— Você é um porco, Cassian. — ouço a pequena mulher dragão rosnar ao meu lado, mas eu realmente não prestava atenção.

Engasguei. No momento que Cassian proferiu aquelas palavras as lembranças do que disse para Azriel, e pior, o que ele dissera, me invadiram como uma avalanche.

Não, eu prestava atenção no sangue que começou a ser bombado mais rapidamente em meus ouvidos enquanto eu permanecia congelada no lugar.

"Olhos lindos" Em nome dos nove círculos infernais eu não havia dito isso olhando para ele. Também não havia dito que o achava... Sinto-me queimando de dentro para fora quando eu me recordo do que estaria em falta desde que acordara.

Então me lembro, da sensação acolhedora que foi estar em seu braços, do cheiro, de... tudo. E não podia estar mais envergonhada com isso.

Fêmea cruel.

Foi o que achei ter ouvido quando tão descaradamente lhe supliquei por um beijo, de forma egoísta e totalmente alterada. E tão.... gentilmente ele negou. As palavras, as malditas palavras brilharam em minhas lembranças como um sinal de que havia algo que deveria estar ali, que eu deveria estar prestando atenção, embora eu não soubesse exatamente o que.

Quero que se lembre exatamente o que está me pedindo, e o motivo pelo qual estarei cedendo.

Sinto o sangue correndo mais rapidamente em minhas veias, aquecendo minha pele a medida que eu coro violentamente com as lembranças. De como ele lentamente me depositara na cama e me cobriu, e a forma como seu olhar denunciava os sentimentos que ele insistia em esconder, em controlar. Ou como descaradamente, pedi para que ele ficasse.

O sorrisinho debochado de Cassian alargou quando ele percebeu o que de fato eu havia me recordado. O maldito macho fez questão de mostrar isso, quando ergueu uma de suas sobrancelhas em desafio para mim.

Cretino miserável!

Travo os dentes fortemente, quando a risada estrondosa de Cassian se faz ouvir no meio do salão. Não ouso erguer os olhos para nenhum deles, especialmente para o Mestre Espião, mas eu sentia seu olhar sobre mim, queimando em minha direção, fazendo minha pele arrepiar.

Respiro profundamente e levantei os olhos pausadamente e vagarosamente para encarar o rosto do mestre espião que estava não tão distante. Ele me lançava um olhar divertido como se estivesse curioso de como me sairia daquela situação.

Desgraçado, lindo, mas um desgraçado. Senti as bochechas esquentarem novamente e graças a Mãe, Rhys disse ao meu auxílio:

— Sabe, você precisa desculpa-lo, ninguém quer se envolver com Cassian, então ele mata à vontade dele se envolvendo na vida alheia.

— Eu não diria que ninguém queira se envolver comigo... — o guerreiro Illyriano começa e eu lanço um olhar afiado, quando o corto:

— Não, só que quem você queria que se envolvesse, não está tão disposta, não é Cassian?

Vejo quando a centelha de ódio brilha em sua iris cor de amêndoas, e então eu lhe devolvo o mesmo sorriso maldoso que ele me lançou anteriormente.

— Você é cruel, garota.

— Cruel demais para você, Cassian? Não achei que você fazia o tipo que gostava das fácies...

Lanço, fazendo um segundo ponto a meu favor quando a centelha brilha com mais força em seu olhar e ele se contenta em comer o pedaço de pão que estava em seu prato. Ouço a risada vinda de onde o Grão Senhor estava sentando, e posso ver outros sorrisos satisfeitos. Ao que parece, não eram muito fácil calar Cassian e eu havia conseguido. Mais de uma vez.

— Boa sorte com essa coisinha pequena, irmão. Ao que parece a língua é mais afiada que sua espada.

— Podemos testar essa teoria enquanto eu te dou uma outra surra gratuita, Comandante.

Eu não levaria desaforos para dentro, ainda mais vindos de alguém como Cassian, mesmo que eu soubesse que cada uma de suas palavras fossem meras provocações sobre um vexame que eu dera antes. Mas, ainda assim, eu não deixaria barato. Noto pela minha visão periférica que Azriel ainda mantém o sorriso divertido nos lábios, ainda observando-me de onde estava, esperando que eu respondesse Cassian a mesma altura das provocações. Algo em seus olhos dourados expremia um certo orgulho que, de alguma forma estranha, senti-me orgulhosa também.

— Surra? Sinto informar, Cally querida, mas eu deixei que você me vencesse antes. Então, não se ache tanto. — o macho diz com um novo sorrisinho debochado, então foi a minha vez de erguer a sobrancelha em sua direção. Antes que eu pudesse falar, Rhysand intrometeu:

— Não foi o que pareceu... Para todos nós realmente pareceu que Callyen estava chutando sua bunda, Cass.

Cassian bufou, um tanto irritado e eu sorri com isso. Com a sensação estranha de felicidade que acometera aquele espaço, a sensação de... Família. Uma sensação acolhedora e quente que mesmo em meio a minha eu nunca havia sentido. Não havia estranhamento, naquele momento era como se eu estivesse sendo introduzida ao meio daquelas pessoas e elas estivessem me recebendo, ou uma grande parte dela pelo menos. Atrevo-me a erguer novamente o olhar na direção do mestre espião, apenas constatar que seu olhar ainda se mantinha sobre mim, e o mesmo sorriso lindo e cheio de mistério — que mesmo que eu tentasse ler através das paredes de obsidiana negra de sua mente, eu jamais desvendaria. Ele me olhava de volta, com uma intensidade que quase me fez desviar os olhos. Quase.

Eu queria questiona-lo. Sobre as coisas que eu havia dito para ele, sobre as coisas que eu vira dentro de sua mentes das vezes que, inconscientemente, eu fora abduzida para lá. Questionar sobre as palavras que ele havia me dito com tamanha convicção ontem a noite, e o motivo pelo qual eu confiava em cada uma delas.

A sensação de reconhecimento se arrastando por minhas veias, ossos e carne e pele. Eu sabia o que significava. Soube no segundo momento que fui direcionada para dentro de sua mente, no momento que o puxão se instaurou de ambos os lados, quando a sensação se alastrou. Mas... eu podia confiar? Eu poderia aceitar? Eu me sentiria suja... me sentiria... insuficiente para alguém como ele.

Foi com esse pensamento que eu desviei o olhar para baixo e fechei os escudos ao redor da maldita sensação que teimava em querer rodear e voltar minha atenção para ele.

Eu não permitiria quebrar. E eu sabia, que Azriel era a única pessoa capaz de derreter a minha alma. Se pudesse ser destruída, seria ele quem faria isso. E eu não poderia dizer que não ficaria feliz em ser destruída pelo toque de suas mãos, ou sob a análise de seu olhar de mel derretido.

Que a Mãe me salvasse. Pois eu já estava perdida.

 Pois eu já estava perdida

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