capítulo 11

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Camila remexia a comida no prato e, quando olhou para cima, encontrou Lawrence observando-a fixamente.

— Você me decepciona, Camila. – comentou. — Não pensei que fosse das que não comem.

Ela sentiu que corava e o desconforto e o absurdo da situação finalmente pesaram mais do que quão excitante poderia chegar a ser.

— Desculpe que eu não pule no prato, mas na última meia hora eu não fiz mais que receber ordens, e isso me fez sentir mais numa representação extravagante do que num jantar, me fez perder o apetite.

Ele riu, mas não com um sorriso educado, mas com uma profunda e rouca gargalhada, jogando a cabeça para trás.

— Hum, uma cliente descontente. Isto é algo novo para mim — brincou, exasperando-a ainda mais.

— E como vou recuperar minha roupa? Porque eu não vou voltar a esse quarto de hotel depois do jantar.

— Parece-me bem — afirmou ele, claramente divertido, o que a irritou ainda mais.

— Aviso-te para que estejamos na mesma página e que não haja malentendidos.

— Na mesma página, né? Falou como uma verdadeira bibliotecária. — afirmou.

Sem saber o que responder a esse comentário, Camila provou o vinho. Estava delicioso e o líquido deixou um rastro de calor líquido na sua garganta.

— E agora que o mencionou, não íamos falar dos livros? Pensava que era disso do que tratava este jantar.

— Impaciente para entrar na matéria.

— Sim — assentiu e tomou outro gole de vinho.

"É o último, agora vou parar", assegurou-se a si mesmo.

— Por que não tem celular? — perguntou Lawrence.

Camila foi surpreendida com essa pergunta que parecia surgir do nada.

— Oh, não sei. — respondeu. Negava-se a reconhecer sua obrigatória austeridade a alguém que andava por aí num carro com chofer e que usava um dos hotéis mais caros do mundo como vestiário.

— É pouco prático — comentou.

— Para mim não.

— Tinha usado cinta-liga alguma vez? — perguntou-lhe. Camila quase cuspiu o vinho.

— Como?

— Você disse que queria entrar na matéria. — Seu olhar era intenso e sua expressão séria. Era evidente que a pergunta sobre o móvel tinha sido só de aquecimento. — Como se sente vestindo a roupa íntima que comprei?

— Como se usasse um disfarce. — respondeu.

— Você diz isto como se fosse algo ruim.

Levaram os pratos e a aparição do garçom deu a Camila uma pausa temporária do interrogatório. Eles colocaram um novo prato a sua frente, tão elegantemente apresentado que mais parecia arte do que comida.

— Mousseron e raviólis de acelga, queijo nettlesome, cogumelos St. George em conserva, samambaias cabeça de violino. — anunciou o garçom.

O sommelier retirou a taça de vinho de Camila, embora ainda estivesse meio cheia e trouxe outras taças limpas. Apresentou então uma nova garrafa a Lawrence.

— Domaine Drouhin Meursault, Burdeos 2008.

Camila fez gesto para recusar mais vinho, mas uma crítica olhada de Lawrence a deteve.

A Bibliotecária Where stories live. Discover now