Raiva

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Olá querida Raiva,

          Sinto que estamos bem íntimas ultimamente. Você é desconcertante, e domina boa parte dos meus movimentos, mas estou reconhecendo a força de ação que você é. Queria te perguntar se é isso mesmo, se você vem quando precisamos mudar? Acho que não é assim todo o momento, ou para todas as pessoas.

          Você sempre apareceu para mim com muita indignação, de como eu deixei tudo isso acontecer. A verdade é que não sei, tem coisas que fogem do meu controle, ou melhor, acontecem pela maneira como estava. Acho que é esta a questão, como me abandonei desses jeitos? Entendo a consternação.

          Às vezes não encontro soluções melhores. Pergunto-me se sei o que significa melhor. Acho que precisamos de alguns erros e sinucas de bico para olharmos em lugares que nos passaram despercebidos. Muitas vezes você foi o meu alerta, de que eu podia fazer diferente, de que não preciso concordar. Quero te agradecer.

          Julgam tanto você, e te colocam como culpada, mas você não se acomoda, você se revolta e muda tudo a sua volta se assim for desejado e necessário. Muitas vezes não tenho forças para lidar com você, ou acho que não tenho, talvez só seja falta de foco. Entendo que você precisa vir com força para me chacoalhar. Quero te agradecer por isso, embora às vezes queira te xingar.

          Nossa relação é intensa, mas não sei se você é amena com alguém. Talvez não tenhamos nada de especial. Sempre tive pressa de que você fosse embora logo, pois sempre te achei inconveniente, aquela pessoa que fala muito alto, que atrapalha todo o espaço. Aprendi assim, mas estou vendo que você é necessária, e talvez mais cuidadosa do que me ensinaram.

          Quero dizer que está tudo bem. Pode ficar o tempo que for necessário. Vou tentar te ouvir com mais cuidado. Espero que possamos conviver com mais harmonia.

Vemo-nos no jantar.

Beijos,

Eu.

CorrespondênciasWhere stories live. Discover now