Trinco a mandíbula firmemente impedindo um gemido de dor me escapar. Engulo uma respiração antes de erguer o olhar para o macho novamente. - Se eu não estivesse com pressa.

Eris cerra os olhos em minha direção, o sorriso maldoso aumentando minimamente, em apreço.

- Você é a segunda pessoa que eu conheci com um estranho apreço pela morte... - ele diz e um arrepio gélido percorre minhas costas. Ele sabia. - Não é em direção a ela que você está indo tão apressadamente?

O encaro novamente, esse macho... estranhamente me julgava por um apreço que ele próprio buscava. A morte. Mesmo que no fundo, ele soubesse que não a encontraria lá, ele sempre estava buscando-a. Tentando uma maneira de ir de encontro a ela. Será que ele não a ouvia? Será que ele não sabia?

Eu ouço o leve zunido contra meus ouvidos, o arranhar suave contra as paredes do escudo em minha mente, o torpor invadindo e arranhando meus músculos, rastejando nos meus ossos. Sussurrando contra a minha vontade. A dor no centro do meu peito queimou novamente.. O aviso silencioso, porém doloroso... Seu tempo está acabando.

Mordo a pele no canto interior do meu lábio, provando o gosto metálico do sangue me lembrando que era ele quem estava murmurando as sensações para mim. Eu o olho novamente.

Não tenho tempo...

- Você está aqui para me impedir? - questiono. Eris ergue ambas as sobrancelhas num tom bonito de laranja, verdadeiramente surpreso por eu não ter dado meia volta sobre meus pés.

- Não... - ele pondera me observando um pouco mais atentamente demais. - Irei com você.

Solto uma risada baixa, a dor vem como a ponta de uma flecha em brasa fervente contra meu peito. Fazendo com que meu corpo se curvasse a frente e eu levasse a mão direto ao ponto da dor, apertando o lugar na fútil tentativa de livrar da dor.

- Não... Preciso da sua ajuda. - sibilo entre os dentes, por cima da dor. O macho solta uma risada sarcástica tão baixa quanto minhas palavras.

- Sua atual condição diz exatamente o contrário, Princesa.

- Não... me chame assim. - rosno de volta, embora seu sorriso diminua, o tom debochado ainda permanece na curva erguida de seu lábio, e no arquear de sua sobrancelha.

- Não é o que você é, Callyen? - ele diz. Novamente a sensação de torpor invade meu corpo. Mais forte que a primeira onda, o sussurro mais nítido, arranhando dentro da minha mente, uma fumaça lenta e densa, alaranjada... agindo contra meus pensamentos, arranhando contra meus músculos, contra a minha vontade, contra meus sentidos...

Era assim que seus sussurros eram, afinal. Um toque lento, certeiro, paralisante. Rastejando e tomando suas vontades, suas convicções, seus desejos... E se ele fosse fundo demais... tomando sua alma, com um simples sussurro.

- A herdeira do Caos da Mãe? A Princesa do Caos.. não a princesa dele...

Volte ao seu parceiro... Volte para as sombras..

Príncipe das SombrasWhere stories live. Discover now