Capítulo 5

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Durante as semanas seguintes, Bárbara se adaptou à rotina do hospital. Os dias passavam. Seus ossos se soldaram, para satisfação da equipe médica, as costelas estavam perfeitas e as dores de cabeça tinham desaparecido. Foi um alívio começar a fisioterapia e ela mal podia esperar o dia de removerem as talas de imobilização, o gesso do braço quebrado e as ataduras do rosto.

— A Júlia volta para casa hoje — Fiorella disse, entrando no quarto. —Vai começar a se aprontar e daqui uma hora, Thiago vem buscá-la. Você gostaria de vê-la antes de ir embora? Acho que posso arranjar um jeito de vocês se verem! — Disse cheia de entusiasmo.

Bárbara tinha aprendido a gostar de Fiorella e a considerava como uma amiga. Era ela quem trazia notícias diárias da criança que diziam ser sua filha, uma vez que não lhe era permitido ir até a ala infantil do hospital. E, mesmo que fosse, ela não teria ido para não perturbar a criança.

— Acho que ela poderia se assustar com minha aparência. — Bárbara disse, preocupada. — É melhor deixar para vê-la quando eu estiver com aparência melhor. Não quero dar pesadelos a ela.

Fiorella riu e saiu do quarto.

Então Thiago vinha buscar a filha! Era o lógico a se fazer, claro. — Pensou consigo mesma, voando com os pensamentos. Ele não vinha mais confrontá-la. As únicas vezes que a via era durante as visitas do psiquiatra, Dr. Marcelo Rubio.

Rubio era um especialista em casos de amnésia, e fora altamente recomendado por Dr.Leonardo. Afinal, todos os médicos que tratavam dela pareciam pertencer à mesma rede de indicações, deduziu.

Dr. Rubio vinha duas vezes por semana e fazia com ela uma sessão de psicoterapia que durava em média uma hora. Thiago vinha com ele e se sentava num canto do quarto, fora da vista de Bárbara. Ficava absolutamente em silêncio enquanto Rubio fazia perguntas sempre gentis e que não a perturbavam. Ela tinha certeza que Thiago prestava extrema atenção em todas as suas respostas e perguntas, mas ele nunca falava, nem interrompia a sessão.

Entretanto, nunca adiantava. Apesar de estar sempre fora de seu campo de visão, só a presença dele em si já gerava uma magnitude inebriante no ambiente. O que era estranho, já que Dr. Marcelo, jamais havia feito oposição à presença do homem de aura escura. Pelo contrário, parecia ter resistência em falar que era uma consulta particular e que, portanto, aconteceria apenas entre paciente e médico.

Mas sem saber bem por que, Bárbara desejava que Thiago ficasse. Queria que ele ouvisse. Talvez pretendesse, com isso, convencê-lo de que sua perda de memória não era mentira. E por que era importante para ela que Thiago acreditasse nisso?!

Essa pergunta, era facilmente respondida: temia por sua vida. Não sabia ao certo porquê, mas sentia que todas aquelas ameaças não eram vazias e algo na forma como ele a olhava e se comportava, lhe dizia que havia algo muito pior por trás de cada palavra.

Durante as sessões, ficava de costas para ele, porém não a impedia de vê-lo e analisá-lo pelo reflexo do vidro que protegia alguns livros na sala. Algumas vezes, ela disfarçava e olhava para ele através do reflexo, contudo, na maioria das vezes era pega pelo olhar de gelo.

Thiago era muito bonito, sem dúvidas, mas a expressão do rosto não relaxava nunca. Os olhos pretos eram profundos e duros, implacáveis e ele não deixava de encará-la nem sequer por um minuto. Estudava cada gesto que ela fazia, e como teste, Bárbara às vezes se movimentava, e com isso, ela podia concluir que de tudo o que o médico ia dizendo, Thiago nunca demonstrava emoções e sempre ia embora antes da sessão acabar. O que fazia com que se sentisse cada vez mais insegura, a ponto de tentar ignorar o que a presença dele causava e inútilmente não conseguir.

A Dama Sem Nome: Um Romance da Máfia- NOVA VERSÃO 2023Onde as histórias ganham vida. Descobre agora