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Depois de horas de percurso acabo adormecendo e acordo com o caçador de movendo, abro os olhos e me sento no banco traseiro. Ele desce e faz sinal para que eu desça.

- Chegamos. - ele diz e desço do carro com cuidado. A brisa fria sopra forte e me pego olhando para a imensa floresta escura. Olho para o céu e lá está a lua. Engulo seco. Amanhã ela estará perfeita. Grande e imponente. Olho para o caçador e desvio o olhar para o senhor que desce do outro carro. "Assassino!" Ele se aproxima e segura meu rosto.

- Você é tão bonita para morrer, uma pena. - ele solta meu rosto e olha para os outros. - Vamos colocar ela no meio da floresta, amarrada a um tronco. Vamos ver quantos bastardos ela atrai. Vamos amarrar ela hoje, sabem que aqui vivem lobos, panteras, tigres, leões e toda aquela criação do submundo. Ela costuma atrair lobos, então pelo menos esses vamos pegar. - o caçador que veio comigo segura a corda que prende minhas mãos e me puxa. Adentramos a floresta e começamos a caminhar, vez ou outra, desviando de galhos e raízes. Olho para trás e noto que tem mais três caçadores além do velho. Eles estão em cinco. Engulo seco.

A caminhada parece se estender e minhas pernas começam a reclamar. Resmungo e solto um gemido contido por causa da fita na minha boca. O homem para e se vira para mim, olha para além de mim.

- Posso tirar a fita da boca dela?

- Tire, se ela gritar, vai atrair eles mais depressa. - meu coração acelera. "Ó meu Deus."

A fita é puxada com tudo e solto um gemido de dor. Sinto doer aonde a fita estava e sinto gosto de sangue, sei que a fita lacerou algumas partes do meu lábio. Continuamos caminhando e logo paramos perto de uma árvore grande. Sou impulsionada contra o tronco da árvore e meus pensamentos vagam. "Eles tem que buscar antes que eu morra!"

Sou amarrada ao tronco da árvore com os braços para trás e fico me sentindo parte da árvore, de tanta proximidade a ela.

- Vamos nos afastar Weber? - o cara que trouxe pergunta. Weber é o velho assassino que matou os pais do Tony.

- Vamos. Se escondam de algum jeito. Vamos deixar um deles vir até ela e ver o que ele quer. Se ele morder ela, atirem imediatamente, se não, esperem, quero ver o porquê ela atrai eles, se é porque ela é comestível ou por outro motivo. - fico espantada.

- Não façam isso... - digo em voz baixa. - Eles são pessoas...

- Eles não são pessoas, são aberrações. - meu coração corta. Quero apenas sair daqui. Eles começam a se afastar.

- Não me deixem aqui sozinha! - digo em voz alta, mas é em vão. - Por favor! - choramingo. Isso é loucura!

Ouço um uivo a distância e meu coração dispara. "Ó meu Deus!"

Fico de boca fechada e rezando para que meu cheiro não atraia nada. O uivo cessa e ouço mais um... Dois... Três... Eles acompanham o primeiro e meu sangue parece ser drenado do corpo. Tem quatro deles por aqui. Ofego. Não sei a quem recorrer, não tem ninguém.

Olho para os lados e a cada barulho que ouço, quase perco a consciência de tanto medo. Não sei o que eles farão ao me ver e isso é perturbador. Posso estar esperando a morte.

Ouço passos e olho para meu lado esquerdo, vejo apenas dois círculos brilhantes na escuridão e é perturbador, são olhos... Olhos dourados como os de Tony. Eles se aproximam e ouço o rosnado contido saindo da garganta do lobo. Ele caminha a passos curtos e logo está no meu campo de visão. Agora além dos olhos, vejo o tamanho dele.

Ele se aproxima rosnando e ronda a árvore.

- Não me machuque... Eu sei que você é parte humana! - digo. - Por favor não... - ele começa a uivar e fecho os olhos tentando absorver o barulho, já que não posso tampar meus ouvidos. O uivo cessa e escuto os outros a distância, porém, mais perto do que da primeira vez. O lobo para de frente com a árvore e se aproxima cheirando o ar. Ele solta um ganido e se curva na minha frente. Pisco perplexa. Ele se transforma e adquire a forma incompleta. Abro a boca em um Ó. Ele se levanta e está nu! Mantenho os olhos acima de seu abdômen, parece ter no máximo quinze anos. Seus cabelos são grandes e batem na cintura. Ele tem olhos azuis e se aproxima de mim, perto demais.

- Você cheira a caçadores... - Ele sussurra em meu ouvido. - É uma boa presa, já que eu não estou me importando se eles me acertam ou não... Você cheira muito bem. - engulo seco e sinto lágrimas nos meus olhos.

- Não me machuque. - sussurro.

- Você está com alguém e ele é híbrido, entendo o porquê dele querer você... Você atrai híbridos? É uma arma dos caçadores? - nego.

- Não... - sussurro. - Não sou... Fui sequestrada, meu nome é Ayla Silver. - ele rosna e choramingo.

- Então, você é a chapeuzinho. - engulo seco. - Nossos pais contam sua história para nossos irmãos mais novos, você é a garota que devemos manter distância. - ele diz e se afasta. - Não vou te tocar, pertence a alguém. - ele olha ao redor. - Eles estão esperando para ver nossas reações ao seu redor. - Assinto.

- Foge ... Eles vão matar vocês... Saiam da floresta. - digo em voz baixa. Ele me encara e sorri.

- Não... A floresta é nossa casa e não a casa dos caçadores... Eles estão em nosso terreno e perto da lua cheia ainda, eles tem que sair. Aqui é nosso. - engulo seco.

- Eles podem atirar em você a qualquer momento. - digo e ele nega.

- Eles não farão isso... Eles esperam que eu queira desamarrar você e levar para outro lugar... Para te... - ele aperta a boca em uma linha fina. - Sabe o que é metáfora certo? - lágrimas correm pelo meu rosto e Assinto.

- Eu sei o que eles acham que faria... - ele revira os olhos e pisca. O dourado deles é realmente assustador durante a noite em uma floresta escura.

- Somos humanos também, não vou te machucar... Apenas quero ficar aqui conversando e vendo se te convenço a largar o lobo que está. - nego.

- Não vai funcionar... Então sai daqui. - ele cruza os braços e sorri.

- Não. - ele volta a se aproximar. - Estou ganhando tempo... - ele sussurra e se aproxima mais. Seu corpo toca o meu e choramingo.

- Não me machuca. - digo rapidamente.

- Relaxa... Eu já disse que estou ganhando tempo. - ofego. Olho para os dois lados. Sinto a mão dele correr ao meu redor e ele se afasta um pouco puxando minha blusa e expondo meu abdômen e sutiã. Ele corre as garras entre as cordas que me prendem e toca as cicatrizes, solta minha blusa, que se amontoa sobre as cortas e mantém minha barriga exposta. Apoio a cabeça no tronco da árvore assim que ele levanta a mão em direção ao meu rosto, as garras pairam na minha frente. - Calma ... Tem certeza que tem um lobo com você? É muito arisca! - olho para ele e respiro fundo.

- Não sei o que outros híbridos, além dos que conheço, farão. - ele assente.

- Não machucamos ninguém. -  Assinto. Ele sorri e as pressas aparecem. - Seu lobo já matou não é? E também já comeu carne hu... - Assinto. - Deviam ser caçadores... - Assinto. Ele sorri e toca meu pescoço, em cima da cicatriz, ele acaricia. - Um dia da caça, outro do caçador... Não fique sentida por aqueles bastardos assassinos. Eles matam famílias inteiras, velhos, jovens, crianças, recém-nascidos... - sinto vontade chorar e ele segura meu rosto. - Eles estão tramando algo nesse momento... Tenho que ir. - ele olha para minhas pernas. - Infelizmente não poderei tocar as cicatrizes das suas pernas. - ele olha no meu rosto. - agora não está mais cheirando tanto a caçadores e sim a lobos e você mesma. Isso vai manter os nossos longe daqui e perto dos que estão te caçando. Adeus. - ele diz e salta sobre mim. Reprimo um grito. Ele pula sobre a árvore e olho para cima a tempo de ver ele escalando ela e sumindo na copa. Olho para os dois lados e grito. Um estrondo e lascas do tronco caem sobre minha cabeça. Eles atiraram para acertar o lobo.

Sinto uma raiva descomunal dos caçadores.

- Vocês vão queimar no inferno! - grito. - Todos vocês, seus podres! Parem de atirar em crianças! - vocifero. Um tiro passa de raspão ao lado do meu pescoço e congelo. Engulo seco. "Ótimo jeito de mandar calar a boca! Funciona!"

O conto do Lobo MauWhere stories live. Discover now