CAPÍTULO 57

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CALLYEN

- Você realmente acha que algum deles irá colaborar conosco? - não deixo de questionar depois do longo silêncio que desceu entre nós dois. Mais uma vez meu olhar se distância do rosto bem desenhado do mestre espião e eu olho para além da beirada do precipício de ouro ao qual estamos elevados sobre a cidade dourada.

Essa era a principal dúvida a qual estava assolando minha mente. Se, questões de guerra envolviam mais interesse político e territorialista, qual seria a motivação para que qualquer um deles se unisse novamente ainda que a ameaça fosse real? Apenas porque uma forasteira, uma desertora da causa para qual fora construída para seguir lhe disse? Embora eu soubesse que Nestha houvesse dito as palavras apenas por sua típica aversão aos fatos, suas palavras eram completamente verdadeiras, eu trouxera essa guerra até eles, o que me levaria a crer que eles ajudariam?

A brisa leve e morna o alto do palácio trouxe a sensação antes mesmo do toque chegar, quando Azriel prende os dedos ao redor do meu pulso e sobe o toque pela pele exposta do braço, ombros e pescoço, antes de segurar meu queixo, fazendo com que eu o olhasse. O dourado de seus olhos pareciam quase como o ouro pincelado pelo palácio e pela cidade abaixo, quase como um tacho de melaço derretido que, nesse momento, estava me prendendo.

- Ouça, anjo. Mesmo que nenhum daqueles malditos lutem ao nosso lado, ainda lutariamos ao seu lado. Por você, pelo nosso povo, por Prythian. É o que fomos condicionados a fazer. - Azriel diz próximo o bastante para me fazer acreditar em suas palavras.

- Eu não quero que nenhum vocês morram... - engulo as palavras antes de conclui-las.

Pela Mãe, só de imaginar..

- Não iremos. E se precisar, eu lhe prometo: não iremos.

Talvez fosse pela sensação de proteção que eu sentia através do seu toque, ou a intensidade de seus olhos e de suas palavras, mas eu senti a realidade nelas, que eu deveria acreditar nelas.

**

A cidade Capital da Diurna, era chamada de Solís, segundo Azriel em homenagem ao seu nome: Cidade da Luz Solar. E era simplesmente linda. Tudo parecia brilhar, desde as pedras das calçadas parecendo serem polidas em pedra do sol, as casas em tons vibrantes e cintilantes, os telhados projetados para refletir a luz solar iluminando tudo em dourado reluzente. Enquanto Velaris era feita para brilhar a noite, como uma jóia noturna, Solís era construída para reluzir ao dia.

Enquanto caminhavamos, não pude deixar de reparar nos olhares curiosos e condescendentes em nossa direção, muito menos os pensamentos de surpresa e felicidade direcionados, assim como a distinção entre os habitantes desse lugar. Feéricos menores e Grã Feéricos circulavam em túnicas brancas, douradas, laranjas em tecidos nobres e esvoaçantes como musselina e chiffon. Haviam várias sacerdotisas em seus mantos azuis caminhando pelas ruas em direção ao prédio central, que parecia ter sido esculpido diretamente em ouro e diamantes, onde Azriel me disse ser onde, agora, ficava a principal biblioteca da Corte Diurna. Ele me dissera que aquela corte abrigava mais mil bibliotecas de conhecimento, mas depois que a Grã Inquisidora saqueoou pessoalmente a maioria delas, Helion decidirá manter seus livros em um lugar só e bem mais protegido, onde apenas quem tinha permissão direta poderia passar pelos selos de proteção sem ser queimado vivo. Minha curiosidade em ver tantos livros e pergaminhos juntos, e quem sabe descobrir um pouco mais sobre minha origem, desapareceu completamente após a menção de ser transformada em pó na porta de entrada da Biblioteca.

O sol estava descendo ao alto no horizonte quando demos a volta pela parte central da cidade e voltávamos para o palácio de Hélion. Se eu estava me sentindo bem e quase esquecido a respeito das motivações iniciais de eu ter saído de lá, todas as sensações voltaram assim que paramos na parte de baixo do opulento palacio de ouro do Senhor da Diurna.

Príncipe das SombrasDove le storie prendono vita. Scoprilo ora