▸Capítulo 8

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O pai da criança não compareceu, e isso pareceu atacar sua ansiedade de uma maneira completamente estranha e inabitual.

Taehyung tentou manter a compostura, ouvindo sobre as coisas horríveis que aquela mãe desnaturada estava dizendo e pensando que se ele tivesse Sori no colo nesse momento, ia proteger seus ouvidinhos de tanto besteirol. Ela estava falando que Seo Joon podia muito bem aprender sobre o problema que tinha quando crescer, que ele podia descobrir sozinho para evitar "chororô". Que ela e o Sr. Jeon trabalham e não tinham tempo para esse tipo de coisa.

Se Tae pudesse, ele abdicaria do trabalho por um chororô de Sori.

Ele repentinamente se sentiu fora do lugar dentro daquela escola, ouvindo aquela voz irritante. Ele tinha com ele o sentimento de que não se encaixava ali, e por uma fração de segundo ele desejava sair e largá-la falando as abobrinhas sozinha. Mas ele juntou as pernas, colocou as duas mãos nas coxas e a escutou (im)pacientemente, tentando absorver apenas o que fazia algum sentido.

— Tudo bem, tudo bem. - Ele preferiu dizer, fazendo um sinal com as mãos de que ela não precisava mais se justificar. Às vezes Tae se pegava fazendo coisas rudes sem pensar no porquê, mas pela primeira vez em muitos anos, ele não estava se importando mais. - Eu entendo. Então vamos deixar assim por enquanto...

Ela assentiu satisfeita, levantando da cadeira com um sorrisinho. Esticou a mão fina para Tae, que apertou de volta sem entusiasmo. Ela só podia ser cega, porque seu sorriso branco não sumia.

— Pode me acompanhar até lá fora? São muitos corredores.

E ele apenas concordou.

~


Ela deixou Tae no portão da escola e caminhou para o outro lado da rua, na direção de um Honda Civic azul marinho brilhante. A janela do passageiro baixou, revelando um homem de cabelo moreno e nariz familiar. Ele estava de óculos escuros, mas Taehyung conhecia aqueles lábios, e ele se odiava por lembrar vividamente da aparência e do gosto dele.

E como ele era bonito.

Jungkook não parece ter visto o Kim, e quando a mãe de Seo Joon entrou no automóvel, ele saiu cantando pneus.

Jungkook era casado.

Se tinha alguma maneira de Taehyung se sentir no fundo do poço, era essa mesmo. O dia não podia piorar mais para a sua auto-estima.

~


Taehyung sentou na cama e aproveitou o barulho da rua às sete da noite. Freio, buzinas, motores. Ele morava perto do centro, e embora estivesse alguns andares acima do chão, escutava tudo muito bem. Bem até demais.

Ele olhou ao redor e desconheceu o seu quarto, antes sinônimo de conquista. Ele sempre almejou sua casa, seu marido, seus filhos. Sua família e seu cantinho, porque não gostava da casa que morou com os pais. Ela não representava segurança.

Sentia um vazio imenso ao observar o breu daquele cômodo que outrora era tão iluminado, o quanto hoje era preto e branco. Ele nunca parou para pensar que era tão sozinho.

Que depois de Jackson, ele nunca mais viu Jimin, Yoongi, Hoseok, Namjoon, Seokjin, Sunny ou Ha-Na. Que depois de Sori, ele sequer lembrava que tinha melhores amigos desde o ensino médio. Que ele depositou toda a sua fé num casamento, e esqueceu que tudo tem um fim e que depois ele precisa depositar fé em outras coisas.

Ele não tem mais a fé.

Ele não tinha suporte algum para superar as dores mais dantescas que uma mãe pode passar, e honestamente, ele não sabia como estava vivo até agora sem ninguém.

Era uma vergonha.

Um sentimento de insuficiência, ingratidão, desprezo, abandono... Tudo da parte dele, tudo que ele propagou. Ele afastou os amigos por uma família ideal. Ele não aproveitou os dias com a mãe porque estava muito ocupado namorando durante a adolescência toda. Ele não viu mais o pai e sequer sabe do seu paradeiro desde a morte do seu filho.

Ele se sentia um bosta. Um homem que não respeitava as coisas que tinha, e por isso elas eram tiradas dele.

Um traidor, que estava carente e caiu na cama com um cara casado, um cara qualquer. Tudo na sua vida parecia horrível agora, sob essas perspectivas sombrias e frívolas. Nada estava no lugar. As coisas estão se movendo bruscamente e ele estava parado, sem entender. Vez ou outra sendo carregado.

Taehyung fungou, tentando encontrar as forças necessárias para, como sempre, ignorar. Fingir. Limpando as lágrimas grossas, ele voltou a vestir os sapatos e decidiu ir ver o seu pai, quem sabe ter uma conversa sóbria em algum café.

~


O quarto dos seus pais estava aceso, mas todo o resto permanecia apagado. Taehyung desceu do carro devagar, parecendo uma lesma. Ele se sentia drenado e não estava notando isso até agora.

Ele abriu a porta devagar, chamando o nome do pai bem baixinho. Ele tinha medo. Medo do escuro da casa dos pais.

Mas tudo estava no seu devido lugar, e aquilo o deu coragem para desbravar os cômodos enquanto telefonava para seu pai.

— Papai? - perguntou. Abriu o banheiro do térreo segurando o celular longe do rosto - estava no alto falante, mas nada. Desistiu de procurar no piso inferior e decidiu ir no quarto, subindo as escadas de dois em dois degraus. - Pai?

Então ele escutou.

Um "mmmmmm".

Como se alguém tivesse com a boca tapada por uma fita.

Então um "filho" meio esganiçado, meio abafado.

Tae correu, quase tropeçando no corpo do Sr. Kim na porta do banheiro ao lado do quarto.

— Pai! - Se abaixou, apenas a luz do quarto iluminando o corredor.

— Eu não consigo levantar. - Seu pai estava chorando, e Taehyung começou a chorar também. Inutilmente, ele tentava pensar em alguma coisa enquanto dava a sua mão para a mão gelada do homem para passar algum alívio.

— O que aconteceu? - Perguntou aos prantos, quase superando o choro fanho do Kim mais velho.

— Eu caí. Eu não bebi, eu juro. - Contou, apertando os dedos do filho com frouxidão. Taehyung não acreditava nisso, porque o bafo de álcool dizia outra história.

O cheiro de vômito sugeria outra coisa.

— Eu vou- Eu vou chamar a ambulância!

E seu pai não protestou. Ele não protestou e Tae sabia que era grave. Quando se levantou e acendeu a luz do corredor, sacando o celular imediatamente, foi que ele viu o sangue, o vômito puramente líquido e a dentadura jogada longe.

Forças. Era mais disso que ele precisava, um pouco mais. Mesmo que estivesse tonto, fraco de fome e com vontade de vomitar duas vezes mais do que aquela nojeira.

Só um pouco mais. Qualquer fé, que ele estava tirando de Deus sabe onde.






N/A: Calminha aí que na próxima tem o famoso Jao! O capítulo que vem também é mais longo, tentarei postar até semana que vem porque ele tem um pedaço pronto. <3

Me aguardem!

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