Capítulo 20: Devil's Girl

478 35 19
                                    

"Eu cruzei a linha porque eu quis;
Não há nada morto na minha cabeça;
Eu sou os meus próprios erros;
Essa escuridão é apenas quem eu sou;
E eu sei, eu sei, eu sei;
Está me puxando para baixo;
Eu sou a garota do Diabo agora."
– Devil's Girl, Melody Michalski.


Havia uma beleza mórbida no céu nublado e chuvoso de New Orleans, embora a garoa tenha tornado o caminho até o Bayou mais difícil. Com uma mala pesada em cada mão, o salto das botas castigando seus pés e a ausência de uma sombrinha para protegê-la da chuva, era surpreendente que Alexis não houvesse desistido de sua jornada até o coração do pântano. Mas não era como se a jovem Suprema estivesse pensando em qualquer uma destas coisas, bolhas nos pés e um resfriado não eram nada comparado ao que se passava dentro dela.

Após quase uma hora de árdua caminhada, Alexis chegou ao seu destino. A cabana de Misty estava vazia, como ela imaginou que estaria, e sem parar para raciocinar que poderia destrancar a porta com o auxílio da telecinese, Lexi esticou a manga da blusa para proteger a mão e a atravessou em punho pelo frágil vidro da janela, quebrando-o em pedacinhos. Sentindo os dedos latejarem com o impacto, ela alcançou o trinco da porta e o puxou, abrindo caminho para dentro da casa.

O cheiro de mofo dentro da construção de madeira estava insuportável, e não era para menos, visto que há quatro anos ninguém entrava ali. Em meio a uma crise de espirros ocasionada pela poeira, Alexis largou as malas no chão e encarou seu reflexo no espelho sujo e trincado, um pouco assustada com o ninho que a chuva havia feito em seu cabelo e a vermelhidão que as lágrimas causaram em seus olhos. Ela nem notou que havia chorado tanto. Mas aquele era o último de seus problemas, quando quisesse ir embora, daria um jeito em sua aparência abatida e voltaria à orla da floresta onde chamaria um uber para apanha-la, agora, precisava resolver pendencias mais urgentes. Quando os espirros deram trégua, Alexis tirou as botas e o casaco e voltou para a rua.

Com os pés descalços em contato com a grama lamacenta do pântano e sua recém-adquirida supremacia, ela podia sentir a força da natureza pulsando ao seu redor. Como uma bruxa apegada aos tempos ancestrais, Lexi sempre se imaginou como parte daquele todo, ainda que somente uma gota em um vasto oceano de poder e vitalidade. Aquele era o seu domínio, e ela nunca esteve tão forte. Alexis era a brisa suave, o canto dos pássaros, a chuva gelada e o solo fértil. Ela era a própria terra... e unir-se a qualquer um dos lados naquela guerra era negar sua identidade. Michael iria destruir tudo, e Mallory se apropriaria do que lhe era mais sagrado para ressignificar como um santuário dedicado ao seu divino pai e ao deus que serviam. Em ambos cenários, ela saía perdendo.

Sem mais lágrimas para derramar, Alexis caiu de joelhos no chão, enfiando seus dedos compridos no solo o mais fundo que podia, querendo expandir a conexão entre bruxa e natureza tanto quanto fosse possível.

— Se você está aqui, se alguma vez esteve, por favor, mostre-se. – ela implorou em um murmúrio, sua voz misturando-se aos sons da vida no pântano. — Apareça em visão, sussurre no meu ouvido, me acerte com um raio se quiser. Mas mande um sinal, por favor, por favor.

Ela não especificou sua prece, mas o apelo foi feito para quem pudesse ouvir. Fosse o rei que morria todos os anos ao decorrer das estações, que vinha na forma do deus menino e do pai guerreiro, ou da rainha que era eterna, quisesse ela se mostrar como a donzela, a mãe, a anciã ou a própria morte.

Mas ao decorrer dos minutos que pareceram horas em que Alexis esteve ali, ajoelhada e toda suja de lama, nada de extraordinário aconteceu. Lexi continuou a ouvir o mesmo canto dos pássaros, a sentir a mesma chuva no rosto e o mesmo cheiro de grama.

"Não há ninguém aqui." Ela pensou de coração partido. "Nunca houve."

Alexis levantou-se e voltou para a cabana. Sua ida até o pântano fora uma última tentativa desesperada de encontrar uma terceira alternativa para aquele conflito, uma maneira de mostrar o dedo do meio para Deus e Satanás, provar a ambos que o mundo, o seu mundo, permaneceria do jeito que sempre esteve. Mas se tinha de escolher entre entregar seu domínio e vê-lo queimar, seu orgulho – e em alguma parte profunda, seu coração – optava pela destruição.

BelieverWhere stories live. Discover now