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Acordo no dia seguinte me espreguiçando. Amanhã tenho que ir ver mamãe. Fui nas duas vezes passadas e não falei com ela, tive medo que ela desejasse minha morte novamente e eu não suportaria ouvir isso dela.

Me sento na cama e me espreguiço. Olho para o relógio. 12:00. Fui dormir tarde, em minha defesa, saio da cama e escovo meus dentes, desço e assim que estou chegando na cozinha, vejo papai e Tony sentados. Paro abruptamente quando Tony gira e vejo a forma incompleta. Ele rosna e mostra as presas, recuo. Olho para papai e ele se coloca de pé.

- Querida... Como eu te digo isso... - olho para eles sem entender nada. Tony me olha de cima em baixo e se levanta. Pisco perplexa. - Acho melhor você subir novamente. - olho para ele e me sinto um pouco ameaçada quando Tony caminha lentamente em minha direção, realmente parece que vai me atacar e é a primeira vez que vejo ele com tanta agonia no olhar.

- O que eu fiz de errado dessa vez? - pergunto e olho para meu pai.

- Só sobe, depois eu explico. - o som de Tony novamente enche o ambiente e arregalo os olhos.

- OK... - recuo olhando para ele e me assusto quando ele simplesmente continua avançando. - Pai? - chamo e papai segura o braço de Tony.

- Acho melhor você passar o dia fora de casa, até amanhã nesse horário. - Tony parece se conter. Subo novamente e olho para os dois do topo da escada. Tony fecha os olhos e se senta no chão. Fico olhando tudo ao redor. - Querida? - olho para papai. - Lembra que todo mês eu tirava Tony de casa em certos dias... - assinto. - Então... - vejo papai ficar vermelho e me pergunto o porquê ele está com esse olhar envergonhado. Tony abre os olhos, mas permanece sentado. Ele se volta para encarar papai.

- Não fale... - ele diz. Cruzo os braços. Ele ainda não voltou ao normal, mas parece mais tranquilo, claro, estou sentada a bons metros deles e me sentindo uma intrusa dentro de casa.

- Eu mereço saber não é? Até porque, eu acabei de ser ameaçada com rosnados e grandes presas! - digo e Tony me encara com uma carranca.

- Não... - ele diz arrastado. - Você não precisa saber. - ele diz. - É algo particular. - arqueio a sobrancelha. Me levanto e volto a descer. Paro antes de chegar no andar de baixo, já que recebo um olhar mortal dos dois.

- OK... Vou deixar de almoçar e irei vegetar em meu quarto, aliás, não tenho que estar no trabalho em menos de uma hora. - ironizo. Subo as escadas e entro para dentro do meu quarto. Tomo meu banho e me visto. Saio novamente e não encontro nem papai e nem Tony mais. Almoço e subo as escadas. Escovo os dentes e pego a touca. Desço novamente e saio de casa, caminho para perto do portão e vejo Tony a distância. Ele está do outro lado da rua e com uma dessas máscaras que médicos usam. Olho para ele e trinco os dentes. Fecho as mãos em punho e caminho para a esquina, cruzo a rua e sigo para a lanchonete. Sinto Tony me seguindo e isso me deixa profundamente irritada. Olho para trás. - Vai continuar me seguindo dessa distância?! - pergunto. Ele não responde, apenas coloca as mãos nos bolsos e sinto meu sangue ferver. - OK! - grito e volto a andar. Chego a lanchonete e entro resmungando.

Faço meu trabalho e ao final, a raiva me domina, quando saio da lanchonete. Tony está de moto e capacete, mas esse não é o problema, ele não veio me buscar, já que só tem o capacete dele.

- Por que não pediu que outra pessoa fizesse isso?! - pergunto.

- Seu pai está trabalhando, eu acabei de chegar e os outros não podem vir, é perigoso. - me sinto realmente chateada.

- Pare de me tratar como se eu tivesse adquirido uma doença venérea. - digo.

- É só por hoje. - ele diz. - Até amanhã perto do meio dia. - caminho pela calçada e ele começa a me acompanhar pilotando a moto ao meu lado.

Chegamos em casa e abro o portão, ele entra e desce da moto, sequer consigo me aproximar dele, ele abre a porta e some para dentro da casa. Entro me sentindo frustrada. Subo e entro no banheiro. Me olho no espelho e levanto o braço. Faço uma careta. "Não sou eu..." realmente não estou fedida e nem nada disso. Tomo meu banho e saio do quarto. Desço as escadas e nada de Tony. Quero muito perguntar a ele o motivo de me tratar como um vírus.

Subo novamente e caminho pelo corredor. Paro em frente a sua porta e nem preciso abrir, o rosnando que escuto me faz recuar um pouco.

Ele abre a porta e me encara.

- Oi... - sorrio. - Eu sei que parece furioso, será que podia parar de rosnar?! - ele fecha a boca e permanece com os olhos em mim. Seu peito de move depressa e ele parece estar se controla do para não pular em cima de mim. - Por que está agindo assim? - já fiz uma lista do que eu possa ter feito errado, mas não achei nada, então ele terá que me dizer o que fiz. - Desculpe. - peço. Meus olhos marejam. - Não precisa ter raiva de mim. - digo e me sinto mal, não sei o que fiz, mas está bem chato a forma que estou sendo tratada.

Ele recua e entra dentro do quarto se sentando na cama. Ele permanece com os olhos em mim.

- Vem cá. - ele pede e estende o braço. Olho para ele com confusão.

- Você não está com raiva? - ele nega e sorri. Isso causa um frio no pé da minha barriga.

- Entre e feche a porta. - franzo o cenho. "Por que será que ele parece tão ameaçador?"

- É seguro? Você parece irritado. - ele assente.

- É seguro.

- Não vai me morder? - ele nega.

- Não, não vou te morder se não quiser. - meu coração acelera. Ok... Ele está agindo estranho.

- Vou entrar tá bom? Para que a gente converse. - o sorriso dele se alarga e as presas me deixam um pouco alarmada. Caminho lentamente em direção ao quarto. - Tem certeza que não vai me ameaçar com esses dentes grandes? - ele nega.

- Não chapéuzinho. - ele diz a última parte com a voz mais grave e realmente soa assustador. Entro no quarto e seguro a porta.

- Você está me assustando. - digo em voz baixa e ele fica sério e abaixa a cabeça.

- Realmente não é minha intenção. - ele diz e volta a levantar a cabeça. - É só meus instintos que estão falando por mim. - fecho a porta e caminho para perto dele. Ele volta a rosnar e travo.

- Você está mostrando as presas novamente. - Ele sorri e passa a língua por cima delas. Sinto o frio na barriga descer mais abaixo, mas parte de mim grita que não deveria ter entrado aqui. Seus olhos parecem famintos.

- Juro que serão para te comer melhor.

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Agora, talvez, ele lembrou um pouquinho o lobo mal, com a última frase que disse.

O conto do Lobo MauWhere stories live. Discover now