32 - Who tells your story?

Začať od začiatku
                                    

Não lhe restou mais nada além de desmontar do animal e amarrá-lo junto à Thunder. O nervosismo tomando conta de seu corpo, suas mãos suadas e sua respiração acelerada.

— Parece que não fui a única a ter a ideia de vir para cá como esperava. — disse Clarissa sem olhar em sua direção, o rosto virado completamente para a linda paisagem agora já conhecida por ambos.

Ruel não teve coragem para responder. O que achava um fato engraçado, pois já enfrentara exércitos e uma quase morte, mas ainda assim, não era corajoso o suficiente apenas para dirigir uma palavra para Clarissa. Ele não as mereciam.

Sentou-se ao lado dela com alguns metros de distância entre os dois.

Ambos ficaram em completo silêncio, apenas admirando a paisagem por longos minutos.

Ruel estava agonizando com uma questão que pairava sua mente desde o dia anterior. Lutou com todas as suas forças para ter coragem de falar.

— A senhorita acreditou em Thomas? — ele perguntou. Sentia-se pesado, como se tivesse feito um enorme esforço juntando cada letra, cada sílaba para formar a frase.

Pela primeira vez desde que chegara ali, Clarissa virou-se e olhou para Ruel. O jovem percebeu que seus olhos estavam vermelhos e inchados. Ela estava chorando. E ele automaticamente esqueceu do que estava falando anteriormente e focou apenas naquele detalhe.

— A senhorita está bem? — Ruel perguntou de imediato, encarando-a.

— Sim. — ela respondeu secamente, como se estivesse castigando a si mesma por permitir que alguém a visse chorar, e virou o rosto limpando os olhos.

Ruel percebeu o pequeno ato evasivo e entendeu que não deveria insistir. Queria trocar de assunto, começar uma conversa que durasse mais de dois segundos, mas parecia que a coragem havia lhe deixado sozinho novamente.

— Não lhe reconheci ontem, Ruel.

Dessa vez ela que pronunciou as palavras. Clarissa usara o primeiro nome do duque, o que não soou despercebido aos ouvidos de Ruel.

— Perdi o controle, sinto muito. — ele abaixou a cabeça encarando suas mãos. Uma delas enfaixada. Era tudo o que conseguia dizer. "Não foi assim que lhe criei, rapaz", ele ouvia a voz de seu pai lhe repreendendo.

— Nunca te vi assim. Você parecia prestes a matá-lo com suas próprias mãos. E iria se Joshua...

— Não sou o mesmo Clarissa! — Ruel falou em voz alta, irritado — O menino que conheceu, não existe mais. A senhorita conheceu Ruel, uma criança com tempo livre, feliz com uma família e uma vida perfeita. Agora, aqui estou eu, Rueloff Vincent van Dijk. Duque de Norfolk, órfão com responsabilidades demais e uma guerra para administrar. Por favor, não aja como se fossemos a mesma pessoa.

Clarissa o observava agora. Assustada e com cautela, mas compreendia. Um pequeno corte acima de sua sombrancelha direita, a maçã esquerda do rosto com uma cor um pouco roxeada devido à pancada da mão de Thomas. Os cabelos dourados escorridos partidos no meio, desgrenhados pelo vento. As pequenas costeletas uma de cada lado do rosto. Os olhos verdes, sem brilho, opacos. Um menino que perdeu tudo cedo demais, com responsabilidades de um adulto. O que havia de fato acontecido em Amsterdã? O que a vida havia feito com seu Ruel? Com aquele menino sorridente, cavalheiro e sempre brincalhão?

Ruel interpretou o olhar de Clarissa de maneira errônea, acreditando que ela estava preocupada apenas com suas cicatrizes físicas que estavam à mostra.

— Não quebrei nada, apenas um inchaço na mão e alguns arranhões no rosto. Já enfrentei coisas piores.

Clarissa botou os pensamentos de lado, como que escondendo o que pensava antes que ele descobrisse.

Through the time • RuelWhere stories live. Discover now