Capítulo 16: Devotion

395 35 5
                                    


"Devoção me salve agora, eu não quero desviar do solo sagrado;
Eu mandarei a tentação embora;
Estou pedindo para você me levar à salvação desta vez;
Perdoe meus pensamentos antes de dormir;
Perdoe estas palavras que ainda direi, sinto-me tão envergonhada;
Agora você parece tão distante, tanta confusão anuvia minha mente;
E eu não sei qual caminho seguir."
– Devotion, Hurts.


Por quase duas semanas, a rotina na casa de Madelyn continuou a mesma, com o estudo bíblico começando pela manhã e encerrando-se ao cair da noite, e uma vez ou outra, escapadas de Michael para reuniões na Kineros, proporcionando a Alexis merecidos descansos para sua mente. Em suma, tudo parecia igual, mas desde a noite em que o anticristo passou horas chorando aninhado ao corpo da bruxa, o coração dela se apiedou, tornando-a muito mais permissiva em relação às investidas do garoto.

A princípio, os gestos eram sutis. Michael gostava de apoiar a cabeça na curva do pescoço dela quando estava cansado, abraça-la pela manhã assim que saía da cama, e deitar-se em seu colo todas as vezes que a encontrava esparramada no sofá assistindo os filmes retro que ela tanto amava, fingindo que também tinha interesse naquelas velharias entediantes em preto e branco. Em retorno, Alexis beijava-lhe a testa antes de dormir, passava horas com os dedos enterrados nos cachos dourados, e nos dias em que ele ousava mais, fingia não ver as mãos enormes pousadas em suas coxas, embora fosse difícil ignorar o formigamento que aquele toque acabava lhe causando alguns centímetros mais para cima.

Ainda que aquele tipo de carícia incomodasse Alexis – justamente por causarem sensações que ela temia não conseguir resistir – ela tolerava, porque Michael a respeitava e nunca passava dos limites, bastava um olhar para ele entender que era hora de parar. E para além do carinho físico, o tempo que os dois passavam juntos não tinha mais apenas fins acadêmicos, as conversas evoluíram para o âmbito pessoal, tornando o vínculo muito mais forte.

Naquela noite em especial, após passarem o dia inteiro debatendo a queda dos condenados, a dupla escapuliu para o terraço, dando privacidade à Madelyn e seu visitante misterioso, que ela jurava de joelhos diante de um altar de Satã ser Ryan Reynolds.

Eles estavam deitados em cima de uma manta, observando o céu estrelado. Alexis estava com a cabeça nas nuvens e as bochechas coradas, culpa do vinho caríssimo que havia surrupiado da adega de Madelyn antes de subir, e que Michael tirou de perto dela após a terceira taça.

— Eu odeio quando você bebe. – Michael justificou-se quando ela começou a resmungar.

Alexis riu, lembrando-se do ocorrido de duas noites atrás. Fora um dos dias em que Michael precisou ir pessoalmente até a Kineros, e ela, com tempo livre e saudade de sua vida boêmia, resolveu ir sozinha a um Beach Club no litoral de Los Angeles. A bruxa voltou de madrugada, bêbada feito um gambá, dando de cara com um Michael furioso e preocupado esperando por ela, que precisou se prestar ao papel de segurar-lhe os cabelos e vê-la vomitar com a cabeça enfiada no vaso sanitário.

— Só odeia porque não sabe o que está perdendo. – falou de forma descontraída, chegando mais perto e apoiando a cabeça no braço dele. — Qual é a sua constelação favorita? – ela perguntou aleatoriamente.

— Aquela do arqueiro, qual é mesmo o nome?

— Orion. – respondeu Alexis. — É a minha também. – ela já havia explicado para ele a história daquele desenho no céu e sua importância para a mitologia grega, e de como quase o marcou em sua pele mas amarelou no último minuto ao descobrir que a costela era o local mais doloroso de se tatuar. — Você acha mesmo que é o Ryan Reynolds lá em baixo com Madelyn? – Lexi mudou de assunto novamente, tagarelando de pauta em pauta como sempre fazia ao menor sinal de álcool em seu organismo.

BelieverWhere stories live. Discover now