Os três pensariam juntos, se pudessem, numa solução para a situação. Contudo, o ambiente ao redor foi preenchido pelo som de risadinhas femininas e sedutoras, denunciando a presença das criaturas encantadas. Eles não estavam mais sós. Flora gelou dos pés a cabeça, incapaz de enxergar o que provocava o som tão próximo. Não sabia se estava realmente fora de perigo, ou se devia temer os seres desconhecidos.

— Flora! — Phil gritou alto. — Por favor, fale conosco. Flora!

— E-eu estou aqui — ela murmurou. Sentiu um arrepio quando uma lufada de vento denunciou que havia algo, ou alguém, muito próximo dela.

— Flora, caminhe até nós. Não posso ir até você — Phil disse, tateando o chão com os pés seguindo a direção da voz dela.

Flora reagiu. Segurou a lamparina com firmeza e caminhou com cuidado até onde os cavalos estavam. Com as mãos trêmulas, se agachou e acendeu a lamparina, sem ter certeza de que de fato gostaria de ver o que estava ao seu redor. As risadas aumentavam cada vez mais e Phil continuava chamando-a pelo nome.

Respirou fundo quando o fogo iluminou em volta de seu corpo e, com cuidado, segurou o objeto e se levantou, erguendo-o em direção aos homens.

Sua primeira reação foi de susto. Em sua mente havia formado as mais diversas imagens das criaturas encantadoras que enfeitiçavam os homens, mas, definitivamente não estava preparada para ver o que seus olhos contemplaram.

— Por mil pastos! — exclamou sem pensar. — Elas são... São... — E desatou a rir.

A risada histérica, acentuada pelo nervosismo anterior, despertou a atenção — e o mau humor — dos seres encantados que àquela altura rodeavam Philip e Jasper, entoando murmurinhos e risadinhas femininas em direção à suas presas.

Flora tentou manter-se séria, contudo, a ideia de que homens se deixavam levar por criaturas tão bizarras a fez perder novamente a compostura e gargalhar. Embora o som produzido pelas criaturas fosse tipicamente feminino, era impossível, apenas observando a pouca luz, definir a qual gênero pertencia, mesmo todas elas possuindo cabelos longos das mais variadas cores. Tinham a estatura e a estrutura corporal de uma criança humana, sem a presença das típicas curvas femininas que destacavam as mulheres e agradavam os olhares masculinos, embora as orelhas fossem extremamente pontudas e a pele tivesse uma aparência áspera. A pouca luz não permitia a princesa confirmar, mas parecia que todo o corpo era coberto por uma pelugem espessa.

— Flora, o que está acontecendo? — Philip questionou aflito ao perceber a reação inusitada da princesa, segurando sua espada firmemente. Além do que, aquelas risadas sedutoras estavam começando a incomodá-lo de uma maneira misteriosa.

— Está tudo bem, Philip. Eu peguei os animais e estou indo até vocês.

Flora respirou fundo, segurou a corda dos cavalos e estendeu a lamparina à frente, para iluminar o seu caminho. As criaturas não se moveram a princípio, mantendo sua atenção dedicada aos ouvidos dos dois homens. Havia, ao redor dos dois, cerca de sete ou oito criaturas, porém, era possível perceber que elas não estavam sozinhas. Poderiam ter dezenas delas nas sombras.

Uma pontada de medo alertou o corpo de Flora, quando finalmente o rosto de uma das criaturas se revelou. A face era fina, o queixo levemente pontiagudo, o par de olhos grandes possuía uma coloração esverdeada, com apenas um ponto central negro. A princesa continuou caminhando em direção aos dois homens, percebendo que, a medida que ela se aproximava, as criaturas recuavam alguns centímetros. Algumas continuavam com a atenção fixa às figuras masculinas, murmurando palavras cujo tom era suave, contudo, Flora não conseguia compreender o significado de nada que saia da boca daqueles seres.

A princesa desacertada (e seu irremediável destino)Where stories live. Discover now