Como diabos eu poderia questiona-lo sobre isso, sobre algo que eu tomei de sua mente num momento de fraqueza. Respiro profundamente, inalando partículas de água fria dissipadas pela cachoeira e o cheiro dele, característico no ar frio da noite.

— A respeito disso... houve algo naquela caverna que eu vi em você. Algo que diz respeito a mim.

Azriel estava sentado nas pedras, os pés também para dentro da água, os olhos voltados para frente. Ele sabia. Sabia que eu tinha visto, sabia o que tinha visto e ainda assim...

— Porque não me contou? — questionei quando o silêncio, ao invés de confortável, tornou-se incômodo.

O homem entretanto, não mencionou uma única palavra enquanto permanecia com o olhar direcionado para frente. Bufei uma risada desgostosa. Então era isso... Ele não mencionara, apenas porque ele não estava confortável em aceitar algo tão grandioso que esse... laço significava.

Ou porque simplesmente eu era quebrada demais para que ele pudesse contentar em unir os pedaços, quando eu era a maior culpada e responsável pela vigente ameaça de paz e liberdade que ele e os seus tanto sacrificaram para alcançar. O gosto amargo e o arrepio lento da decepção me tomaram quando esse pensamento pareceu ter mais sentido. Inferno, eu também não me contaria se realmente fosse isso suas motivações.

— Cada um tem seus próprios demônios para enfrentar no escuro, Callyen. — Azriel diz depois de um suspiro lento, finalmente depois do tempo que pareceu uma eternidade, virando-se para me olhar. — Você está lutando com os seus nesse exato momento, e você ser minha parceira não mudará isso.

— E quais são os seus, para me negar o direito de saber o que nós... o que possivelmente representamos? — ele não responde, e isso me frusta ainda mais.

Levanto-me abruptamente da pedra e saio, caminhando para onde eu havia deixado as botas, afim de pegá-las e voltar para a cabana, mesmo que sua presença lá também fosse inevitável, ao menos eu tinha o abrigo atrás da porta do quarto. Rapidamente entretanto, percebo Azriel ao meu lado, as feições ainda mais sérias que antes, quando ele segura meu braço mesmo que delicadamente e me força a parar para encarar ele de volta.

— Eu tinha o direito de saber por você, Azriel. Independente de quantos demônios estejam atrás de mim, ou quais sejam os seus para expulsa-los. — eu digo. — Eu não deveria ter visto num momento de fraqueza devido a maldita ação de um veneno na corrente, quebrando suas barreiras.

— Você não entenderia... — ele diz e eu prendo uma risada sem humor.

— O que eu não entenderia Azriel? Que talvez não seja o que você esperava, ou quem esperava? — lancei de volta para ele, embora o olhar de choque me denunciasse que ele não esperava por essas palavras, também apontou que ele não estava ofendido. — O quê lhe deu o direito de esconder um maldito laço de parceria?!

— Você. — ele disse simplesmente, e isso me calou por alguns segundos. Calou até mesmo as porcarias dos pensamentos que estavam pairando em minha mente, a ponto de me enlouquecer.

— Desde quando..? — questionei. Não precisei explicar muito a frase, ele soube no momento que questionei, e eu apenas esperei que ele dissesse.

— Eu desconfiei quando a encontrei no desfiladeiro ao oeste de Velaris, assim que me foi possível ver seu rosto. E tive certeza quando abriu os olhos enquanto eu segurava sua mão para que salvassem suas asas.

Puxei o ar, recordando-me disso. De como eu achei estar sonhando novamente, ao ver os pares de olhos dourados que sempre se mantinham no escuro de minha mente quando eu estava desesperada demais, ou prestes a desistir de mim mesma.

Príncipe das SombrasWhere stories live. Discover now