Tempo

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Oi Tempo, como você está?

          Acho que vou precisar ser mais informal com você, embora a maioria das pessoas pense o contrário, a realidade é que você está aqui o tempo todo. Que ridículo falar isso! Você é feito de extremos, extremamente efêmero e extremamente tangível. É assustador falar com você, pois não tem um detalhe que seja possível esconder.

          Eu sei que na maior parte dos momentos a gente não se entende - e é bem difícil não ficar me referindo a você a todo instante! - porque você parece sempre sabendo mais do que a gente. É frustrante tentar conversar com você, pois nada te tira do sério. Isso te deixa muito sério! Você diz que todas as mudanças estão no planejado. Acho que a verdade é que não existe planejado, pois não tem futuro que encontre passado.

          Não sei ainda dizer se você é o mais simples ou o mais complexo. Tem momentos que penso que tudo é um grande acaso, e as coisas parecem tão horrorosamente simples, rudimentares. Mas em outros momentos penso que você não é nem um sentimento, é uma noção, um conceito, relativo, cheio de razão e emoção. Talvez você seja tudo isso.

          Queria ter uma relação mais amena com você, mas, no geral, sinto que estamos dançando músicas completamente diferentes, e só as vezes que os nossos compassos compõem uma harmonia que ninguém esperava. Talvez esse seja o seu prazer, simplesmente viver.

          Não sei se é porque sou gente que temos tantas complicações. Você é o tipo de coisa que quanto mais tempo juntos, menos entendemos. Parece que até consigo ouvir sua risada debochada quando falam que você é sábio. Você não existe, somos nós o tempo todo. O tempo, o todo.

          Já planejei com muita ambição, e fiz mudanças de magnitudes inimagináveis. Achei que isso seria uma coisa que iria mudar, mas continuo fazendo tempestades para desconstruir algumas muralhas que me prendem. Às vezes só me sinto uma asneira.

          Como nos fundimos em um, ou sempre fomos assim e nos separamos em algum momento, acho que vamos voltar a nos falar. Mesmo sem querer. Só não sei em qual tempo isso vai ser.

Até breve,

Eu, escrevendo de um momento de tormenta.

CorrespondênciasWhere stories live. Discover now