CAPÍTULO 3

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Por mais que eu seja burra eu sabia que aquele desmaio do Gregory não iria durar muito tempo. E, todos nós, principalmente estes que estão aqui agora nessa cabana devem saber que um cirurgião nunca faz seu trabalho com o paciente acordado.

O sangue ainda estava a despejar, o garoto não poderia perder muito,  ficaria fraco, isso complicaria mais ainda, foi o que multiplicou o nosso desespero.

- Eu vi uma uma caixa de primeiros socorros, eu tropecei nela, foi assim que o armário se rompeu. Vi outra, uma velha de ferro com cartas de pessoas que passaram por essa cabana, vejam, por isso os nomes e detalhes nas paredes! - Me esbanjei pelo chão a procura da caixa, em meio a tanta poeira pela primeira vez não me importei em me sujar. Encontrei ela próxima aos pés da cama, injeções comprimidos, tranquilizantes, e uma pistola sinalizadora estava ali.

- Isso não é o suficiente, precisamos de agulha e linha resiste para fazer a costura da primeira camada de pele até a parte funda do corte que por sinal é a mais delicada - Edward foi o primeiro a se movimentar assim que entramos na cabana e colocamos Gregory na velha cama. Ele tirou o lençol deixando até as pernas do garoto, fazendo sinais com os dedos indicador nos mostrando onde deveria ser costurado.

Ed só aceitou vir a essa viagem porque saberia que se alguém se machucar ele estaria lá. Um enfermeiro de sucesso que não deixaria seus amigos na mão.

- Ele está suando - Ed me olhou com tristeza.

- Isso significa que.. - Jason falou, se recusando terminar.

- Significa que ele está acordando e que precisamos andar bem depressa. O corte foi fundo na parte esquerda, seja lá o que for que fez isso com ele rasgou a primeira camada de pele se aprofundando na parte mais importante do estômago. Tudo indica que o ferimento foi feito por um.. - Animal - Terminei o que ele obviamente iria falar.

- Jason - Nicolas o chamou depois de muito tempo quieto.

Ele o olhou nos olhos.

- Se for para fazermos isso temos que fazer juntos ! - Nicolas pegou em sua mochila de viagem que carregava nas costas o tempo todo uma garrafinha de água. Tirou a última blusa que estava em seu corpo, uma branca que estava debaixo do roupão  molhou com o pouco de água e passou sobre o rosto do seu filho. Seu corpo veio a amostra, um abdômen bem fresquinho parecia me chamar, meus olhos se tornaram vítima daquele corpo.

Não pude deixar de admirar. Um homem forte de pele clara apenas com algumas mechas de cabelo branco, coisa que não me importava. Seus antebraços estavam marcados a veias e sua boca me manipulou me incentivando a chegar mais perto do seu corpo. A calça estava quase toda caída, a sunga box estava mostrando as palavras " Calvin Klein Jeans " . Quando meus olhos estavam a descer fui interrompida com a voz do Jason:

- Apreciando a vista Alice ? - Jason perguntou com um som de provocação em sua voz,  provavelmente me fazendo enlouquecer de vergonha.

- E você apreciando também Jason ? - Olhei fundo em seus olhos procurando a mesma timidez que a minha, ele me analisou dos pés a cabeça e falou:

- Tenho outras coisas melhores para apreciar - Seus olhos visitaram meus lábios molhados com pouco batom, depois desceram mais abaixo aproveitando o decote da blusa de manga que estava um pouco a amostra já que o roupão cobria maior parte. Seus olhos analisaram tão fundo que desceram até minhas curvas a blusa terminava um pouco acima do umbigo, ele analisou bem cada detalhe com muito cuidado.

- Não é tudo que se deve apreciar Jason ! - Seus olhos se assustaram quebrando o clima dos seus olhares que voltaram diretamente para minha boca.

Segurei os dois lados do roupão que havia deixado o zip aberto e os fechei.

- Deixem de conversa fiada, não sabem ficar um minuto em silêncio - Ed começou a cafangar bem baixinho vendo que nossa conversa estava a lhe incomodar, não estava acostumado com a tal situação delicada que veio de última hora.

Os hospitais que sempre frequentou em todas as cirurgias os técnicos de enfermagem e os demais faziam um castigavél silêncio. Ele sempre falava por cada hospital que passava.

Pude ver Amanda colocar um líquido dentro da injeção que foi direto para a veia do garoto.

Decidi ajudar também, me pus de pé após horas sentada no cantinho da cama próxima aos pés de Gregory.

Procurei pelas diversas cartas que ainda tinha ali, olhei uma por uma nenhuma delas falava onde tinha mais remédios ou curativos.

Meus olhos já estavam cansados de tanto folhear cartas atrás de cartas. A tensão crescia, o garoto despejava mais suor e o pai dele permanecia em silêncio apenas observando.

Uma última carta estava dentro de um livrinho velho, parecia ser uma agenda. Ali tinha anotações e a carta escondida em sua última folha.

Peguei mesma e pus a ler

24 de Abril de 2023,

Sete dias já se passaram. Quatro dos nossos sete amigos morreram, agora resta apenas eu o Santiago e o médico. Estamos todos inseguros do que esteja lá fora.   

Algo de estranho aconteceu nesta manhã. O Santiago desapareceu a única coisa que eu e o médico ouvimos foram gritos desesperados. Eram dele, eu tinha toda certeza do mundo. O médico foi procurá-lo com seus equipamentos cirúrgicos caso ele tenha quebrado alguma membro. Estou só, quando fui procurá-los estavam todos os dois mortos em uma caverna juntamente com mais de um milhão de ossos humanos e restos de corpos ainda com carne e sangue. Saí correndo desesperado, tropecei em uma pedra rochosa forrada a neve por acidente desloquei meu pé. Vim o caminho inteiro se arrastando até a cabana.

Receio que estou com medo, medo do que quer que seja que os devorou e acabará me devorando.

Está carta termina aqui !

- Quanto tempo temos até o Gregory acordar ? - Perguntei ao nosso enfermeiro enquanto ele observava Jason limpar uma enorme quantidade de suor do garoto.

Houve um silêncio ali, ambos se olharam. Estavam me escondendo algo, perguntei mais uma vez quanto tempo o garoto tinha. Ed me olhou todo atordoado recuperando o tempo em que perdeu com pensamentos negativos e me respondeu:

- Talvez umas 2 horas ou até menos, a quantidade do suor está aumentando, as chances são muitas dele já está morrendo. - Foi o que ele disse me olhando nos olhos sabendo que eu já tinha algo em mente.

Voltei a sentar no mesmo canto estreito em que estava a algumas horas atrás morrendo de frio. Agora estava com medo e insegura.

Gregory ainda estava deitado, uma lanterna pequena que veio na viagem está nas mãos do Jason mirando atentamente para a barriga do garoto, vendo o que poderia ser feito naquele momento para salvar a vida de garoto.

- Eu tive uma ideia que talvez dê certo, não há nenhuma outra opção que possa resolver o problema que estamos agora  - Me levantei do lugar onde estava e exclamei chamando atenção de todos que estavam ali.

- O que houve Alice ? - Jason me analisou

— Eu achei esta outra carta, vocês precisam ler ! — Puxei a carta que havia encontrado quando estava sozinha na cabana, entreguei o mesmo para a Amanda.

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