Trinta e dois

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— Mas, preciso admitir que mesmo em minhas mais emocionantes jornadas, meu coração clamava por um lugar que eu possa chamar de lar, onde uma bela mulher esteja me esperando, de braços abertos para receber todo o meu amor.

Flora, que estava distraída olhando as flores amarelas recém-abertas, viu de relance quando Amelie revirou os olhos e não escondeu o sorriso. Henry recebeu aquilo como um encorajamento e apoiou sua mão na dela. Flora o encarou a tempo de perceber o olhar sério com que ele lhe observava.

— Acredito — ela começou a dizer, percebendo que deveria dar uma resposta — que embora uma aventura tenha sua cota de emoções, sempre é bom ter um lugar onde possa ter a sensação de domesticidade e a segurança de um lar. — E aquilo de repente soou como uma verdade incontestável para ela.

— Você é uma mulher preciosa, Flora — Henry declarou sem esconder a satisfação de ouvir aquelas palavras. — Sou muito sortudo porque meu coração se aprisionou a uma mulher como você.

Aqui o coração da princesa acelerou e ela esperou que ele dissesse algo em relação ao previsto — e esperado — casamento dos dois. Embora Henry nunca tivesse se esforçado para esconder o afeto que sentia, sempre mencionava apenas a expectativa com o baile de apresentação, quando, ela sabia, seu pai passaria a receber os pedidos oficiais de casamento. Porém, ele beijou a mão dela e a olhou intensamente, talvez esperando que Flora tomasse frente diante do assunto. Contudo, ela foi incapaz de dizer algo.

— O que acha de pararmos ali, naquela sombra? — O príncipe apontou para um espaço embaixo de uma frondosa árvore. Flora concordou e eles caminharam até um dos bancos de madeira que ali se encontrava.

Amelie manteve certa distância, mas não o suficiente para que a conversa do casal ficasse longe de seus ouvidos. Quando eles se sentaram, ela passou a recolher algumas pequenas flores alaranjadas que brotavam ao redor, entretanto, com os ouvidos muito bem atentos ao que acontecia entre os dois.

Henry manteve a mão de Flora na sua quando se sentaram, ainda que isso não fosse tão apropriado. Contudo, eles estavam quase comprometidos, ela pensou quando ele a encarou e perscrutando seu rosto, ergueu as sobrancelhas.

— Você me parece mais corada — ele disse em tom lamuriante, tocando suavemente nas faces da jovem. — Sua pele não está mais branca como porcelana. Pelo grande guerreiro Silos, espero que até o baile possa recuperar sua cor.

Flora engoliu em seco surpreendida com a fala e com os dedos que passeavam livremente por seu rosto até alcançar seus lábios. Henry desviou os olhos para ali, mas não se atreveu a aproximar.

— Pensei que a encontraria mais abatida, pálida e com olheiras profundas nos olhos — ele disse, desviando de seus pensamentos o real desejo do momento. — Mas ao invés disso, me parece com ainda mais vigor.

Flora suspirou.

— Henry...

— Faz parte do tratamento — Amelie interviu na conversa com coragem, recebendo olhares confusos por parte dos dois. — O médico receitou que a princesa tomasse várias horas de sol para ajudar a combater a apatia que lhe sobreveio, e pelo visto funcionou mesmo. Por isso ela se encontra assim, colorida pelos raios do gigante astro solar.

Henry não escondeu o quanto ficou chocado com a intromissão de Amelie. Para ele era inconcebível que uma simples criada falasse pela princesa, e isso porque ele não tinha se dado conta de que ela estava de fato ouvindo a conversa deles. Flora mordeu o lábio sem saber o que fazer.

Ela poderia concordar com a história de Ame, mas, ao pensar na possibilidade, no mesmo instante lhe veio a mente uma repreensão na voz de Phillip.

A princesa desacertada (e seu irremediável destino)Onde histórias criam vida. Descubra agora