CAPÍTULO 8

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Jason Narrando

Meu suor desceu mais quente que água fervente. Estava derretendo em um lugar gelado. Meramente isso está acontecendo pelo sentimento que você está acumulando agora. Como um frio no pé da barriga. Minha respiração parecia invisível, estava sem fôlego e com uma vontade insaciável de desmaiar sob aquele chão frio.

Meu coração estava acelerado e pôs a acelerar mais ainda após meus olhos curiosos se depararem com aqueles olhos castanhos.

Minha vontade era de gritar imensamente como uma criancinha a procura do seu pai.

Lembrei-me da minha infância traumática, se é que posso dizer que tive infância naquela época.

Talvez esse tenha sido o resultado do meu próprio eu, a tortura vívida em minha infância me fez ser mais frio do que todos pensam, aquela pessoa séria que não dá a mínima para quase ninguém.

As agressões que presenciava todas as horas não passavam de um gatilho para eu estar prestes a cometer um terrível suicídio. Todos pensam que, uma criança não tem alma ou até mesmo não tem cérebro ?

Acordava com gritos e dormia com gritos. Minha mãe uma mulher nova e carismática tinha de viver com um homem alcoólatra que não lhe dava nem uma oportunidade sequer de esquentar o jantar outra vez.

" Mariana ? Não esquentou a comida para seu marido! " Era o que ele perguntava todas as vezes em que chegava bêbado e não pensava duas vezes em tirar a cinta para agredir uma mulher que sempre vive cansada trabalhando de empregada para o nosso vizinho.

Meu cérebro não conseguiu semear todo aquele desprezo e sofrimento que vivi a presenciar em minha infância. Foi nesse mesmo período que me joguei em frente a um carro branco de marca Chevrolet.

Meu ódio não estava mas cabendo dentro de mim foi por esse motivo que cometi esse pequeno erro, qualquer criança traumatizada faria o mesmo, assim eu creio.

Mas, vivo sempre dizendo que foi um erro me jogar em frente a um carro porque, eu não teria conhecido a Alice se o motorista não estivesse dado a ré a tempo.

E assim, eu vim sobrevivendo, gritos e agressões. Meus amigos não sabem desse assunto por completo, e ficaram sem saber não desejo falar a eles, não quero que eles tenham pena de um garotinho que quase cometeu um suicídio.

Quando larguei os pensamentos passados e voltei ao meu presente percebi que aqueles olhos já não estavam mas em minhas mãos. Olhei para o chão e os vi, ali. A única coisa que restava agora era a gosma nojenta que se apegou ao mesmo de um jeito que desejei que ela desaparecesse no mesmo instante.

Andei até uma das paredes de gelo, ali passei minha mão para desapegar da gosma que já estava me deixando agoniado. E foi naquele mesmo momento sem dar nenhum passo para a frente ou para trás que me deparei um a palma de uma mão manchada a sangue.

A palma estava tão visível que senti uma ventania nas costas, obviamente era a vontade de sair correndo dali.

O formato era enorme, provavelmente de um adulto, um homem. O mesmo que por ali passou e encontrou com algo que desejou não encontrar.

Aquela marca de mão me fez repensar em toda a minha vida e em todas as viagens feitas com meus amigos.

Primeiramente pensei no sorriso meigo da Alice. Olhando para as paredes divididas com um pouco de dificuldade por conta da baixa iluminação. Vi em pontilhismo o rosto da minha mãe, era algo que provavelmente estava sendo formado pela minha imaginação.

Um barulho de porta bater foi escutado por mim. A porta da nosso antiga casa que estava a ranger como todos os dias, sinal que meu pai tinha acabado de chegar. Uma rotina que jamais irei esquecer.

A visão em pontilhismo gerada por mim desapareceu em algum momento que nem sequer cheguei a perceber.

Passei um dos meus antebraços nos olhos que caíram lágrimas de recordação.

Minha doce mãe que não deveria ter levado uma vida daquelas. Meus olhos voltaram para a parede de gelo que ainda acolhia aquela mancha que logo percebi que era real. E que não fazia parte do pontilhismo ou da minha imaginação.

Continuei a andar e andar. Não estava mais me preocupando com quem ou com o quê eu iria me esbarrar a diante.

Não importa se há animal ou criatura, o que eu queria mais uma vez era ver aquele pontilhismo que me fez chorar.

Lembrar de um passado traumatizado é difícil, muito difícil de se esquecer, nós que semeamos toda aquela desgraça nunca se esquece, nem dos mínimos detalhes.

Alice Narrando

Percebi que aquele senhor estava descansando ou estava morto, não quis dar nenhum passo a frente. Esperei ele acordar, enquanto estava ali caído com o rosto virado para o lado oposto. Analisei suas vestimentas, roupas simples, uma calça jeans escura e um par de botas enormes que não caberia em meus pés.

O homem estava com um roupão de cor bege, uma touca de tecido macio própria para a ocasião.

A pele dele era escura, um negro bonito que pelo corpo daria um belo modelo.

Eu agora estava sentada em um canto que não estava manchado a sangue. Olhei para o alto e vi que estava encurralada dentro de uma enorme cratera circular. Os dois espaços formavam o símbolo infinito. Ou no formato do oito deitado para ser mais específica e detalhista.

O lugar era estranho, nunca vi nada parecido antes. Em um canto tinha um bolo de neve macia.

Serviria como um….. ninho ?

Meus olhos se arregalaram. Vários pensamentos chegaram até mim, pensamentos que me faziam acreditar que estava dentro da casa errada. Um ninho ou a toca da criatura que saiu correndo minutos atrás.

O que irei fazer agora ? Sair correndo feito louca e abandonar o que realmente vim fazer aqui ?

Continua....

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