Capítulo 18: May The Angels

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"Que os anjos se curvem para você;
E coloquem as penas em baixo de seus pés;
Que os anjos preencham seu vazio;
Guiem e iluminem o seu caminho;
Mas eu não posso, e eu não vou."

– May the Angels, Alev Lenz.


Uma chuva fina e gelada castigou New Orleans na manhã que sucedeu a morte da Suprema. O trajeto da marcha fúnebre até o cemitério Lafayette tornou-se árduo com o caminho cheio de poças enlameadas e uma fileira de guarda-chuvas pretos chocando-se uns contra os outros.

Alexis não gostaria de estar ali, exposta à cidade inteira e seus ritos funerários ultrapassados, liderando a horda de bruxas que seguia o caixão, lutando para permanecer seca em baixo da sombrinha que protegia a ela e a Madison da chuva. Qualquer outro lugar no mundo seria melhor, mas Alexis forçou-se a ficar, ela era, afinal de contas, a líder presuntiva do Coven até que Mallory fosse anunciada oficialmente como a nova Suprema, e ela sabia que estava honrando a memória de Cordelia ao suportar aquela tradição.

Quando o grupo chegou à cidade dos mortos, a situação não melhorou. Ao invés de enterrarem o caixão logo de uma vez, precisaram ficar de pé por mais meia hora ouvindo a ladainha de um sacerdote católico pregando os benefícios da vida pós-morte daqueles que se mantinham fies durante a existência terrena.

— Por favor, alguém me mate. – Alexis sussurrou para si mesma.

— Pare com isso, Lexi. – Madison a repreendeu, agarrada ao braço dela como se fosse cair se o soltasse. Era a forma de a atriz demonstrar que estava ali pela mulher que era, acima de tudo, sua amiga. — São apenas palavras vazias, não significam nada.

— Ambas já tivemos prova o suficiente de que significam sim. – a bruxa retrucou amarga.

Madison não discutiu, sabendo que era a mistura do luto e da conformação que deixavam o humor de Alexis ácido, e ciente de que deveria sentir-se aliviada por ela estar reagindo de forma razoável diante da perda de um ente querido.

"Não posso acreditar que este também será o meu fim." Alexis falava sozinha na privacidade de seus pensamentos, observando com melancolia o jazigo triplo onde Fiona estava sepultada, onde Cordelia estava prestes a ser enterrada, e que também seria seu local final de descanso dali a cinquenta anos ou menos. Provavelmente menos, levando em consideração que ela agredia o próprio corpo com o consumo excessivo de álcool e nicotina desde o início da adolescência, mas não era o tempo que lhe restava que a preocupava, e sim o que a esperava quando aquele tempo acabasse.

— Quer dizer alguma coisa, filha? – o padre perguntou gentilmente ao fim de seu sermão.

"Joga-lo neste buraco junto com o caixão." Pensou, deixando sua intolerância falar mais alto.

— Não. – Alexis negou. — Ninguém quer. – ela se adiantou em falar antes que alguém resolvesse estender o tempo maçante que passou ali. — Vamos acabar logo com isso.

Os coveiros movimentaram-se para descer o caixão e lacrar o túmulo, e apesar de ser uma cena desconfortável de se assistir, Alexis já havia se lamentado o suficiente na noite anterior, e manteve-se firme durante todo o processo. O mesmo não pôde ser dito de Myrtle e Misty, que se desmanchavam em lágrimas, ou de Zoe, Queenie e até de Madison, que choravam de forma contida junto das outras bruxas. A única outra mulher além de Lexi que não estava chorando era Mallory, mas isso também não queria dizer que ela sentia menos.

Quando a cerimônia acabou, os seguranças e motoristas do Coven foram chamados e levaram suas protegidas de volta à Robichaux. Uma vez segura na tranquilidade de seu lar, Alexis achou que finalmente poderia repousar seu corpo cansado da caminhada do centro da cidade até o Lafayette, mas não foi possível: Mallory pediu para conversar com ela antes.

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