A criatura afundou ainda mais suas unhas em meus ombros e uma dor lancinante tomou conta de mim. Quando me dei conta, sangue jorrava pelo meu braço, vindo tanto de minhas asa como de meu ombro.

Não eram unhas normais, eram garras imensas. Garras poderosas que poderiam perfurar ossos...

- Venha até mim - A criatura cuspiu uma ordem para fêmea e deu um chute em minhas costas.

Cai de cara no chão. Uma dor insuportável irradiava por todo o meu corpo, mas utilizando do resquício de força e de dignidade que ainda me restavam me virei. E então vi o que estava diante de mim, desejei nunca ter virado...

Se sobrevivêssemos, aquilo assombraria meus sonhos para sempre. Os olhos eram negros como um céu sem estrelas, no lugar do nariz havia fendas horríveis e os dentes... Os dentes eram enormes e afiados. Nunca em minha vida tinha visto uma criatura como aquela, que exalava podridão.

Era como se aquela criatura não pertencesse ao nosso mundo. Como se tivesse rastejado de onde a própria escuridão nascia.

A criatura exibia os dentes de forma prazerosa ao me ver impotente no chão. Suas amarras invisíveis ainda sufocavam meu poder, ainda drenavam minha energia.

- Mais rápido, menina - Ela ordenou a Agnes com olhos famintos - Me deixe avaliar seu corpo melhor.

Agnes começou a se mover e ao passar por mim tocou em meu braço ensanguentado como se estivesse se despedindo, como se aquela caminhada fosse sua jornada para a morte certa.

- Vejo você no além mundo, General - Agnes disse.

A criatura riu da cena com prazer, como se nossa aflição tivesse o sabor do mais doce dos vinhos em seus lábios.

Agnes estava diante dela, e a criatura usava de suas mãos esguias para avaliar de forma exploratória cada centímetro do corpo da fêmea. Ela gesticulara e agora Agnes dava voltas em torno dela para que ela a avaliasse melhor.

Então a criatura ordenou que ela parasse e Agnes obedeceu. Após uma longa avaliação, utilizando de uma de suas garras enormes, a criatura levantou o queixo da fêmea disse:

- Esse corpo será meu, menina.

Um longo sorriso se abriu no rosto de Agnes quando ela disse:

- Não, acho que hoje não. - A voz dela era triunfante ao dar um longo passo pra trás.

Surpresa dançou nos olhos negros da criatura.

- Banque a donzela indefesa e seu inimigo te subestimará. Banque a donzela indefesa e ele não verá o que está acontecendo bem diante de seus olhos. Banque a donzela indefesa e se torne a predadora, e de seu inimigo sua presa - Agnes cantarolava vitoriosa enquanto apontava para baixo.

De fato, a criatura estava ocupada demais para perceber as marcas que Agnes desenhava com o sangue do meu braço diante de si. Estava distraída demais para perceber que enquanto dava voltas em torno da criatura Agnes a prendia em um círculo com marcas estranhas. Marcas que eu nunca tinha visto em toda minha vida.

Ódio. Ódio gélido estava estampado no rosto daquela criatura. De alguma forma as marcas que a fêmea desenhou no chão e diante de si a haviam aprisionado dentro daquele círculo.

Em todo momento Agnes foi a caçadora e não a caça, em todo momento ela mantivera tudo sob controle. O medo estampado em seu rosto era apenas uma máscara para a predadora que espreitava sob sua pele.

Ela era um lobo em pele de cordeiro.

- Wyrd - A criatura urrou de ódio contra as marcas.

A contenção da criatura pareceu libertar a pressão que ela fazia contra o meu poder. Os ferimentos recentemente abertos começavam a se fechar lentamente.

CORTE DE SOMBRAS DA LUAWhere stories live. Discover now