Escolha

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Oi Escolha, como estão as coisas por aí?

Chamei você no singular, mas ultimamente você tem sido mais plural que nunca. Cada dia você chega diferente, no que eu menos esperava, em coisas que achava que nem me importava, mas parece que exatamente tudo importa, numa leveza e numa intensidade que parece estar sendo o cenário típico desse momento.

Será que nós banalizamos a vida? Ou banalizamos a morte? Será que só podemos contar com a sorte? No começo dessa pandemia confesso que me irritei demais com você, porque precisava escolher, mas não podia escolher o contexto, e tudo virou tão de cabeça para baixo que sei lá, não estava entendendo o que você estava querendo. Não que agora tenha entendido, não é isso, só parei de me perguntar coisas desnecessárias para me fazer as perguntas necessárias para o momento.

Fico sendo efêmera com você porque é engraçado a sua materialidade, sutil e mundana, acho que talvez você esteja mais próxima da gente do que todo o resto. As vezes ainda parece que estou exagerando, mas as pessoas certas estão vindo ao meu encontro, então tudo se acalma, mesmo nesse caos desenfreado. Nesse momento, escolher está sendo bem fácil, inadiável e uma ação consciente, cheia de responsabilidade. Pode ser que a vida só esteja cobrando da gente o que estamos fazendo, que nem mãe puxando orelha.

Enfim, aprendi como funciona o seu mover, essa dança livremente bela que você tece pelo espaço, acho que agora consigo ouvir o ritmo para dançar junto, afinal, já treinei tanto tempo. Fico sempre feliz em te ver por aqui, acho que o problema vai ser o dia que você não existir.

Passa mais tarde pra tomar um café, vou fazer um bolo, a gente senta lá no fundo que é aberto e tem mais espaço.

Até!

CorrespondênciasWhere stories live. Discover now