38.3. Point Of View Iris Cygnet

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Quinta-feira 10:24 PM

Ocasionalmente, eu me desligava, como um controle automático. Eu conseguia pensar em qualquer coisa, me desconectar da realidade e de tudo que acontecia ao meu redor. Colocar em pause, ou apenas fazerem todos calarem boca.

Um talento aperfeiçoando com o tempo.

Não tinha outro canto a me apoiar a não ser a parede da porta do quarto de Maven, pois a tempos já havia sido arrancada do seu lado. Eu precisava me manter tranquila, apesar do meu coração parecer uma metralhadora.

O ambiente se dava em uma discussão desenfreada que não tinha previsão de fim. Meu pai, tornando um flagra, Maven e eu aos beijos, um motivo para criar o pior alvoroço.

Ele não sabia, e eu sempre pensei que se descobrisse, teríamos problemas. Mas o modo, nos pegando na cama de Maven eu parcialmente descontrolada, lamuriando seu nome em um sussurro. Cacete...

E vendo a situação assim, algo tão nefasto quanto pegar sua filha em beijos tão salientes com o filho da sua namorada, dava para entender, no mínimo um pouquinho, sua irritação explícita.

Ele não me culpava, por nada do que havia acontecido. Culpava Maven.

Maven não queria se calar, e até eu, lutando para não prestar atenção e me esconder daquela conversa, percebia isso, o quanto ele estava com raiva, de repente, colocando para fora tudo que nutria por meu pai. Sua mãe tentava intervir, implorando para que se calasse, e então tentava conversar com meu pai, afim de pelo menos entender o que havia acontecido.

Ela havia chegado logo, segundos depois do meu pai me afastar de Maven em um puxão, o intitulado de "desgraçado abusador". Então como fogo na pólvora, a discussão calorosa começou.

"Da pra você colocar para funcionar seus dois neurônios que não sucumbiram a velhice e nos deixar em paz? Qual é a merda do seu problema?!"

Aquilo foi Maven.

Eu podia tentar ignorar, mas as palavras soltas faziam pressão, se sobressaindo como raios.

"Você não faz ideia de onde está se metendo, garoto!"

Eu não estava nem olhando, mas os movimentos de Maven tampavam o céu da varanda. Assim sendo, o quatro riscado a lápis da silhueta de uma mulher nua, pendurado na parede escura corredor, junto a porta do quarto Maven, podia ter minha atenção.

"Maven, pelo amor de Deus! Fique quieto."

Ela parecia solitária. A mulher do quadro, é de quem eu pensava. Solitária, mas ao mesmo tempo, cheia de si mesma. Talvez o jeito que abraçava o próprio corpo, ao tempo e que não demostrava fraqueza. Qualquer outra coisa, menos fraqueza.

Olhei de relance para a cena mais uma vez. Coitada de Elara, ela não podia nem achar que tinha a situação em controle. Era perceptível ver sua sanidade sendo soterrada aos poucos, a cada grito ou xingamento, que eu continuava me esforçando para não ouvir.

— Iris! — Maven...

— Minha filha — então meu pai...

— O que?

Os três pararam e me encararam, finalmente dando atenção a mim. Eu não queria essa atenção. Eu ficaria feliz em apenas deixar eles discutirem pelo resto da noite.

— Vocês dois... — a mãe de Maven induziu, ainda procurando entender tudo.

— Nós vamos embora — meu pai a interrompeu, se aproximando de mim. No entanto, Maven tomou a frente, intervendo-o.

— Não — ele se colocou em minha frente, e meu pai parou. Maven estava realmente o transtornando, e eu desconfiava que ele fazia aquilo de propósito. Eu acreditava que meu pai não seria capaz de partir para cima de Maven, assim como eu pensei que ele faria quando só me puxou para longe dele, mas não era impossível. — Mãe! — ele exclamou, como se rogasse por algum tipo de apoio. — Eu não abusei de ninguém! E quem está fazendo isso aqui é você! — vociferou para o homem a sua frente.

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