Capítulo 10: Awakening

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"Olhos vermelhos e pés descalços;
Indo para esta jornada, determinada a vencer;
É o adeus, é a boa noite;
A última vez que ela verá a luz do dia;
A luz do dia."

– Awakening, Aurora.


Madison e Zoe retornaram com as cinzas de John Henry ao anoitecer, quando tudo já estava ajeitado para a realização das Sete Maravilhas. O grupo de oito precisou ir até a casa de Behold, a um bairro de distância do hotel, para que pudessem fazer todo o necessário sem a interrupção de terceiros.

Mallory se apresentou para o teste vestindo roupas pretas com bordados de ouro, o inseparável rosário no pescoço e uma de suas tiaras douradas na cabeça. Um bálsamo para os olhos, não fosse o pequeno detalhe das lágrimas que molhavam seu rosto e todos os outros sinais de que chorou por muito tempo.

"Bela, enfeitada e triste, como um cordeiro a ser sacrificado pelo bem do povo." Alexis pensou ao ver a adolescente iniciar as provas.

As primeiras seis maravilhas, Mallory tirou de letra, até mesmo o Descensum, geralmente deixado para o fim por ser o mais desafiador, foi dominado por ela em questão de minutos, um feito que nenhuma das outras bruxas, mesmo as que passaram por aquele teste, poderiam almejar. O mistério da noite era saber se ela seria capaz de recriar a vida tendo como auxílio apenas sua força de vontade e um punhado de cinzas.

"Michael fez o mesmo com Misty... mas ele não é um bruxo."

Vitalum Vitalis. – Mallory pronunciou as palavras em um latim fortemente afetado pelo sotaque do nordeste americano.

O dom da vida, a Maravilha que separou Alexis da supremacia quatro anos antes. Se tivesse sido capaz de passar no último teste e se tornado a Suprema, estaria ela agora morrendo também? Ou, por ser mais jovem que Cordelia seria também mais forte, e mais preparada para lutar a guerra que os espreitava? Nunca saberia.

Vitalum Vitalis. – a garota repetiu o encantamento, colocando mais força em suas palavras.

Foi a única dificuldade de Mallory, que continuou a repetir e forçar até seu esgotamento, fazendo seu nariz sangrar, o rosto enrubescer e os olhos arderem em lágrimas. Ela não parou até que as cinzas de John Henry, que jaziam no chão aos seus pés, entrassem em combustão, ganhassem uma textura de terra e que dela a vida brotasse como plantas nascendo do solo fértil.

Mallory se afastou, cambaleando, sendo amparada por Coco e Zoe, enquanto os outros observavam, abismados, o corpo do bruxo ganhar forma, até o ponto onde voltou a ser um homem de carne e osso. Segundos que pareceram horas se passaram até que John recuperasse a consciência, e Mallory, por consequência do feitiço, perdesse a sua.

— Mallory? Mal! – Coco se desesperou ao ver a amiga desmaiada em seus braços.

— Controle-se mulher! – Madison irritou-se com a histeria da outra. — Isso é perfeitamente normal.

"Sim, Delia também desmaiou quando concluiu seu teste... mas Michael não." Lexi refletiu.

— Não se exaltem agora. – Cordelia tentou manter a ordem. — Behold, ajude-me levar John até o seu quarto, Myrtle, Bubbles, venham comigo. Meninas, levem Mallory até o quarto de hóspedes e tomem conta dela.

Leve como uma pluma, o corpo de Mallory foi erguido por suas irmãs sem grandes esforços e levado até o quarto indicado por Behold. Elas colocaram a jovem na cama e, incapazes de fazer algo além de esperar que ela acordasse, velaram seu sono com impaciência. Mal não estava inquieta, não gritava e nem dava sinais de que o faria, mas a expressão em sua face passava longe da calmaria, era certo que estava sendo contemplada – ou amaldiçoada – com visões e sonhos premonitórios. Em situações como essa, Alexis sentia-se grata por ter falhado no teste, seus sonhos já eram perturbadores o suficiente para uma bruxa, não queria nem imaginar o quão piores seriam se ela fosse a Suprema.

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