CAPÍTULO 68

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O macho a olhou de baixo para cima mais uma vez, notando realmente as diferenças desse a última que vira a fêmea. Sim, ele pensou, ela estava diferente, mas o olhar assassino que nesse momento lhe era direcionado, ah... Esse olhar era o mesmo que ele incitou nela. Era o mesmo olhar que ele via quando ela estava a frente da Legião Vermelha como sua comandante, como sua maior General. Ykner sabia que, embora ela pudesse lhe odiar — o que sinceramente, ele adorava sobre ela — ela não podia negar que fora ele quem a transformara na guerreira que ela de fato era. E ela deveria ser grata a ele, adora-lo por isso. Por esculpi-la, lapidar o poder que estava estagnado dentro dela. Poder esse que ele conseguia enxergar no olhar dela, quando eles fixaram o olhar um no outro.

O tempo de guerra havia chegado, e Ykner, por um momento pensou que havia perdido seu mais precioso bem, sua arma mais poderosa por conta de um maldito laço de parceria. Entretanto ele continuou agindo, porque era exatamente isso que ele queria. A guerra estava ali, e estava acontecendo, mesmo que as imagens que ele houveram lhe mostrando em seus sonhos... Ela estava aqui, porque sabia que tudo estava perdido. E ela se quer imaginava o quão certo esse pensamento estava, porque sim, o macho sempre soube que no final, ela cederia a ele, porque ele estava profundamente enterrado nela. Não apenas nas runas esculpidas contra a pele da fêmea, não somente nos desenhos entalhados, mas literalmente dentro dela, em seus ossos. Ele não seria tolo o suficiente para manter seu controle sobre ela em runas que poderiam ser facilmente apagadas de sua pele, apesar das runas de rastreio ter se provado inútil depois da batalha no acampamento dos morcegos bastardos.

Se é que aquilo poderia ser chamado de batalha, Ykner bufa com o pensamento.

E por isso, ele marcou mais profundamente, literalmente, dentro dela. Uma garantia de que, no fim, ela seria dele contra todos.

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Um arrepio longo e profundo subiu por sua espinha quando ela olhou ao redor mais uma vez.

Quanto tempo havia que não tinha estado naquele mesmo salão? Completamente ensanguentada, quebrada e torturada implorando para que fosse ajudada, e mais uma vez, fora lançada aos cães. Olhando agora parecia que uma eternidade havia se passado desde aquele dia, quando ela fugiu mais de uma vez e se o encontrou, em meio ao sangue, em meio as sombras, em meio ao caos.

O rosnado que soou a sua frente fez o estômago da fêmea embrulhar, ele ainda estava sentado sobre o trono de mármore cor de marfim, as gavinhas de poder em forma de fumaça densa como pequenas vinhas ao redor do trono, quase deteriorando as pontas de mármore em cima, ondulando venenosamente abaixo. Embora ele ainda permaneça sentado, sobre o trono, ele tinha modificado sua pose imponente, ambos os pés no chão, a postura mesmo que desleixada ao estar com cotovelos sobre as coxas, as mãos juntas abaixo o queixo forrado pela barba escura, ela podia ver a sombra do sorriso maldoso moldando os lábios cheios, e ela sentia acima de tudo, o terror líquido com o olhar gélido que ele lhe lançou.

— Ora, ora. Olá, princesa. — sua voz causou aquele mesmo arrepio através da coluna da fêmea. E ele sentiu isso, quando o sorriso se alargou ainda mais insano em seu rosto.

A sensação gritante de perigo soando alto através dos escudos de sua mente.

— Pensei que não viria, o tempo estava quase se esgotando afinal. — ele diz, e Callyen tem de travar os dentes mais firmes  para impedir que as palavras erradas saiam de sua boca, assim como a sensação de ânsia em sua garganta.

— Eu não tive bem uma escolha entre vir ou não, não é? — questionou, a voz carregada da mesma tensão que emanava de sua postura.

Ykner quase sorriu para isso também, ela estar na defensiva não era algo que ele de fato esperava da fêmea. Em outros tempos ela já o teria atacado, pronta para arrancar seu coração de dentro de seu peito e sorrir sobre o seu sangue... Ele já a vira fazer isso. Diversas, inúmeras vezes, a maioria delas em seu favor, em seu comando. Afinal, fora para isso que ela fora treinada. Para matar. Para ser dele.

Príncipe das SombrasWhere stories live. Discover now