capítulo 25

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— Não posso recordar a última vez que desfrutei de uma refeição completa — comentou sua mãe, enquanto a olhava por cima do cardápio do Kellari, um restaurante grego a duas quadras da biblioteca.— Não tem sentido cozinhar para uma pessoa sozinha. É bastante desconcertante não te-la perto, Camila.

Ela dedicou um tenso sorriso enquanto percorria o restaurante com o olhar. Era um espaço bonito e acolhedor, de tetos curvados com vigas de madeira. Ela se lembrou que era seu aniversário e que sua mãe estava ali para comemorar com ela.

— Não deveria deixar de cozinhar só porque eu não estou em casa, mamãe. Reduza as porções e faça o que sempre faz.

— Não é a mesma coisa — replicou a mulher.

Cairam num silêncio que só se viu interrompido quando o garçom se aproximou para tomar nota.

— Começarei com a tradicional salada grega — comentou Camila.— E depois comerei o camarão rosa gigante grelhado.

Devolveu o cardápio. O garçom sorriu e olhou com expectativa à mãe de Camila.

— Todos estes peixes são grelhados? — perguntou a mulher, apontando a página do cardápio de peixes.

— Sim, senhora.

— Não sei o que pedir. O que sugere, Camila? Há alguma diferença entre estes peixes? Lavraki... Pompano...? Todos são peixes brancos, não?

— Se quer algo suave... — O garçom começou a recitar a descrição de todos os peixes um a um e Camila soube que o pobre homem estava perdendo o tempo.

— Deixa que escolho por você, mamãe — sugeriu. — Comerá a salada grega para começar e o linguado de Dover.

— Muito bem, senhora.

O homem pegou os cardápios e se retirou.

— Eu pensei que provavelmente me mostraria a biblioteca antes do jantar. Acreditei que essa era a razão pela que tínhamos escolhido um restaurante nesta área.

De fato, no começo Camila tinha planejado levar a sua mãe na biblioteca para acostumar-se. Mas a ideia de que pudessem topar-se com Sloan ou, pior ainda, com Lawrence, a fez mudar de ideia.

— Bom, já sabe, mamãe, eu passo o dia todo trabalhando lá e às seis estou ansiosa por sair.

A mulher assentiu.

— No final das contas, é só um trabalho, não? Não importa o quanto seja impressionante o edifício. Assim depois de tudo, poderia ter ficado em Cuba, não acha? Não há nada de mágico em Nova Iorque.

Na hora Camila pensou em Lawrence e corou. Por sorte, sua mãe não percebeu.

— Eu gosto de Nova Iorque. Sinto não ter mostrado a biblioteca. Por que não troca de planos e em vez de voltar para casa depois do jantar passe a noite aqui e eu a mostro pela manhã?

— Sabe que seria incapaz de dormir aqui, Camila. Muito ruído, toda essa aglomeração de gente...

— Mamãe, não haverá ruído nem aglomerações num quarto de hotel. — De novo pensou em Lawrence e no Four Seasons. Sacudiu a cabeça levemente para limpá-la da mente. — Eu iria sugerir que ficasse comigo, mas o apartamento é pequeno e minha companheira...

— Tudo bem, Camila. Você me mostra a biblioteca em outro momento.

Mas, como sempre, sentia que estava falhando. A necessidade que sua mãe tinha dela era entristecedora. Por isso nunca tentou solicitar a admissão em universidades fora de Cuba e não foi viver no centro da cidade enquanto estudava na Drexel, mas sim ficou com ela nos subúrbios. E se houvesse uma biblioteca em Cuba que pudesse competir com a Biblioteca Pública de Nova Iorque, provavelmente continuaria vivendo ali.

A Bibliotecária Where stories live. Discover now