O primeiro a entrar era o grande senhor da Noite, o Grão Senhor da casa Noturna. O reconheci imediatamente, cabelos e vestes negras, os olhos de um violeta profundo atentos e sagazes. A loira, eu sabia quem ela era, sabia do seu poder, que lutara ao lado de meus senhores e salvará a vida de minha rainha. Morringan, a do poder oculto. Atrás o monstro que deixará de ser monstro, mas ainda me causava um arrepio olhar seus olhos cinzas, lembrar que um corpo tão pequeno abrigou uma criatura desconhecida e poderosa. Mortal. Parecendo ler isso em meu rosto, ela sorriu para mim.

Atrás, mas não distante deles, um macho de cabelos castanhos escuros grandes, presos num rabo de cavalo desgrenhado, a pose reta, de braços cruzados de um lado do seu Grão Senhor, e do outro...

Minha respiração falhou uma batida ao mesmo tempo que o coração. Não era possível, ele estar aqui. Não era possível ele ser real. Mas ali estava, a visão das sombras. O macho de olhos avelã e mel derretido, emanando sombras que rodavam em espirais nas pontas de suas orelhas, ombros e das pontas dos dedos. O cabelo curto, castanho e as vestes pretas, o rosto de uma expressão fria e indecifrável enquanto me observava de volta. Encarava.

— Porque estou aqui? — pergunto novamente, a voz mais firme que antes. Vejo a grã féerica ir para lado de seu parceiro, enquanto o mesmo inclina a cabeça, absorto.

Sei que haviam mais pessoas que faziam parte da Corte Noturna, e sabia que elas não estavam ali. Aquele, era o círculo pessoal, e se apenas eles estavam aqui ou descobriram quem eu era ou me consideram uma ameaça. Ouço um bufo de escárnio vindo do lado posterior ao cabeludo, e sigo meu olhar para lá. A expressão dele era de puro desdém, como se tivesse lido meus pensamentos, novamente dessa forma, como me lendo, ele ergue uma sobrancelha.

— Esperamos que você possa nos explicar. — o macho a frente diz, a voz de comando, poderosa até a última nota como o senhor que ele realmente era e até meus ossos tremeram.

— Eu não... Me lembro. — digo num sussurro. Ouço o clique novamente, dentes trincando e o som de um rosnado abafado. Pelo visto, eu não fora a única que perceberá, uma vez que todos os outros olhavam para a mesma direção com a expressão espantada, Morringan principalmente. Dentre eles, somente o Grão Senhor continuou me sondando, um sorriso estranho erguendo o canto do lábio.

— E porque exatamente eu deveria confiar em vocês? — pergunto.

— Você está aqui não está? Enfaixada e curada na casa de estranhos que poderiam tê-la deixado morrer naquela colina... Então, não questione se deveria confiar em nós, quando nós, não sabemos se deveríamos confiar em você. — a voz dele soou mais fria e cortante que sua expressão.

— Desculpe. — engoli a palavra. Ele não falou nada depois disso, voltou ao seu canto e desviou piamente o olhar de mim depois disso.

— O que exatamente você se lembra? — o grão senhor questionou, inspecionando.

Engoli em seco, forçando a garganta a se mover e a minha mente a lembrar. Nada. Eu não conseguia lembrar de muita coisa.

— Não muito... Pode... Pode olhar se quiser, porque eu... Não me lembro.

Eu não sei o que o macho fez na verdade. Ele somente pareceu me encarar e o tempo foi diminuindo, o espaço ficando menor na minha cabeça. E eu senti o puxão, e deixei ele entrar. Mostrei a ele como eu eu fugi, e o porque. Mostrei a fuga, mostrei a corrida e o vôo, mostrei a ele a queda e as feridas e o que me trouxe até ali. As sombras que me guiaram até aquele precipício, até ao que parece ser a fronteira da cidade dele. E o que quer que ele viu, pela expressão no rosto de sua parceira ela viu o mesmo.

O choque transpareceu por um momento, depois a expressão serena voltou e o puxão se foi.

Não sei o que eles viram que decidiram que eu poderia ficar. Não sei o que eles viram que, sorriram para mim e depois saíram do quarto acompanhado dos outros. Ele ficou por último, me observando por um momento longo. Observei sua garganta se mover e espero que ele falasse algo, mas ele se virou e saiu também, me deixando sozinha novamente.

Apenas o cheiro ficou, de almíscar e sândalo, cheiro cítrico de chuva e terra, cheiro de vento.

Apenas o cheiro ficou, de almíscar e sândalo, cheiro cítrico de chuva e terra, cheiro de vento

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N/A: Quem falou que ia ter versão da Cally acertou. E aí gostaram? Espero que sim, gostei muito desse capítulo e vocês?

Enfim, já sabem, vota com carinho, comenta bonitinho, e até o próximo caps da tia Nath. Beijos e até o próximo 😍

Príncipe das SombrasWhere stories live. Discover now