capítulo 37

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Um simples giro do pulso poderia fazer a diferença entre golpear a alguém e cortá-lo. Pelo menos, foi isso que disse Lawrence.

De pé no quarto dele, com as botas pretas altas, o espartilho bem apertado, com as luvas pretas de couro até o cotovelo, Camila sustentava a vara e se sentia poderosa, apesar de que o único que estava açoitando era o travesseiro. Voltou a golpear.

— Não deve dar com a ponta. Se golpear a pessoa só com o extremo, deixará marcas embora não rasgue a pele — continuou Lawrence.

Estava sentado numa cadeira de respaldo alto do outro lado do quarto, dirigindo-a como o Francis Ford Coppola do sadomasoquismo.

Aproximou-se e pegou a vara.

— É de náilon ou de fibra de vidro? — perguntou.

— Não tenho nem ideia.

— Ok, tenta de novo. Voltou para seu assento.

Camila levantou o braço e golpeou de novo o travesseiro.

— Melhor — disse. — E lembre-se que a força do impacto é determinado pela rapidez com que desce a vara, não quanto músculo aplique.

— Não tinha nem ideia de que seria tão complicado — ela comentou.

— Requer um pouco de esforço e reflexão — explicou sorridente.— O que? Você pensou que era tudo diversão e jogos para mim?

Camila golpeou o travesseiro uma vez mais.

— Eu não sei se você foi muito precisa com esse, poderia lhe ter dado mais na parte superior das coxas que no bumbum. Tem que olhar isso.

Ela o olhou.

— É um travesseiro. Como posso saber onde está um traseiro imaginário?

— Eu admito, este exercício tem certas limitações. — Ele levantou da cadeira.

— Acho que é hora de passar para um palco diferente.

Camila se emocionou. Esperava que a levasse ao Quarto para poder vê-lo pela primeira vez. Mas então ela percebeu que ele tinha as chaves do carro na mão.

— Aonde vamos?

— Faremos uma saída de campo.

***

Se o clube tinha um nome, Camila não o viu lá fora. Dentro, estava muito escuro para poder ver.

Ela havia trocado de roupa e pôs algo mais normal, embora Lawrence tinha avisado que não estaria vestida por muito tempo. O clube tinha uma rigorosa política de "roupa interior ou menos" e tinhamos que entregar a roupa na entrada.

Camila se mostrou receosa, mas Lawrence assegurou que, uma vez que estivesse dentro, chamaria mais a atenção se fosse vestida que se deixasse levar e passaria desapercebida entre a multidão. Tinha certa lógica, mas ainda tinha um sabor ruim na boca, pela aventura no Hotel Jane e não estava pelo trabalho de "deixarse levar". Entretanto, a mulher da porta, de uns quarenta e cinco anos, não parecia absolutamente intimidadora e quando indicou a Camila que entregasselhe a roupa com tanta educação e naturalidade, ela cedeu. Não pôde evitar sorrir ao ver Lawrence despindo-se até ficar só com a bóxer.

— Não tinha pensando que a política de "roupa interior ou menos" incluiria você também. — comentou.

— Estou pela igualdade, neném — replicou.

Embora a noite tivesse dado uma volta inesperado, realmente já se sentia mais perto dele. E estava impaciente por ficar com a sessão fotográfica antes que a dinâmica entre eles voltasse a trocar para uma incerteza, ou antes, que ela simplesmente perdesse a coragem.

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