Capítulo 2

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Durante algumas semanas, Bárbara passou a despertar periodicamente, sempre estando consciente quando as enfermeiras chegavam para a troca de ataduras ou para dar lhe banho. Eram sempre muito educadas e atenciosas. O suporte do soro era sua companhia constante. Para onde quer que fosse, ela tinha de estar ligada a ele. Aplicavam-lhe injeções que diminuíam a dor e faziam o que era preciso para sua recuperação. Estava sempre consciente da dor, mesmo debaixo da alta dosagem de remédio que lhe davam. 

Os ferimentos se tornavam pequenas linhas translúcidas em seu corpo. O rosto triangular estava muito distorcido e inchado. Edemas grotescos formavam as curvas de seu corpo. O cabelo estava raspado na altura da orelha até a nuca, mas uma bandagem, envolta ao redor de sua cabeça, cobria o estrago.

Os períodos de consciência eram vagos e nunca duravam mais que uma hora. O descanso ainda era primordial para a recuperação. Mas ao estar acordada, reconhecia algumas pessoas como amigas e automaticamente se afeiçoou a elas.

A atenção da enfermeira Fiorella e o bom humor e carisma do doutor, despertavam nela simpatia e familiaridade com ambos profissionais. Entretanto, vez ou outra a visita nefasta e pesada daquele mesmo homem que a chamou de idiota no primeiro dia em que acordara, vinha com tudo e suprimia sua boa esperança. Ele era vigilante sempre, e quando não estava, alguns homens se postavam como soldados bem diante a porta do quarto. Era como se ninguém tivesse permissão para ter acesso a ela.

Mesmo dormindo, se agitava sentindo a presença dele pairando, e quando acordava ele sempre estava lá à beira da cama, a olhando de modo intenso, tão concentrado que parecia queimá-la.

"O que esse homem quer? Quem ele é? E porque sempre me olha tão cruel e cheio de ódio?! " — pensava agoniada.

Sua mente dava voltas pensando em respostas e no final, ela apenas acabava suspirando, chegando a nenhuma conclusão por ser incapaz de fazer essas perguntas a ele em voz alta.  Por fim, com sua mente esgotada demais para resolver o enigma daquela presença e o motivo para se sentir tão ameaçada por aquele homem, Bárbara fechava os olhos e caía em um sono profundo.

Duas semanas depois, ela acordou sem a costumeira pressão insuportável na cabeça. O único vestígio era uma fina lembrança da dor. A luz já não incomodava seus olhos e tudo aquilo parecia ser uma vitória, já que agora seu flagelo parecia ser mais suportável de aturar. Seu quadro de melhora foi o suficiente para ser transferida da UTI para um apartamento arejado e com vista para uma reserva arborizada e verde.

Estava olhando pela janela quando uma enfermeira de rosto familiar entrou pela porta e a saudou:

— Olá! —respondeu a enfermeira que  agora regulava o soro — Você tem estado aqui quase o tempo todo, não é mesmo?

— É, sim! Meu nome é Fiorella, e estou acompanhando você desde que chegou aqui... — Respondeu de maneira amigável. — E fico muito contente com seu quadro de evolução.

Bárbara tentou animar o rosto e sorrir, mas o simples gesto desencadeou uma dor terrível em seu maxilar e ela nem tentou mais. Enquanto isso, a enfermeira ia mexendo no controle da cama regulando a melhor posição, enquanto conversavam animadamente. Em determinado momento, a enfermeira questionou se ela já conseguia se lembrar do seu nome, foi quando ela acabou dando brecha para outras perguntas:

—Não lembra nada do acidente?

— Não. Nada. Foi muito grave?

Fiorella, que ajeitava uma almofada, primeiro olhou para ela enigmaticamente, quando por fim respondeu.

— Acho melhor esperarmos você se recuperar um pouco mais. Mas pode me contar do que se lembra?

Voltando os olhos para um canto da linda paisagem, Bárbara tentou vasculhar a mente, mas ficou horrorizada ao perceber que tudo era um vazio. Não tinha nada que lhe desse uma pista de quem era. As únicas memórias era de quando acordara ali no hospital.

A Dama Sem Nome: Um Romance da Máfia- NOVA VERSÃO 2023Onde as histórias ganham vida. Descobre agora