Bárbara.

Ali estava ela novamente no hospital. Só que desta vez, sabia bem o motivo.

Ao chegar tinha sido recebida com pesar por toda a equipe médica. Nos primeiros dias, não houve reação alguma por parte dela, a não ser quando se tratava da dor física. Os médicos não quiseram saber sobre o que de fato havia acontecido, apenas tratavam de seus ferimentos e contusões de maneira títere.

Bárbara desconfiava que pelo fato de ter chegado ao carregada por um dos homens de Thiago e não pelo próprio Thiago, já revelava muito sobre a causa de os médicos estarem agindo tão vagamente. Nanderitti avaliou cada contusão dos dedos e a punhalada na perna, com o rosto sério e grave. A pior parte havia sido voltar os dedos quebrados para o lugar. Segundo o médico, Bárbara teria de ser forte, pois cada dedo, teria de ser voltado um a um para as juntas. Para seu azar, quatro dedos estavam torcidos.

Teve a ajuda de Fiorella, que, o tempo inteiro segurou-lhe a mão boa, e entregou-lhe um pano para abafar os gritos. Um a um, foram sendo voltados para o seu devido lugar e neles, colocado talas. Já a adaga em sua coxa havia sido retirada sem muito dano, os médicos tiveram apenas um pequeno problema para conter o sangue, mas que logo foi contido. O corte havia sido profundo e por pouco lhe custara a vida ao ser cravado  milimetricamente próximo a uma artéria.

Ao fim, o corte da perna já não doía tanto, mas estranhamente pulsava. Recebia constantemente algumas enfermeiras para que as ataduras da perna fossem trocadas. Nanderitti disse que uma possível infecção havia sido controlada, mas por via das dúvidas, era bom manter o ferimento limpo.

Mas Bárbara não ligava para nenhuma das informações médicas que lhe eram esclarecidas. A dor presente na alma, ainda não havia sido aplacada. Por mais que lhe tivessem medicado, e estivesse sob o efeito de calmantes e ansiolíticos, que tivessem feito curativos em suas feridas e contusões, por dentro, Bárbara sentia-se violada. A violência sofrida e a consequência disso, era a pior parte. Para isto não havia remédio.

Fiorella vinha todos os dias e apenas a abraçava em silêncio, como se lhe transmitisse acalento. Fora o gesto mais genuíno e humano — fora os abraços e beijinhos de Júlia — que ela lembrava de ter recebido desde que acordara com amnésia.

Nos primeiros dias ela pouco conversava e muito dormia. Após o terceiro dia, finalmente desencadeou uma saudade sufocante da filha, apenas isto pareceu ser motivo o suficiente para começar a pôr para fora tudo o que guardava. Bárbara chorou pelo que havia acontecido e também pela forma que Thiago tinha feito. Chorou pela saudade da filha e por ter acordado naquele lugar mal e que parecia piorar cada dia mais.

"Eu não sabia o que estava acontecendo. E muito menos o porquê de estar acontecendo." — Era o que reverberava na mente de Bárbara, como uma  indagação pulsante.

No quarto dia, depois de pôr as lágrimas e o que sentia para fora, sentia se leve, mas não menos angustiada. Passou os dias no hospital olhando pela janela do quarto. Refletia sobre tudo e o mais importante: tentava de alguma forma se obrigar a recobrar a consciência. Ainda que o esforço lhe causasse dores de cabeça. A tristeza estava presente na maioria das vezes, e a vontade de sumir também.

Thiago não apareceu no hospital em nenhum dos dias em que Bárbara esteve internada. E ela não sabia se ficava aliviada ou preocupada, já que sem ele por ali, também ficava sem notícias da filha. Por duas vezes ela tentou alguma informação sobre Júlia com os brutamontes que revezavam sua guarda, mas eles teimavam em não lhe dirigir a palavra. Pareciam tratá-la como invisível. E nenhuma das pessoas que entravam no quarto para cuidar de sua saúde pareciam achar isto anormal.

Bárbara pensava em Júlia a todo momento. Apesar do corpo presente seus pensamentos iam longe imaginando a filha e o que estaria fazendo.

 Apesar do corpo presente seus pensamentos iam longe imaginando a filha e o que estaria fazendo

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A Dama Sem Nome: Um Romance da Máfia- NOVA VERSÃO 2023Where stories live. Discover now