capítulo 29

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Como cada manhã, Camila despertou com o alarme de seu despertador, às sete e meia. Mas essa manhã descobriu Lawrence Jauregui dormido a seu lado. Ficou deitada enquanto a conversa da noite passada voltava a toda velocidade pela sua mente.

Não tinham saído de seu quarto. Ao final, emocionalmente exausta, ela vestiu uma camiseta de alcinhas, uma calcinha e se meteu debaixo do cobertor. Lawrence se despiu, pendurou sua roupa com cuidado no seu apertado armário e só com a bóxer deitou-se a seu lado. Camila deitou-se olhando para a parede, como habitualmente fazia, e ele se aconchegou nas suas costas. Inclusive quando deslizou a mão por debaixo da camiseta e a deixou apoiada sobre sua fresca pele, ela soube que, pela primeira vez, seu contato não se tornaria sexual.

Sabia que poderia ficar na cama a manhã toda, analisando a conversa e procurando algum indício ou pista que lhe dissesse o que deveria fazer. Mas não encontraria nenhuma.

A contra gosto, passou por cima dele, movendo-se com cuidado, até que pôde apoiar um pé no chão e logo o outro. Deu um pulo quando Lawrence esticou a mão e acariciou seu braço.

— Sinto tê-lo acordado — sussurrou.

— Aonde vai? — perguntou.

— Ao trabalho.

— Não vá — pediu.

— Tenho que ir — replicou. — Alguém tem que fazer.

— Eu também tenho que trabalhar hoje — resmungou, virando. Tinha uma barba por fazer e Camila sentiu o impulso de passar os lábios nela.

— Mesmo?

— Mesmo. Vou fazer umas fotos para W. Gostaria que não tivesse que fazê-lo.

Sentiu uma onda de ciúmes ao imaginar às modelos desfilando em frente a sua câmera, enquanto seus olhos as devoravam e sua mente se centrava unicamente em encontrar o modo de converter sua beleza em arte. Mas não, pensou. Ele disse que quando as olhava pensava nela. Embora isso não importasse, lembrouse. Queriam coisas diferentes. Ele nunca lhe daria o que necessitava. Essa relação, ao final, só lhe faria mal. Assim, por que não acabar agora com ela?

— Tenho certeza que vai se recuperar — disse, enquanto pegava de uma vez sua toalha do gancho da porta. — Vou tomar banho — acrescentou. — Não quero que esteja aqui quando sair.

Entregou-lhe o iPhone, pendurou a toalha ao ombro saiu.

***

— Senti a sua falta, Cabello. O velho balcão de empréstimos não é o mesmo sem a sua dotada presença para a tecnologia — disse Alex.

— Obrigada... — respondeu Camila.

Estavam reunidos no saguão de entrada, onde tinha sido convocado todo o pessoal para um ensaio da entrega do prêmio dos Young Lions. Margaret era a única ausente. Já havia dito a Camila que não tinha intenção de participar da festa de gala. "Nunca saio de casa depois das sete e meia da noite. E a festa de gala perdeu seu brio desde que faleceu o senhor Astor."

— E aqui, entre estas balaustradas, colocaremos a mesa para solicitar novos sócios — comentou Sloan.

Usava um vestido de linho azul marinho apertado na cintura e um colar de pérolas. O cabelo caía solto sobre os ombros e, rodava pelo grandioso vestíbulo, nunca a tinha visto mais imponente e bonita.

Camila imaginou-a nua e algemada, enquanto Lawrence lhe dava açoites na bunda...

— Camila, está entediada? — perguntou Sloan com os braços nos quadris.

Ela se deu conta de que todo mundo a estava olhando.

— O que? Oh, sinto muito. Não ouvi a última parte.

— Disse que Alex e você estarão na mesa dos novos sócios. Já sei quão suscetível é com suas tarefas, Camila, mas deixe-me lembra-la, e que lembrar a todos, que atrair novos sócios é um objetivo vital neste evento. Dinheiro, dinheiro, dinheiro! O amor das pessoas pelos livros não será capaz de superar esta crise.

"Como se soubesse algo do amor aos livros", disse-se Camila.

E então a viu. A mensageira tatuada estava atravessando as portas centrais.

"Oh, não", pensou Camila.

Virou-se com a esperança de que não a visse. Possivelmente a garota deixasse o pacote no balcão de devoluções. Possivelmente um dos estagiários assinasse a prancheta. Tampou o rosto com a mão, mas sentiu como Alex lhe dava uns tapinhas no ombro.

— Acho que tem visita — anunciou.

— Chist — advertiu-lhe.

Mas Alex estalou os dedos e fez sinais para a mensageira com a mão.

— O que estão fazendo? — perguntou Sloan, interrompendo-se na metade de uma frase para fulmina-los com o olhar.

— Ah, olá, está aqui. Hoje você está num lugar fácil — comentou a garota, enquanto se aproximava.

Camila sentiu que os vinte empregados ali reunidos, mais o grupo de membros do conselho, viravam-se para olhá-la quando a mensageira lhe entregou um envelope. Horrorizada, apenas pode segurar a caneta para assinar.

— Hoje não tenho que levar nada, né? — comentou a mensageira. Camila negou com a cabeça, desejando que Sloan continuasse falando em vez de olhar para ela fixamente e converter aquilo num espetáculo.

— Obrigado. Passe bem. — Camila não estava segura, mas pareceu que a garota dedicava um olhar coquete a Alex. Perguntou-se, se em algum momento, seu amigo se armou de coragem para falar com ela, depois de tudo.

Colocou o envelope debaixo do braço. Temeu que Sloan a fizesse abri-lo, como uma professora severa, para dar exemplo do que teria que fazer com alguém que interrompia a classe. Por sorte, a única coisa que recebeu foi um olhar de desgosto.

— Ninguém nunca fica entediado com você, Cabello — murmurou Alex.

***

Camila fechou a porta do banheiro e se apoiou nela. Antes que pudesse abrir o envelope, ouviu que alguém mais entrava no banheiro. Puxou a descarga para disfarçar o ruído do papel rasgando.

"Por favor, encontre-se comigo na Sala Jauregui às seis. Suponho que ainda lembre onde é.

L."

Camila rasgou o bilhete e o jogou no sanitário. Maldição.

Tinha sete horas para tentar esquecê-la. "Às seis nem sequer me sentirei tentada de ir vê-lo — pensou. — Irei embora da biblioteca sozinha."

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