EXTRA IV

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A sensação de estar presa a escuridão a atormentou e ela sentiu aquela coisa rastejar lentamente abaixo da superfície. Garras negras raspando abaixo da redoma escura de sua mente, a sensação de frio de se estar sendo arrastada enquanto tudo desparecia gradativamente de sua mente, de sua visão.

O toque veio em suas costas lento como uma pluma, porém frio como gelo. Sua voz soou profunda, e cortante como o grito de um pássaro negro. Ela sabia, ela conhecia aquela voz, aquele rosto bonito esculpido em mármore.. um rosto sem emoção, sem sentimentos que não fosse o prazer sádico em força-la. Seu corpo não se movia,sua mente trabalhava ao seu redor embora ela soubesse que não poderia evitar.. Ele estava aqui.

O corpo de Azriel pendeu para o lado, pesado, o sorriso de Ykner se moveu um tom mais sombrio e mais maldoso quando as garras voltaram sangrentas do centro do peito do macho. Não havia laço, não havia calor ou pulsação, não havia nada que ela pudesse puxar de volta para saber que aquilo não era real. De repente ela não estava presa, a cena se modificou tão rapidamente que lhe deu vertigem, seu olhar se fixando em suas mãos, suas de sangue. O sangue dele. O sangue de seu parceiro em suas garras negras, nas garras do monstro que ela era. As vozes, as malditas vozes soaram ao seu redor, as acusações do que ela havia feito, do que ela era.

— É o que nós somos.. o que fomos criadas e condicionadas para fazer, Princesa... — o sibilar baixo e sombrio veio atrás da muralha em sua mente. A criação não estava mais presa, ela ocupava seu corpo, sua mente em chamas roxas e lilases consumindo cada marcação das dunas antigas sobre pele. E Callyen gostou da sensação.

— Um monstro... você é o demônio que assassinou sua mãe ao nascer.. — a voz de seu pai soou acusatória..

— Não... — desespero inundou suas veias, sua voz.

— Você a matou, Callyen.. e agora o matou também... Veja. — o sussurro veio próximo ao seu ouvido, as suas costas. Uma insinuação da verdade. — Olhe seu parceiro morto.. seu sangue em suas mãos. Você os matou, Callyen.. a todos eles.

— Nós os matamos.. todos eles.. — aquela coisa repetiu, sedenta por sangue e destruição. Orgulhosa.

Poças de sangue cobriam o salão da Casa dos Ventos, ainda escorrendo como o Sidra cortando a cidade abaixo. Os corpos espalhados retalhados, sem vida pelo piso de pedra. Todo o círculo íntimo destruído. E seu sangue banhando o chão do salão, e as mãos dela. O toque de Ykner veio em seu ombro, possessivo.

— Seu trabalho foi concluído... — ele a virou delicadamente para observar os olhos injetados de puro negro. — Obrigada, Princesa. — o golpe veio rápido em seu peito quando ele o esmagou para fora. — Você pode fugir, doce Callyen.. mas isso é o que você é.. um monstro. Uma arma de destruição.

✯✯

A cama de moveu com o movimento brusca da fêmea, lágrimas cobriam seu rosto e a sensação de repulsa fez seu estômago revirar com a lembrança do pesadelo. Tão real. Tão malditamente real que ela teve que esfregar os braços rapidamente para tentar afasta-los de si.

Azriel não se moveu de imediato com o movimento da cama, sabendo o quão inquieta sua esposa podia ser durante o sono, embora ele tenha se erguido quando o som do primeiro soluço tenha sido alto o bastante para que ele entendesse que havia algo de errado. Se moveu lentamente sobre o colchão, sentando ao lado da fêmea que mantinha os joelhos próximos ao corpo a cabeça escondida entre os braços apoiados, a bagunça de cabelos negros cobrindo o rosto. Outro soluço se fez audível no silêncio do quarto. Azriel não questionou quando moveu as asas juntas e puxou o corpo da parceira para perto de si, abraçando-a carinhosamente. Callyen se deixou ser movida em meio ao seu torpor, o valor do corpo de Azriel inundando seus sentidos fez um novo soluço mais forte escapar de seus lábios enquanto as lágrimas ainda escorriam.

Príncipe das SombrasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora