ADENDO DO LIVRO

5K 458 364
                                    

Eu atiro para o céu
Eu estou preso no chão
Então por que eu tento?
Eu sei que vou cair
Eu pensei que podia voar
Então, por que me afoguei?
Eu nunca saberei por que
Está caindo, caindo, caindo
(down - jason walker)

NESTHA
❄️🔥

Nestha olhou firmemente pela pequena janela do cubículo que em que estava morando. Reparando agora, ela nunca chamou esse lugar de casa, ou lar. Não. Esse lugar não era um lar, nem o espaço que continha uma cama de casal que fedia aos inúmeros machos — e até algumas fêmeas — que acabaram pernoitando ali. Nem as poucas peças de roupas espalhadas pelo piso de madeira, sobre a cadeira, ou a mesa de perna bamba no canto, menos no pequeno armário no canto oposto. Ou os números livros cuja metade pertencia a Amren, e que Deus a perdoasse, se a pequena mulher dragão os visse teria rosnado veementemente.

Mas Nestha não se importava o suficiente para limpar o lugar, ou trocar as roupas de cama, ou para pensar em qualquer coisa a respeito de si mesma. Ela não precisou olhar por cima do ombro para ver que o macho que ocupara a sua cama horas antes estava, nesse momento, calçando seus sapatos pronto para ir embora. Ela não se importou quando ele soltou um pigarro e tentou se aproximar, talvez, para se despedir.

Vá embora.

O sussurro ecoou no espaço frio do quarto, cheio de intenção, subentendido. Quase automático o macho se virou e foi.

Era de se pensar que o tempo que a fêmea passou no acampamento, na companhia dele, longe de tudo, mas ainda assim perto o bastante dele, fosse servir para tira-la de seu torpor. Quase funcionou. Quase. Mas Nestha ainda sentia o formigamento abaixo de sua nova pele. Brilhante, lisa, perfeita. Sua pele não humana. Ela ainda sentia a mordida fria do líquido negro dentro do Caldeirão. E toda vez que ela fechava os olhos por tempos demais ela ainda via a face do maldito que fizera com ela, mesmo que ele estivesse morto. Que ela própria tenha arrancado sua cabeça de seu pescoço. Ela ainda o via, pronto a mata-lo, a matar a ambos.

Essa era a pior imagem. Cassian, quebrado e destruído, protegendo-a. Ela não precisava de proteção! E ainda assim o idiota tentou protegê-la. Mesmo quebrado, mesmo sangrando, mesmo que eles não tivessem chances sozinhos. E então ela ficou sozinha, na mesma cabana que ele durante três meses. E se Nestha achou por um momento que ele deixaria de ser o arrogante presunçoso, ela estava errada.

A fêmea respirou o ar gélido da brisa que soprou em seu rosto antes de dar a volta e caminhar pela bagunça do quarto em direção ao banheiro. A fêmea quase não reconheceu o rosto que a olhava de volta pelo reflexo do espelho. Tinha se passado mais de um ano e ela ainda olhava para si própria sem reconhecer. Os olhos azuis como um lago congelado, frios, mas ainda assim com um brilho. O rosto anguloso, as maçãs das bochechas naturalmente coradas, os lábios vermelhos. A fêmea ligou a água da banheira, ajustando, e esperou encher enquanto regulava a respiração para entrar. Talvez ela não entrasse mais em pânico ao ter que entrar em algo que a lembrasse aquele maldito dia, mas as lembranças ainda vinham. Mesmo que ela tenha se recusado a se lembrar.

Ela retirou o vestido, a roupa de baixo e entrou, segurando a pequena bucha antes de começar a esfregar contra a pele como se ela pudesse lavar os toques. Ela esfregou, até que a pele estava vermelha. Ela esfregou antes de afundar sob a água.

"— Você não pode se auto flagelar dessa forma, Nestha! — ele praticamente gritou. — Chega, isso não é bom para você.

Cassian gritou pela enésima vez quando descobriu que ela havia tentado fugir para os lençóis de algum macho illyriano desavisado.

Príncipe das SombrasWhere stories live. Discover now