Desespero

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Olá meu indesejado amigo. Já relutei muito nessa vida antes de te chamar de amigo, pois tinha um ódio quando percebia você vindo, mas agora vejo que você até que tem algumas nuances interessantes. É, até que, porque ainda é difícil valorizar todo o seu absurdo. Seria mais fácil se você não precisasse existir.

Acho que é todo esse mundo, esse sistema moribundo, que fica criando demanda para o desespero, para nos perdermos, para deixarmos de tudo o que somos e o que já sabemos, em busca do mínimo. Não queria ser rude, mas é isso, você é o mínimo, quando não temos o básico para sobreviver, de dinheiro, de afeto, a gente vai correndo para você. Não te acho de todo mal, pois você consegue despertar uma potência em nós que muitas vezes deixamos adormecida, mas não te acho harmonioso.

Acho que é isso, consegui pontuar o que queria. Você pode despertar uma força maravilhosa, mas parece que na maior parte das vezes desperta o pior que podemos ter. Não sei quando essa pandemia vai acabar, e me assusto pensando até onde irá o limite das pessoas. Estou tentando no meu máximo não ser catastrófica, mas está sendo desafiador manter o mínimo de sanidade, não digo mais nem o otimismo porque acho que já viramos a curva da esperança.

É isso que a vida vai ter para nós? Uma geração pobre, que estuda demais, recebe de menos, está sendo privada dos mais variados direitos. Estamos nos sustentando no desespero? Pelo o que mais precisamos brigar? Queria que você deixasse o meu lado, mas acho que você está se instalando nos nossos hábitos. Acho que deveria ficar mais no presente, mas esse não está sendo o melhor momento.

Ligo mais tarde.

Até.

Eu.

CorrespondênciasWhere stories live. Discover now