capítulo 32

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A loja de roupas estava escondida numa rua secundária do Village, não muito longe de seu apartamento. Apesar do perto que ficava de sua casa, nunca tinha reparado nela.

Chamava-se Guinevere e, a diferença das outras marcas extremamente conhecidas do distrito comercial, não havia manequins nem roupa na vitrine, só cortinas de veludo vermelho que ocultavam o interior.

Lawrence segurou a porta e Camila entrou. Ofegou. A loja era de estilo rococó, além de punk e com um pouco da Alice no País das Maravilhas. A única coisa que faltava era que polvilhassem um pingo de pós-mágicos quando entraram.

As paredes estavam cobertas de murais fotográficos de mulheres de pele muito clara, longos e esvoaçantes cabelos loiros ou rosa claro como algodão doce, bochechas rosadas pelo blush e vestidos barrocos com toques punk próprios para os contos de fadas: botas de combate, espartilhos, asas de borboletas.

Os móveis — poltronas empetecadas, espelhos com molduras de bronze apoiados nas paredes e lustres de cristal de cinco andares — poderiam ter saído do set de filmagem de Maria Antonieta. Os vestidos, pendurados em cabides intercalados entre as ornamentadas peças de mobiliário, não eram vintage, a não ser interpretações contemporâneas de todas as fases do desenho romântico da era elisabetana.

— Pamela está? — perguntou Lawrence a uma das vendedoras.

A mulher era minúscula, ia vestida toda de branco e tinha uns olhos pequenos sob uma densa franja cortada de forma similar ao de Camila.

Quando esta inclinou-se sobre uma prateleira, quase derrubou uma taça de porcelana de bordas douradas.

— Está no camarim.

Lawrence pegou a mão de Camila e a guiou através do labirinto de vestidos, mesas e cabides até a parte de atrás da loja. Atravessaram outra cortina de veludo que dava a uma sala menor. Essa sala estava vazia, exceto por meia dúzia de vitrines.

— Olá, Lawrence.— saudou uma ruiva alta que se levantou de uma poltrona eduardiana estofada em verde militar e dourado.

— Pamela — respondeu ele e a beijou no rosto.

Camila tentou não sentir ciúmes enquanto se perguntava se Pamela também fazia parte da "comunidade", como ele tinha chamado. Odiava como começava a ver todo mundo através da perspectiva de que relações tinham com Lawrence.

— Esta é minha amiga Camila.

Ela o olhou pensando que "amiga" era um estranho significado para descrever sua relação. Mas esse era o problema. O que eram? Amantes? Colegas de bondage?

— Um prazer em conhece-la — disse Pamela com um sincero sorriso, enquanto lhe estendia a mão. — E o que procuram hoje?

— Ela precisa de uma máscara — respondeu Lawrence.

Camila o olhou surpreendida. O primeiro que lhe veio à cabeça foi uma dessas máscaras do Halloween que se exibiam no Ricky'S. Mas Pamela os guiou para uma das vitrines mais próximas e ali descobriu um colorido e sortido de ornamentadas máscaras próprias para um baile de máscaras formal. Dourados, azul lavanda, pretos, com lentejoulas, com plumas, com franjas, adornados com brocados e laços.

— Essa leva duzentos cristais Swarovski incrustados — comentou a mulher ao perceber o interesse de Camila por uma peça dourada no centro.

Tirou um chaveiro, abriu a vitrine e estendeu-lhe a máscara.

— Prova esta — animou-a Lawrence quando viu sua vacilação. Camila o fez e a deslizou pela cabeça. Ele a ajudou a coloca-la para que descansasse na ponte do nariz. Surpreendeu-a com a claridade com que podia ver pelos buracos dos olhos. E também como parecia sólida, a diferente das máscaras de papelão que as pessoas usavam nas festas de fim de ano.

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