Como podia ele pensar em fazer algo tão atroz?

Ela olhou para o corpo debaixo das cobertas. Estava quase nua. Suas roupas estavam esfarrapadas e rasgadas. Afastou as cobertas e tocou a intimidade procurando indícios de pós violação: nada. Não sentia dor a não ser uma dor de cabeça terrível. Foi para o banheiro trancando a porta. Retirou os trapos que restaram do vestido e os jogou no lixo. Nua, se auto examinou. Olhou para o corpo e se ateve aos detalhes, em busca de possíveis indícios.

Cortes em fase de cicatrização; dedos das mãos imobilizadas; cicatrizes do acidente; resquícios dos tubos que haviam sido inseridos em seu corpo; marcas de cortes e o cabelo estranhamente raspado de lado; Nada de novo.

Ligou o chuveiro e entrou. Sentia-se anestesiada. Queria chorar muito, mas não conseguia. Estava sendo ruim para ela prender aquilo tudo dentro de si sem conseguir extravasar a dor de ter se casado com alguém tão ruim e de regras tão insuportáveis e rebaixadas. Não o amava e ela tinha certeza que ele também não a amava. Então, porque ele simplesmente não a deixava em paz? Mas não! Parecia que ele sentia prazer em imputar-lhe dores e castigos.

Ao terminar o banho, o corpo estava marcado de vermelho pela força que usou para se esfregar. Encarou a única toalha que havia ali para se secar e odiou o fato de nem mesmo ter direito sobre a própria toalha! Porém, ter que se secar com a toalha de Thiago, absorvendo o cheiro dele na pele era no mínimo imoral, principalmente depois do que havia passado com ele! Mas era inegável que o cheiro másculo tornava tudo excitante, e a deixava em estado de abnegação, mas era impossível dar vazão uma vez que sofria tantos abusos! Ninguém jamais a preparou para o que acontecera com ela ali!

Com isso, estava com medo de sair do quarto. Esta era a realidade. Já se passava do meio dia e o medo de bater de frente com Thiago sobrepunha a fome e a vontade de ver a filha. Ao meio dia e quarenta, a maçaneta da porta girou. O coração de Bárbara foi a mil no medo de ser Thiago, mas era apenas Ileana com uma bandeja.

Buongiorno. — A moça cumprimentou com polidez. — A senhora Guerra pediu para lhe preparar um pequeno desjejum...— Relutante, anunciou o restante do recado. — Ela também manda informar-lhe que, uma vez um membro da famiglia estando presente, não é de costume deixar que o outro passe o pranzo sozinho a mesa.

Bárbara juntou as sobrancelhas e olhou para Ileana sem entender absolutamente nada.

Será que eles fingiam não escutar nada que Thiago fazia com ela? Ou será que eram tão bons assim em ignorar? Como que Marietta exigia algo que ela simplesmente não tinha a mínima coragem de fazer no momento?

A ideia de descer e encarar Thiago era completamente sufocante para ela. Seria um esforço enorme a se fazer depois de tudo, e não sabia se agiria tranquilamente diante da situação.

— Onde está Thiago? — Sua voz soou estranha. Rouca e tensa demais.

— O chefe precisou viajar.

A princípio o que era uma simples resposta da empregada, passou a ser vista de modo desconfiado. Por trás da informação parecia ter algo mais profundo e que ela ainda não enxergava. Ileana despediu-se e se retirou do quarto sorrateiramente. Pegou a muleta e foi até onde a bandeja descansava. Tomou o desjejum enquanto refletia. Aproveitaria o máximo sem a presença intimidante e maldosa de Thiago. Trataria de se recuperar fisicamente e mentalmente de tudo o que lhe acontecera e o mais importante: Tentaria mais do que nunca recobrar a memória.

Um mês depois...

O tempo estava frio e seco. As árvores já não tinham mais folhas indicando a passagem da estação que logo mudaria para um frio rigoroso o cheio de neve. O natal se aproximava e Bárbara agora já não usava muletas ou sequer as talas nos dedos que, impacientemente ela mesma havia retirado. Aquilo fora uma tentativa de aproveitar o máximo possível daquele tempo, sem quaisquer empecilhos.

A Dama Sem Nome: Um Romance da Máfia- NOVA VERSÃO 2023Onde as histórias ganham vida. Descobre agora