Olho para o estrago na minha panturrilha esquerda, havia um corte, grande, na vertical, um pedaço de osso branco fincado contra a carne lacerada. Enrolo meus dedos contra o osso, respirando rapidamente antes de puxa-lo de uma vez da ferida. Não segurei o grito de dor dessa vez.

Azriel!

Eu grito através da ponte e novamente, a escuridão silenciosa me recebe. Inferno! Porra, por favor...

Azriel!

Eu tento novamente, e mais uma vez, nada.

Corto um pedaço de tecido da bainha da camisa de malha abaixo da armadura, não importando com a sujeira e o suor, eu a prendo firme contra a ferida aberta em minha perna. Gemo dolorosamente quando refaço o nó firme e forço meu corpo a levantar, a caminhar. Ao redor o restante da batalha pareceu passar em câmera lenta, as tropas illyrianas eram borrões de asas negras lutando contra as bestas aladas de Ykner, então a nuvem negra bateu contra eles, um a um eles caíram. Eu orei aos céus e ao inferno para que nem Azriel nem Cassian estivessem ali.

Por favor...

Um lobo de água passa correndo ao lado, indo na direção a frente no declive acentuado que levava a parte intensa da batalha, e então eu o segui. A fera de água correu, avançando contra o pescoço exposto de um dos generais da Legião, o corpo caiu decapitado quase que imediatamente, quando Feyre move a mão para o lado oposto a fera avança contra outros dois soldados. No lado oposto, a nuvem violeta escura passou pelos soldados da legião, deixando apenas o pó negro no lugar. Observo Rhysand no centro do poder escuro, mas nem mesmo ele foi rápido o bastante para deter a lança de ponta azulada banhada em veneno refinado de Ykner que, literalmente, atravessou o peito de Feyre.

O grito que escapou dos meus lábios não foi nada comparado ao dele. Quando seu Poder se desprendeu e o engoliu, quando eu segurou o corpo de Feyre nos braços, eu sabia, eu sabia que ela estava morta. A nuvem de poeira se levantou furiosamente, e levou a todos na circunferência ao redor, dizimando os soldados, aliados, inimigos, quando ele caiu com sua parceira nos braços.

O ar se prendeu em minha garganta, queimando, apertado, eu podia ouvir a pulsação acelerada em meus ouvidos, todo meu corpo dormente. Foi minha culpa, era minha culpa... Era minha culpa....

Minha culpa. Minha culpa. Minha. Minha.

Não pare.

Me virei, começando a caminha para leste, em direção ao monte que levava ao precipício da linha do mar. Então eu vi, o corpo de Cassian caído, as asas... Ele não tinha asas. Simplesmente não estava lá. Assim como o brilho da vida em seus olhos antes divertidos, debochados. Não havia nada lá. E mesmo assim, eu conseguia sentir a acusação silenciosa da morte nos seus olhos. Minha culpa.

Minha culpa.

Fixei meu coração a continuar batendo, forcei meus pulmões a puxarem e exalarem o ar manchado de sangue e morte quando eu subi a colina para o monte. Eu o chamei novamente, sendo recebida pelo silêncio profundo e escuro através da ponte. Eu me agarrei a isso ao menos, se a ponte estava ali, isso significa que eu não o havia perdido, certo? Eu estava sendo egoísta. Uma maldita egoísta. Mas eu parei para pensar no pensamento acusatório, eu podia parar. Não agora.

Até que o vi. Sobre o monte a frente, próximo a beirada, Ykner estava de pé, o sorriso torto irônico marcando o canto dos lábios erguidos, deixando a cicatriz em seu supercílio ainda mais marcada, seu olhar completamente negro, mais louco. O brilho prateado da lâmina cintilou em sua mão quando ele a girou entre os dedos, ofuscando minha visão. A Reveladora da Verdade. Eu a havia perdido durante a batalha.

Príncipe das SombrasWhere stories live. Discover now