capítulo 31

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Margaret apareceu no balcão de devoluções na primeira hora da manhã. Camila apenas a tinha visto desde as revelações sobre Sloan durante o almoço, dois dias antes.

— Como vai? — perguntou a mulher.

— Não vou mal — respondeu Camila. — Vamos almoçar juntas?

— Hoje não como — informou Margaret. Ela recordou que ela havia dito que só almoçava algumas vezes por semana. — Mas queria falar com você um momento.

— Oh, está bem. — Não tinha nem idéia do que poderia ser. Olhou a seu redor.

— Vi você saindo da Sala Jauregui ontem à noite — disse a senhora em voz baixa. Ela congelou. — Com Lawrence.

Camila se sentiu envergonhada e tentou imaginar o que ela teria visto. Estavam se tocando? Estavam colocando a roupa, indicando a qualquer um que pudesse estar olhando que tinham tirado-a fazia pouco?

— Ele é o homem que está vendo — continuou Margaret. Camila assentiu.

— Está apaixonada — acrescentou a mulher.

Muito típico dessa senhora de ir direta ao ponto. Possivelmente era a vivência própria de uma pessoa mais velha que permitia compreender que o sexo era o de menos.

— Oh, Margaret — exclamou Camila, apoiando a cabeça nas mãos.

— É tão sério como parece?

Ela assentiu sem levantar o olhar.

— Conheci sua mãe — comentou Margaret.

— Sério?

— Sim. Clara era uma importante benfeitora. Mas não só doou dinheiro, embora contribuísse muito. Estava muito envolvida. Uma mulher encantadora e interessante. Sinto ainda a sua falta.

— Lawrence me disse que morreu quando ele estava na universidade.

— Adorava-o. Ele era o centro de seu universo. Foi uma grande tragédia. Um grande choque.

— Uma tragédia? — Camila sentiu que encolhia o estômago.

Foi uma premonição, como se aproximasse uma tormenta para a qual não estava preparada.

— Sim. Não contou isto para você? Se suicidou.

Ela ficou sem respiração. Não, não sabia por que, mas Lawrence não o tinha mencionado.

— O que ocorreu?

Margaret meneou a cabeça com saudade.

— Nunca voltou a ser a mesma desde que seu marido a deixou. Foi-se com uma jovem modelo que conheceu no baile de máscaras do Met. Foi um grande escândalo. Em todo caso, não estou contando isso porque eu goste de fofocar, mas sim porque conheço Lawrence Jauregui desde que era um menino. Estava muito unido a Clara e posso dizer a você pelo que vi e ouvi que não se recuperou de sua perda e que provavelmente não seja o jovem ideal para manter uma relação.

Camila assentiu, sofrendo por ele e magoada porque não ter confiado nela. Na noite de seu aniversário parecia que estavam compartilhando algo, mas na realidade omitiu a parte mais importante. A parte dolorosa. Do mesmo modo que não tinha mencionado que tinha mantido uma relação com sua chefe.

— E isto é um aviso? — perguntou.

— Eu não diria tanto — respondeu Margaret. — Mas eu gostaria de ver que toma decisões bem fundadas.

— Não sei se há alguma decisão para tomar.

— Acredito que haverá — comentou a mulher. — Como disse, sempre o conheci. Acredito que é uma pessoa decente e um jovem interessante. Mas o vi em todas as funções beneficientes; tenho lido sobre ele nas revistas, vendo uma mulher, saindo com outra. É um dos solteiros mais cobiçados de Nova Iorque. As mulheres nunca duram muito. Sinceramente, sua mãe teria se horrorizado. Mas estou certa que a maioria dessas jovens estavam contentes só pela repercussão na mídia, a diversão e o cachê que ganharam por ter saído com o Lawrence Jauregui. Entretanto, acredito que você não é uma delas. Assim terá que decidir se vai ter o que deseja na relação. Se não, se prepare para o deixar, ou para que ele a deixe.

A jovem sentiu um vazio no estômago. Isso não era o que queria ouvir.

— Tentei deixa-lo na outra noite, mas não pude continuar com isso — reconheceu. — Não pude fazê-lo.

— Não seja muito dura consigo mesma — Margareth a tranquilizou. — Pode ser que não era o momento adequado. Eu tenho uma filosofia: se não souber o que fazer, não faça nada.

— Está certo — respondeu Camila mais aliviada, como se a mulher a tivesse tirado do apuro.

— Mas — acrescentou Margaret levantando um dedo — um dia saberá. O seu instinto o dirá. E então terá que arcar com as consequências.

***

Camila despertou no sábado pela manhã e descobriu que já tinha uma mensagem do Lawrence.

Estarei aí ao meio-dia.

Através das finas cortinas de seu pequeno quarto se filtrava a luz do sol. O ventilador que tinha junto à cama fazia pouco para combater o calor, mas não gostava de dormir com o ar condicionado ligado, porque sempre acabava sentindo muito frio.

Olhou o relógio. Eram onze horas. "Não ligue para ele", pensou.

Jogou os lençóis com um chute e discou o seu número. Lawrence atendeu ao telefone no primeiro toque.

— Não me diga que acabou de acordar — comentou.

— Bom... sim — reconheceu sorrindo. Adorava o som de sua voz, inclusive quando insinuava que era uma preguiçosa.

— Uma atitude muito pouco ativa de sua parte.

— É sábado.

— Exato. Se troque. Vamos às compras.

— Por quê?

— Precisa de uma roupa para esta noite.

— Desde quando você me inclui nas decisões sobre o traje? — perguntou.

— Desde que me dei conta de que não compreende o quanto desejo que seja feliz — replicou.

Ela ficou em silêncio.

— Pode nos dar outra chance? — perguntou Lawrence.

— Eu nem sei o que isto significa— disse ela.

— Me dê esta noite. Pode aceitar isso?

— Está bem — assentiu, pensando nas palavras da Margaret.

— De acordo.

A Bibliotecária Where stories live. Discover now