CAPÍTULO 1

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O

frio ainda estava a predominar naquele ambiente, ninguém sabe o tamanho do meu desejo por um sol muito quente naqueles minutos em que estava paralisada de frio, o gelo já deveria ter tomado toda a parte do meu corpo, minha respiração permanecia ofegante, a única coisa quente naquele momento que no entanto não era suficiente para me aquecer.

Pus a lembrar dos momentos mas felizes e marcantes de toda a minha vida.

Lembro-me como se fosse hoje, fui presenteada com uma caixa pequena e quadrada no verão anterior. Quem me deu esse presente ? Só poderia ser o papai, um homem velho de aparência serena, olhos cinzas que pareciam me confuscar até que me rendesse aos seus olhos. Sempre foi assim, uma mentira qualquer papai começava a me olhar com seus olhos que sempre detectava as minhas expressões de nervosismo e meu rosto vermelho como um tomate.

Quando toquei na caixa com detalhes de ursinhos, olhei pra ele com um sorriso malicioso e o abracei, um abraço quente e consolador, seus abraços insistiam em me deixar na ponta dos pés.

Um homem, magro e alto com 1,89 de altura e barba rala. É impossível não ter que ficar na ponta dos pés quando se tem um pai alto.

Ainda com a caixa nas mãos, estendi uma delas para abri-la. Encontrei logo de primeira, papéis brancos de material barulhento arrastei os mesmos para fora e me surpreendi com fitas que me impulsionaram ao desejo de querer voltar no tempo e reviver tudo de novo. Nem que seja só mais uma única vez.

Fitas de cada ano, nascimento, primeiros passos e assim por diante. Gravações feitas pela mamãe que hoje não se encontra mais aqui.

Não era só fitas, era todo o meu passado, minha única existência e recordações. Momentos felizes que passei com a mamãe que sairá em alguns momentos do vídeo.

Me prendi a elas e logo em seguida, não pude negar o desejo de vê-las em frente a minha tevê. Mas, porque só agora essas fitas chegaram até minha mão ?

A vida é cheia de segredos obscuros, segredos que você nunca saberá. A não ser que escolha se aprofundar no assunto e investigar.

Minha vida se resume entre isso e muitas coisas que, em breve serão ditas.

Meus pensamentos se perderam e vi que ainda estava ali, encolhida na maldita cabana. Pude sentir o frio tocar em meus braços que estavam descobertos e no corpo apenas uma blusa de manga por baixo que dizia I love the South Pole e por cima o caso que ganhei.

A blusa detalhada estremeceu-se com meu corpo após uma enorme ventania adentrar me fazendo fechar os olhos.

Os pelos entre si arrepiados, deitada sobre o chão de madeira clara no canto da cabana em lugar estreito, abraçando a mim mesma como uma concha na esperança de me aquecer.

Um enorme armário de ferro não muito resistente estava do outro lado da parede de madeira, foi aí que algo me trouxe esperanças de que poderia sobreviver e não custava nada ao menos tentar.

Com muito trabalho, me pus de pé. As costas queimaram como se estivessem a pedir para não me movimentar.

Era como se uma grande porção única de gelo se rompesse a uma pedra resistente que ali se quebrará ao meio.

Soltei um leve gemido de dor, as pernas estavam paralisadas como as de um deficiente solitário em uma cadeira de rodas a anos, a calça jeans estava toda empoeirada do chão que estava sujo desde muito tempo.

Minhas pernas estavam tão mortas do que vivas que estavam a aparecer que haveria mergulhado em um mar de água gelada por horas.

Meus dedos se movimentavam dentro do tênis branco que já não era mais branco.

Os mesmos estavam tão aquecidos ali que me trouxe uma sensação de alívio e esperança, os pés eram a única coisa que estava aquecida o suficiente para me dar os primeiros passos até o armário de ferro.

Andei com muita dificuldade até ele e comecei a arrastá-lo até o canto da parede, o armário por sua vez estava pesado parecia que milhares de livros velhos estavam ali tomando conta dele.

A cada passo que estava a dar junto com o armário uma esperança de vida vinha, dando ao meu coração uma oportunidade.

Tudo mudou e a sensação de aquecimento melhorou mais ainda quando sem querer tropecei em uma caixa pequena e laranja.

O armário se despencou, o cadeado que nele estava guardado as velharias se rompeu após bater em uma ponta aguda de um baú de ferro resiste.

As velharias eram trajes de frio, roupas aquecedoras próprias para a ocasião, sem pensar que meu plano seria um fracasso, arrastar o armário até o outro lado da parede colocando ele de lado e assim servir como um refúgio estreito que possa ser que minha respiração me aqueça.

As chances de que isso desse certo seria de 23% mas a pequena caixa alaranjada me salvou dessa ideia que provavelmente não daria certo.

Meu desespero soou como um cachorro enfurecido por um pedaço de carne, avancei de um jeito tão rápido em meio aqueles roupões, que já estava a imaginar o aquecimento gratificante que estava prestes a vim.

Agarrei o mesmo e logo o aquecimento do meu coração me deu a oportunidade de coloca-lo o mais rápido possível sobre meu corpo.

Já não sentia mais o mesmo petrificado de gelo, a emoção falou mas alto que não conseguia mais me importar com o que estava a sentir e sim, em me aquecer até os meus amigos chegarem.

Pude sentir o frio indo embora, e só depois de uns 30 minutos se aquecendo, me aproximei até a pequena caixa laranja que minutos atrás era invisível aos meus olhos.

Ali continha cartas de pessoas que possivelmente já estiveram ali naquela velha cabana.

17 de Abril de 2023

Minha vida está sendo um transtorno, o perigo nós persegue e o único refúgio é essa cabana, pelo menos aqui eu sinto que o frio não irá me condenar, não mais.

Meus 7 amigos que veio a essa expedição ou aventura seja lá o que for ou como quer que seja chamada. Todos eles estão mortos, sentiram a dor, as garras do perigo que lhes arrastaram para o lugar mais profundo e escuro abaixo do gelo.

Espero que essa mensagem seja passada às poucas pessoas que cheguem a essa cabana. Há algo ainda não descoberto que está a sacanear todos nós. Algo inteligente demais para ser um animal.

Rick Monday


A carta terminou ali mesmo, meu estômago esfriou, me trazendo uma sensação de peso e ansiedade. Seja lá o que for que atormentou aquele aventureiro, está prestes a nos atormentar também.

Perdidos no Polo Sul Onde as histórias ganham vida. Descobre agora