capítulo 2

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Camila pegou o saco de papel marrom em que levava o almoço e se sentou lá fora, no alto da escada da biblioteca. Abriu a garrafa térmica de leite e contemplou a Quinta Avenida.

— É a nova bibliotecária? — perguntou-lhe uma senhora que se deteve seu lado antes de descer a escada.

— Sim, sou Camila. — respondeu ela, enquanto mastigava tampando a boca com a mão.

— Bem-vinda. Sou Margaret Saddle.

Incomodava por estar sentada enquanto a mulher permanecia em pé, Camila se levantou e alisou a saia vincada de algodão que vestia.

— Ah, sim. Você trabalha na Sala de Arquivos, não é? A senhora Saddle assentiu.

— Há cinquenta anos.

— Nossa, é... Impressionante.

Margaret tinha o cabelo branco e o usava meio preso, estilo anos 60, e os olhos eram de um azul muito claro. Além de blush no rosto, não usava maquiagem. Estava com um colar de pérolas de várias voltas e, se Camila tivesse que apostar, diria que eram autênticas.

A mulher voltou o olhar para o edifício.

— Este é um lugar que vale a pena dedicar toda uma vida profissional. — afirmou. — Embora tudo foi de mal a pior desde que perdemos o Brooke Astor. Bom, prazer em conhecê-la. Venha me visitar no quarto andar quando quiser. Provavelmente terá dúvidas e Deus sabe que nenhum outro se apressará em respondê-las, se é que sabem a resposta. Bom, desfrute do sol.

Camila desejou lhe dizer que se especializou em Arquivos e Conservação, mas não queria que parecesse que estava competindo com ela. Entretanto, tinha certeza que preferia trabalhar com a Margaret Saddle do que com a Sloan Caldwell.

A mulher se afastou e Camila sentou-se novamente no degrau, esquecendo que tinha deixado a garrafa térmica com leite aberta.

Derrubou-a, o leite derramou pela escada e a pesada tampa caiu ricocheteando como uma bola.

Ela ficou horrorizada, sem saber o que fazer primeiro, da crescente poça de líquido branco ou da tampa que saltava cada vez mais rápido em direção á Quinta Avenida.

Levantou o recipiente térmico para deter o fluxo de leite e desceu correndo escada abaixo para alcançar a tampa, mas antes que tivesse podido baixar muitos degraus, viu que um homem alto e de ombros largos a interceptava com um rápido movimento da mão. Olhou para ele, seus olhos eram de um verde claro, quase esmeralda. Quando se aproximou, surpreendeu-se ao notar que o coração disparava.

— Isto é seu?

Elevou a tampa com um leve sorriso no rosto, um rosto de feições duras, tão grosseiramente belo que resultava perturbador. Tinha as maçãs do rosto altas e um nariz bem definido. Seu cabelo era brilhante e escuro. Era mais velho que Camila.

— OH, sim... Sinto muito. Obrigada.

Agarrou a tampa e, embora se encontrasse um degrau acima dele, superava-a em altura.

— Não é necessário que se desculpe. Embora, agora que vejo o desastre... Possivelmente sim.

Envergonhada, ela seguiu seu olhar até a poça de leite.

— OH... Irei limpar. Nunca deixaria que... — Mas seu sorriso lhe indicou que só brincava.

— Sem problemas. — disse-lhe, ao mesmo tempo em que devolvia a tampa de plástico preto.

Quando ele roçou os dedos com os seus, Camila sentiu verdadeiro calor com o contato. Então, o homem passou junto a poça e desapareceu pela porta da biblioteca.

A Bibliotecária Where stories live. Discover now